domingo, 9 de agosto de 2009

Onze e vinte e três

Aquele homem
Que atravessa a faixa de pedestre
Tem um espelho fixado na alma

Ele atravessa o tempo
Sondando o que permanece
E se consterna com a não existência

Os carros resfolegam
Repousando a compactação dos ferros
Sobre a ambigüidade do asfalto

Dos seus bolsos caem
Todas as letras do alfabeto e outras
Inventadas ainda na grande noite

Como rastros elas
Procriam esfinges que procriam
Enigmas que procriam disjunções

Ele vai descer a São Pedro
Vai subir a São Francisco e pegar a
Todos os Santos e vai chegar aos céus

Lá ele dirá que
O seu maior pecado foi sentir prazer
Vendo sua mulher em sodomia com outro

Lá ele receberá
Como fardo ordenhar as locomotivas
E decifrar a profecia dos trilhos

Eis que ele passa
Carregado de reflexos e fuligens
Arando a sua prematura inocência

6 comentários:

  1. Marcos, que prazer ler tua poesia tão burilada.

    Com afeto,marta.

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  2. "ordenhar as locomotivas
    E decifrar a profecia dos trilhos"

    Meu camarada e meu irmão,
    um forte abraço.

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  3. Lindos versos Marcos. O tempo que passa sem pisar por aqui evoca um silêncio de tua personalidade poética, que por sinal nos faz tanta falta.
    Abraços poeta!

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  4. Valeu, Marta,

    agradeço o comentário ao mesmo tempo que sinto mais forte para a próxima.

    abraços

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  5. Domingos,grande poeta,

    a poesia é responsável por muitas coisas em nossas vidas, meu irmão.

    abraços

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  6. Sávio, poeta da intimidade,

    agradeço muito a sua generosidade, estamos no front sempre.

    abraços

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