terça-feira, 4 de agosto de 2009

Teses sobre a arte contemporânea - por Alain Badiou

Esta tradução foi publicada no site www.culturaebarbarie.org/sopro. Não se trata de uma leitura fácil. Especialmente pela natureza em tópicos, quando muitos conceitos, circunstâncias e contextos do debate sobre artes não ficam tão claros como se necessita. No entanto achei por bem publicá-lo, pois esta questão tem sido central no Cariricult. Se animar alguns, poderíamos interpretar melhor cada tópico para os nossos leitores. Esperarei.

1. A arte não é a descida sublime do infinito à baixeza finita do corpo e do sexo. É, ao contrário, a produção de uma série subjetiva infinita, pelo meio finito de uma subtração material.

2. A arte não poderia ser expressão da particularidade, seja étnica ou egóica. Ela é a produção impessoal de uma verdade que se endereça a todos.

3. A verdade da qual a arte é o processo é sempre verdade do sensível, enquanto sensível. O que quer dizer: transformação do sensível em evento de idéia.

4. Há necessariamente pluradidade de artes, e, sema quais forem as intersecções imagináveis, nenhuma totalização dessa pluralidade é imaginável.

5. Toda arte adveio de uma forma impura, e a purificação desta impureza compõe a história, tanto da verdade artística, quanto de sua extenuação.

6. Os sujeitos de uma verdade artística são as obras que a compõem.

7. Esta composição é uma configuração infinita, que, no contexto artístico do momento, é uma totalidade genérica.

8. O real da arte é a impureza ideal como processo imanente de sua purificação. Em outras palavras: a arte tem como material primeiro a contingência evental de uma forma. A arte é a formalização segunda da vinda de uma forma como informe.

9. A única máxima da arte contemporânea é não ser imperial. O que também quer dizer que ela não deve ser democrática, se democrática significar conformidade à idéia imperial da liberdade política.

10. Uma arte imperial é necessariamente uma arte abstrata, no seguinte sentido: ela se abstrai de toda particularidade, e formaliza esse gesto de abstração.

11. A abstração da arte não imperial não considera nenhum público em particular. A arte não imperial está ligada a um aristocratismo proletário: ela faz o que diz, e sem acepção das pessoas.

12. A arte não imperial dever ser tão solidamente concatenada quanto uma demonstração matemática, tão surpreendente quanto uma ataque noturno e tão elevada quanto uma estrela.

13. A arte se faz hoje somente a partir do que, para o império, não existe. A arte constrói abstratamente a visibilidade dessa inexistência. É ao que conduz, em todas as artes, o princípio formal: a capacidade de tornar visível para todos o que, para o império, e também para todos, mas de um outro ponto de vista, não existe.

14. Convencido de controlar a superfície inteira do visível e do audível pelas leis comerciais da circulação e pelas leis democráticas da comunicação, o Império não censura mais nada. Abandonar-se a essa autorização de gozar é ruína de toda arte, como de todo pensamento. Devemos ser impiedosamente nossos próprios censores.

15. Mais vale não fazer do que trabalhar formalmente em favor da visibilidade daquilo que, para o Império, existe.

Tradução: Leonardo D`Àvila de Oliveira

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