Não se preocupem com a lucidez
que me pega pelos dedos.
Temos muito a caminhar.
Agora o crepúsculo baixou de vez.
Sinto falta do papel
outrora amarelado
sem pauta.
Os dedos mais vândalos
apertavam a caneta sem pena.
Espremiam versos mancos.
Tais versos trôpegos
desfilavam altivos sobre a folha.
Quanta saudades do papel de embrulhar pães.
A última salvação quando todos os cadernos riscados.
O cúmulo de fato naquele dia
em que a lixeira do banheiro
ofereceu sua alma ao solitário poeta.
Escrevi feito louco
separando as palavras
do sólido excremento.
[Quem na infância
percorreu um corredor escuro
sabe que as paredes sem aviso
atravessam-nos o caminho]
Assim eram os meus dedos
sensíveis e atentos
escrevendo nos papéis
da lixeira do banheiro.
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