segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Imediações da paciência - Emerson Monteiro

Diz-se que a pessoa tem pavio curto quando, com facilidade, deixa disparar o instinto agressivo, pondo pés no lugar das mãos, ao menor estímulo. Por motivo dos mais insignificantes, chuta o pau da barraca, na linguagem popular. Muitos fazem disso profissão, ganham no grito situações as quais bem poderiam conduzir do jeito amistoso, com educação, aproveitando as chances que surgem, toda hora, de criar relacionamentos produtivos, e construir lugar melhor de viver entre habitantes deste mundo nem sempre tão fácil de atravessar.
Há, entretanto, diversos amigos que contribuem nesse trabalho de aperfeiçoar o trato com os demais moradores das imediações da virtude, no âmbito social e consigo mesmo, nas criaturas humanas. Um deles, a valiosa paciência.
Quanto maior o uso da paciência, melhor o seu desempenho, semelhante ao amaciamento das máquinas e dos sapatos. Paciência não esgota, ao contrário de quem perde as estribeiras e quer se justificar. Pois ela pertencer à qualidade interna dessa virtude, a capacidade para ser inesgotável. Se não, caso esgotasse, perderia sua característica principal e viraria outro estado de espírito, fraco e descartável.
Bom, perto da paciência, nas imediações, residem alguns valores apreciáveis pela riqueza que transmitem aos que deles lançam mão. A esperança, por exemplo, uma dessas personagens da infinita misericórdia, parceira valente dos instantes de aflição. A feliz esperança, mãe bondosa das preciosas noites de sono dos aperreados, passageiros das agonias desse chão quente de travessias escuras. A que jamais esquece e nunca morre, apesar dos que dizem que morreria por último, conversa de quem a desconhece. Caso assim ocorresse, porém, também perderia sua principal qualidade, invés da rica essência, nutrição dos aflitos.
Uma outra cidadã do bairro onde mora a paciência recebe o nome de fé, palavra pequena de potencial esplendoroso. Ela veio habitar aqui por perto trazendo a energia dos contatos imediatos da divindade, linha aberta de escutar, dentro do coração, os sussurros do Universo. Fé, procedente das florestas virgens da religiosidade, na fibra íntima das emoções puras, moradora inabalável dos edifícios que rodeiam a paciência, que remove montanhas, alimenta famintos da luz verdadeira, mitiga a sede dos desvalidos, clareia passos aos cegos, alegra lares infelizes e transforma pesadelos em sonhos de paz.
No recenseamento dos habitantes desse território onde mora a paciência, na cidade das almas humanas, precisa, ainda, visitar a casa de outros moradores ilustres, o otimismo, sujeito de valor apreciável em qualquer empreendimento, sem esquecer de entrevistar seu irmão mais velho, o senso da realidade, para evitar cair da cama nos excessos de fantasia. Ouvir outro, um senhor entroncado, musculoso, calmo, persistente e simpático, o respeitado professor de nome trabalho, companhia necessária todo tempo, com intervalo só aos finais de semana. E novos e úteis viventes daqui de perto, onde existe a fiel paciência, em tudo por tudo a líder comunitária do sucesso.

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