quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Reinaldo Azevedo comenta passo a passo o "discurso" de Sarney

O golpista que resistiu
Sarney, definitivamente, é um péssimo biógrafo de si mesmo. Golpista de primeira hora em 1964, acaba de se colocar como um resistente — discursou, diz, contra a cassação de deputados. E chegou a dizer que correu riscos.

Ataque à “mídia”
Agora Sarney transita no terreno batido pelo petismo: tudo não passa de uma espécie de conspiração da mídia — que, segundo ele, não lhe concedeu o devido direito de resposta. Nem parece que é o senador que, por meio do seu filho, conseguiu censurar a imprensa.

Tática antiga: negar com ênfase uma mentira
Sarney acaba de contar o oposto da verdade em seu discurso: diz que a imprensa afirmou para o país inteiro que ele é o responsável por todos os atos secretos. E negou a coisa com veemência. NEGA UMA MENTIRA.

Ninguém nunca afirmou que todos os atos secretos pertencem às suas três gestões! Não!

Os fatos:
- a cúpula administrativa do Senado que responde pelos atos secretos é composta por aliados seus;

- ele e familiares foram, porque foram, beneficiados por atos secretos.

Sarney, o neto e o banco
Claro, claro, Sarney é inocente como as flores. Esperava-se que dissesse isso. Mas cinismo deveria ter limites. Neste momento, fala sobre um de seus netos, José Adriano Cordeiro Sarney, aquele que tem uma empresa que intermediava empréstimo consignado no Senado.

O que faz o gigante José Sarney? Prova que seu neto jamais teve vínculo formal com o Senado, outra acusação que ninguém nunca fez. Um dos bancos que opera na casa é o HSBC — que ele chama de “HSBD”. E diz sobranceiro: “Meu neto tinha vínculos com a HSBD”. Ah, agora entendi… Se é assim, então tá bom!

A neta, o namorado da neta e o nepotismo
Outro grande momento de José Sarney foi negar a prática de nepotismo no episódio em que atuou para arrumar emprego para o namorado da neta. Afinal, disse, favor “a uma neta não se nega”. Entendi. É mesmo um gigante da lógica!

E se indignou com o fato de a história ter vindo a público numa gravação. Chamou o procedimento de ilegal e afirmou tratar-se de um assunto familiar — e a câmera da TV Senado deu um close em Collor, que concordava com a cabeça.

É… Emprego público para o namorado da neta, sem dúvida, é assunto familiar.

Sarney, a “vanguarda do atraso”
De todas as bobagens ditas por José Sarney, há uma que nada tem a ver com as acusações etc e tal. Segundo Sarney, o Plano Cruzado está na raiz do Plano Real. Como é que é?

Pode até ser, né? O Cruzado ensinou tudo o que não deveria ser feito. Inclusive congelamento de preços, do qual o senador, segundo entendi, se orgulha ainda hoje.

Quem deu a melhor definição do então presidente da República José Sarney foi Fernando Lyra, seu ministro da Justiça: “É a vanguarda do atraso”.

Fonte: Blog Reinaldo Azevedo


Íntegra do discurso de Sarney
Clique aqui:

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/documentos/leia-a-integra-do-discurso-de-sarney/

11 comentários:

  1. Carlos: do mesmo modo que o Paulo Henrique Amorim é parte, ainda mais o Reinaldo Azevedo o é e a sua Veja. E agora como fica a nossa reflexão verdadeira? Então política não existe?

    abraços

    José do Vale

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  2. Eis o anunciado caso do fracassado Plano Cruzado (um nome terrível...) para mostrar a incompetência clássica de um um governo terrível, porque não pode ser esquecível. (Fora Sarney, desde 1958).

    Tchau Sarney e de lambuja Collor, Renan Calheiros e LULA ( E DILMA). e Duque (suplente do suplente), uelinton salgado, siba (esse já foi), inácio arruda e OUTRAS CATERVAS!

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  3. Rapaz, esse Reinaldo Azevedo é a cara de um professor da URCA. Até as roupas e um chapéu!!!

    Será que ele se disfarça por aqui, ou é um professor que trabalha lá na VEJA (a maior revista norte-americana de língua portugesa)?

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  4. Darlan,

    Você também é a cara de um goleiro que já jogou no Flamengo (para o seu desgosto, que é vascaíno). Sabe quem é?

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  5. Azar meu, rsrs. Mas o Reinaldo parece um colega nosso lá da URCA, rs.

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  6. Carlos sempre ficarei órfão de futuro toda vez que nossa conversa terminar em apenas na contabilidade de quem somos a favor ou contra. Afinal o nosso arco político é muito mais rico em possibilidades e contradições.

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  7. José do Vale,

    Com certeza. E devemos, sim, louvar e preservar essa diversidade. Às vezes, passamos da dose prescrita. Mas sempre quando isso acontece, nós mesmos pagamos por isso. Devemos manter o ambiente sempre respirável, jogando os dejetos na latrina apropriada. Afinal, política, no sentido lato, é o espaço público, que é de todos. Como diz um infame trocadilho: não faça na vida pública o que você faz na privada.

    Confirme no meu e-mail, o seu endereço. Tenho uma cópia de um filme sobre o Crato, de autoria de uma colega da URCA, que reune depoimentos de várias pessoas, de tendências diversas (eu, Salatiel, José Flávio, Padre Rocildo, Roberto Marques, João do Crato etc), que eu gostaria de lhe mandar.

    Sempre com respeito,

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  8. Darlan,

    O goleiro de que falo, joga hoje na Internazionale e é titular absoluta da canarinho.

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  9. Oh, não. Esse não, rsrs. Eu já dei muita vaia para ele, sempre entrei no Maracanã pela rampa da UERJ.
    Azar mesmo.

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  10. Ironia do destino. Agora, sendo ele o goleiro da seleção brasileira, você deve torcer por ele e o aplaudir a cada defesa que ele faz para salvar a cidadela...

    E desculpe-me a metáfora, do tipo que presidente lula gosta de fazer (comparando política e futebol), muitos esquerdistas torcem hoje para o Sarney, Collor, Renan, Jader Barbalho e outros que num passado bem recente foram vaiados e enxotados por eles.

    São as conveniências da vida...

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