quinta-feira, 3 de junho de 2010

Para uma cidade como se fosse uma mulher

Agora meu rosto tem as marcas
de dias de aço na distância,
desconfio que não convém
cair em teus braços,
eu que me ocultei em outras ruas,
e não ouviste minha voz
embargada em meio aos motores,
nesta terra com que luto
para te esquecer

De que adiantaria
apresentar meu sorriso
quando mal sabemos se ainda há tempo
para o amor
se ainda há amor
na raiz das lembranças
se há palavras possíveis
para apagar a outra face do amor,
para que me perdoes a fuga
que preparaste para mim

Tenho medo da morte
que há de romper nossos vivos laços
num sono profundo agora

Tudo o que mudou em nós
não apagou o que foi,
os teus poderes latejando em mim
grávido de sonhos
tua imagem gravada nos meus dias,
uma sucessão de enganos

De que valeu me tornar poeta,
senão para apagar o fogo
do que me consome quando foge?

E o que foge de mim
senão tuas imagens em que me afogo
e me salvo carente de afagos,
depois nos edifícios onde é difícil
não ser mais do que uma figura
triste nos corredores
preenchidos de silêncio

É melhor que não me esperes,
agora que estou do outro lado do espelho






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