sexta-feira, 5 de março de 2010

Comoção

Recolha-se, poeta.
Volte a minutos atrás.

Lembre-se da cria
órfão de mãe
cego

caiu do telhado
feito manga madura.

Uma queda triste.
Calaram-se os gemidos.

Perguntei qual o destino
da gata tão fecunda.

Disseram-me sorrindo:
"deram um sumiço na bicha."

Cruéis, impiedosos.
Não pensaram nos gatinhos.
Presos ao cordão umbilical todos.

Uma alma caridosa,
o mais cínico,
agachado fazia carinho

e a conta-gotas dava leite
aos tenros sobreviventes.

Tanta candura é felicidade
ao homem outrora monstro.

Somente ele,
o Corcunda,
o Diabo de Fausto,
amamentava os filhotes:

agradecidos,
não largavam
dos seus dedos.

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