sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O "exército do Papa" (ou a "máfia santa") - José Nilton Mariano Saraiva

Mesmo não sendo um masoquista, faça um pouquinho de esforço e imagine sua mente sendo monitorada 24 horas por dia; ou você viver em algum lugar onde não lhe seja permitido ver televisão ou ir ao cinema; um lugar onde o jornal já chega editado às suas mãos; ou onde ninguém pode ter amigos do lado de fora e até o contato com a família é restrito. De quebra, pelo menos duas horas por dia, você ter de amarrar um cilício na coxa – espécie de instrumento de tortura com pontas metálicas que machucam a pele. E quanto maior for o seu desconforto, melhor; isso significa que a instituição está exercendo mais controle sobre você. Se doer demais, tudo bem, você tem a opção de trocar de coxa na próxima vez; o importante é que a experiência não passe em branco; tem de apertar com força, machucar bastante, deixar marcas. Caso contrário, não “faz efeito”.
Se tudo isso já parece um pesadelo, ou filme de terror, saiba que ainda não acabou. Uma vez por semana, você terá também de golpear suas nádegas ou suas costas com um chicote. E ainda passará pelo que é chamado de “sinceridade selvagem”: contar aos seus superiores cada pensamento que passa pela sua cabeça, principalmente aqueles segredos mais íntimos, sobre os quais não se comenta nem no banheiro, de porta fechada e luz apagada. Se você não revelar tudo, estará mantendo um “segredo com Satanás”.
Ao contrário do que você possa imaginar as situações descritas acima não ocorrem nos porões de uma ditadura sinistra ou no ritual de alguma seita satânica; de maneira alguma. Elas são rotinas nas residências do Opus Dei, onde vivem os chamados numerários – membros dessa organização religiosa que fazem voto de castidade e estão ali por opção, para “santificar” o mundo. A maioria tem profissão e trabalha normalmente, como outra pessoa qualquer. Mas seus salários vão direto para o Opus. Muitos foram recrutados ainda bem jovens. Mas há também os “super-numerários’. Esses podem casar, ter filhos e viver em suas próprias casas, embora também recorram à penitência física – ou mortificação corporal – como uma forma de controlar instintos pecadores.
Uma das funções secretas desses membros, de acordo com os críticos da organização, seria ocupar posições de liderança na sociedade – um cargo político, de direção de uma grande empresa, na presidência de um banco, na reitoria de uma universidade ou na chefia de um veículo de comunicação. Do alto desses postos de comando, a capacidade de expansão e o poder de influência do Opus Dei estariam assegurados.
O movimento Opus Dei – expressão que em latim que significa “Obra de Deus” – foi fundado pelo sacerdote espanhol Josemaría Escrivá em 1928. Trata-se de uma prelazia pessoal, figura jurídica da Igreja Católica que está prevista no Código de Direito Canônico (a constituição da Igreja). Seu lema: “Seja santo. Santifique-se em seu trabalho. E santifique os outros com seu trabalho”. Ela dá aos seus membros o direito de seguir ordens do prelado (o líder máximo do Opus, que fica em Roma), em vez de obedecer à autoridade católica regional. Simplificando grosseiramente, é como se o grupo fosse um braço independente da Igreja – ultraconservador, totalitário e conspirador - que não deve explicações a mais ninguém, além do papa. Chegou ao Brasil na década de 1950, instalando-se em Marília-SP de onde lançou seus tentáculos para São Paulo, Campinas (SP), São José dos Campos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Londrina (PR) e Porto Alegre (RS). Hoje se espraia pelo país todo, inclusive cidades interioranas. Também conhecida por “máfia santa” ou de “uma Igreja dentro da Igreja”, a Opus Dei conta com poderes excepcionais e muito dinheiro sendo colocado a serviço de um conservadorismo atroz. Em parte, essa fama se deve às estreitas relações que a organização cultivou com o regime fascista do ditador espanhol Francisco Franco, de 1939 a 1975. Seu fundador, Josemaría Escrivá, ouvia as confissões do “generalíssimo”, como Franco era conhecido, e muitos integrantes ou colaboradores do Opus Dei foram nomeados ministros de Estado enquanto durou a ditadura franquista.
Duas situações que mostram a influência que a “Opus Dei” exerce sobre o Vaticano: 1) o processo incrivelmente rápido de canonização de Escrivá – o 2º mais breve na história da Igreja Romana, atrás apenas do de madre Teresa de Calcutá; 2) a proteção, impulsão e eleição de João Paulo II. Com a morte deste e a assunção do ex-integrante da juventude nazista, ex-cardeal Ratzinger e atual papa Bento 16, a Opus Dei continua a manter a preeminência do passado, na condição de um poderoso exército do papa. Aos interessados, mais detalhes poderão ser obtidos no livro e no filme “O Código da Vinci”.

Fonte: Internet

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