sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Servos

Não se preocupem com a lucidez
que me pega pelos dedos.

Temos muito a caminhar.
Agora o crepúsculo baixou de vez.

Sinto falta do papel
outrora amarelado
sem pauta.

Os dedos mais vândalos
apertavam a caneta sem pena.

Espremiam versos mancos.

Tais versos trôpegos
desfilavam altivos sobre a folha.

Quanta saudades do papel de embrulhar pães.
A última salvação quando todos os cadernos riscados.

O cúmulo de fato naquele dia
em que a lixeira do banheiro
ofereceu sua alma ao solitário poeta.

Escrevi feito louco
separando as palavras
do sólido excremento.

[Quem na infância
percorreu um corredor escuro
sabe que as paredes sem aviso
atravessam-nos o caminho]

Assim eram os meus dedos
sensíveis e atentos
escrevendo nos papéis
da lixeira do banheiro.

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