segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Crato nasceu do carisma de São Francisco – por Armando Lopes Rafael


Em 1641 (para alguns historiadores) ou 1642 (para outros), alguns frades franciscanos, foram aprisionados pelos calvinistas holandeses – na costa da Guiné, próximo à África – e levados para Pernambuco. Ali, foram entregues a Maurício de Nassau, governador do Brasil holandês.
Esses filhos de São Francisco conduziam uma pequena imagem de Nossa Senhora da Penha – confeccionada na França – que permaneceu em Recife de 1642 a 1745, quando foi enviada à Missão do Miranda (atual cidade de Crato) onde pontificou como padroeira dos cratenses até 1938.

Abaixo, dois textos do livro “Capuchinhos em terra de Santa Cruz nos séculos XVII, XVIII e XIX, de autoria de Frei Fidelis Maria de Primério, O.F.M.CAP, editado em 1940, que comprovam nossa afirmação acima:

“A versão geral acerca dessa prodigiosa imagem, é que ela foi trazida para Pernambuco por cinco missionários capuchinhos, que se dirigiam para Guiné e foram, no litoral africano em 1641, atacados e presos pelos corsários holandeses, calvinistas que infestavam aquelas águas. Os missionários foram mui maltratados pelos corsários e por fim entregues aos holandeses que dominavam Pernambuco.

Esta tradição geral, que bem desposa com a história dos novos missionários, apresados nos galeões espanhóis, quando rumavam para a Guiné, explica-se facilmente porque os missionários puderam conservar consigo o precioso tesouro, que intentavam levar às tribos africanas, qual estrela de salvação, e ao invés veio para terras pernambucanas. Os corsários holandeses apresavam para levar à sede, Pernambuco: o interesse exigia-lhes que respeitassem a presa, ainda que não condissesse com suas crenças”.

“A preciosa imagem de Nossa Senhora da Penha, que fora respeitada pelos próprios hereges, tornou-se a santa de preferência do povo pernambucano, que lhe ergueu um majestoso templo. O culto da mesma Senhora fez com que se obliterasse o título da Capela que a acolheu em 1641, a qual estava dedicada ao Divino Espírito Santo, e que passou a chamar-se “capela” e depois “igreja da Penha”. A pequena imagem dos franceses foi em 1745, por Frei Carlos de Spezia substituída pela atual, feita em Gênova, modelada pela antiga”. (página 51)

Corroborando as citações acima, em artigo publicado na Revista Dom Vital (nº. de agosto/setembro de 1955) sob título “Resumo Histórico”, páginas 7/8, consta ali:

“Em 1733, o Prefeito da Missão Frei Boaventura de Pontremoli ampliou a antiga capela, resolvendo seu sucessor Frei Carlos José de Spezia, em 1745, substituir a vetusta imagem dos franceses por uma nova estátua, feita em Gênova pelo escultor Maragnoni que a modelou artisticamente sobre a primitiva, logo depois enviada para a Missão do Miranda no Crato” (grifo meu).

Crato nasceu do ideal franciscano

Os historiadores são unânimes em reconhecer que, antes de 1740, já possuía o Vale do Cariri certa densidade demográfica, embora não existisse ainda nenhum aldeamento ou povoado considerável. Por volta de 1741, surgem os primeiros registros de um aldeamento dos índios Cariús, pertencentes ao grupo silvícola Cariri. Era a Missão do Miranda, fundada por Frei Carlos Maria de Ferrara, religioso franciscano, nascido na Itália. Este frade ergueu, no centro da Missão, uma humilde capelinha de taipa (paredes feitas de barro) coberta com folhas de palmeiras, árvores abundantes na região. O santuário foi dedicado, de maneira especial, a Nossa Senhora da Penha, a São Fidelis de Sigmaringa e à Santíssima Trindade.

Em volta da capelinha, ficavam as palhoças dos índios. Estes, além de cuidarem das plantações rudimentares, recebiam os incipientes ensinamentos da fé católica, ministrados por Frei Carlos. Aos poucos, nas imediações da Missão, elementos brancos foram construindo suas casas. Era o início da atual cidade do Crato.

Referências bibliográficas

ARAÚJO, Padre Antônio Gomes. A Cidade de Frei Carlos. Crato (CE): Faculdade de Filosofia do Crato, 1971.

LÓSSIO, Rubens Gondim. Artigo “Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira do Crato” in revista “Itaytera”, ano VI, nº. VI, órgão do Instituto Cultural do Cariri. Tipografia A Ação, Crato (CE) 1961, páginas 49 a 51.

Texto:Armando Lopes Rafael

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