quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O melhor discurso eleitoral para o ano que vem.

Por José do Vale Pinheiro Feitosa
A internet é o espaço livre da informação, da manipulação e da contradição. Se não tivermos o pulso do que lemos, cairemos facilmente naquele diálogo das tias falando de carestia: não sei quem me disse, que não sei onde, estão vendendo não sei o quê por não sei quanto! Menina e onde vamos parar com esta carestia?

As tias não precisavam de dados, a carestia em si era um dado posto e estava acabada a história. Não sei quantas vezes nos chega do mais profundo sentimento conservador e de algumas vozes ultra liberais e-mails apontando o dedo duro para os nordestinos produtores de vida. Se não os nordestinos e os favelados.

Há semana recebi de um paulista eleitor do Alckmin um longo texto contra o Serra considerado “estatizante” tanto quanto o Lula e advogando o fim de toda proteção social e deixando o território livre ao mercado. Um dos argumentos: os nordestinos continuam inundando o mundo de filhos. Parem com os programas sociais para que não continuem fornicando e gerando cabeças chatas.

Era uma alma carcomida. Sem luzes. Cheia de teias de aranha. A fertilidade brasileira há muito que mudou. E mudou numa escala sem precedente no mundo. Nenhum país na história da humanidade reduziu tão rapidamente a fecundidade quanto o Brasil. Isso ocorreu por uma série de fatores inclusive pela urbanização, pela existência de uma previdência social e de um sistema público de saúde de natureza universal.

Estudo recente do IBGE mostra uma redução na taxa de fecundidade em todas as idades entre 1980 e 2006, até mesmo no grupo etário que passou a ser preocupação do SUS: a gravidez na adolescência, entre 15 e 19 anos. Na idade mais fértil (25 e 29 anos) a redução na taxa foi de 0,25% para 0,10 %.

A redução no número de nascimento continua mesmo nos anos mais recentes. Entre 2000 e 2006, o número de nascidos vivos passou de 3,2 milhões para 2,9 milhões. Á exceção da região norte esta redução ocorreu em todas as regiões do país, inclusive no nordeste.

O debate no país precisa efetivamente mudar de qualidade. Acrescentar mais perspectiva de aceleração das melhorias e menos “auto-imagem de vira-lata”. A rigor a democracia fez bem ao país, a Constituição permitiu uma sociedade melhor, a vida e as políticas de transformação avançam na redução de desigualdades regionais e entre as classes sociais.

A título de resumo apenas citando os tópicos do estudo do IBGE: 1) as desigualdades regionais na mortalidade reduziram muito entre 1960 e 2005; 2) a diferença na esperança de vida entre os sexos acentuou-se muito nos anos 80 (mulheres vivem mais); reduziram-se as diferenças de fecundidade entre as mulheres de menor idade e da maior escolaridade (o planejamento familiar atingiu mulheres de menor escolaridade); doenças crônicas atingem 75,5% dos idosos (mais inovação em medicamentos e melhor acesso); os idosos do nordeste têm menor mobilidade (incapacidade funcional e isso pode se associar com a urbanização); aumentou a proporção de mães que realizaram o exame de pré-natal; mortalidade infantil mantém a trajetória de queda; o número de equipamentos para imagem cresce com maior intensidade no setor público e assim por diante. Quem tiver interesse no estudo abaixo segue o endereço:

hhtp://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1445&id_pagina=1

Que algum desavisado não tome isso apenas como propaganda do situacionismo. Ao contrário, não se pode é negar as evidências de melhoria e os avanços nos últimos anos. E ao não se fazer isso cada um que convença a sociedade que tem o melhor projeto para aceleração de tais melhorias.

Um comentário:

  1. Esse desprezo pelos seres humanos em geral e pelos nordestinos em particular é tão revoltante.
    Nefasto um pensamento que culpa os pobres pela pobreza e destila tanto veneno como o desse advogado que você citou em seu texto.
    A luta continua.

    ResponderExcluir