terça-feira, 25 de outubro de 2011

A crise no sentido ocidental, ao contrário do chinês, não é de oportunidade, é de desespero e confusão. - José do Vale Pinheiro Feitosa

Existe um movimento na crise econômica mundial que seja comum a todos? Quando falamos em crise do capitalismo, estamos praticamente dizendo isso, mas logo em seguida nos perdemos nos detalhes de cada crise. Afinal a crise americana tem suas nuances próprias, a européia já tem outras, a japonesa igualmente funciona por bandeiras daquele quase continente insular.

Peguemos a crise americana e a européia e tentemos compreender as diferenças. Os Estados Unidos da América são uma federação, mas com um forte Estado Nacional que abafa os gritos de cada ente federado na hora de decidir, com uma única língua e cultura, num Congresso eleito para legislar e fiscalizar o Executivo. A União Européia é uma união de Estados Nacionais, com suas assembléias próprias, várias línguas e culturas diferentes.

Enquanto a União Européia reúne chefes do executivo que, eleitos pelos seus povos, são mais “sensíveis” aos desdobramentos sociais da crise. A verdade é que mesmo os longevos como Berlusconi já apresentam fadiga de material: a “medida fiscal” de aumentar a idade da aposentadoria do italiano para 67 anos é vista pelos aliados dele como a promessa de um linchamento popular. E de fato o europeu está bastante irritado com a situação política e econômica.

Nisso o debate público, mediado pelo que se chamam meios de comunicação, tem sido muito pobre do ponto de vista da análise histórica. Isso não quer dizer que não existam vozes alertando para a real dimensão dos fatos, apenas quer falar desta espécie de carne moída, composta por vários tipos de carnes, que resume a crise aos bancos, às dívidas soberanas, ao dinheiro enfim. Os meios de comunicação estão viciados demais em “Money” e não conseguem contar narrativas, apenas contam moedas.

Como aconteceu em outros momentos as práticas liberais jogaram o povo na desesperança, na violência e na pobreza sem solução. Mesmo que não sejam marchas reivindicatórias, serão marchas de famintos, se arrastando nas cidades e amedrontando quem ainda tem um prato de comida para terminar o dia. A Grécia vive isso, os acampamentos nas praças das grandes cidades experimentam isso, as manifestações traduzem isso, a intolerância e o xenofobismo transportam a cegueira do desespero; assassinatos, golpes e guerra revelarão muito mais.

Normalmente nestes momentos de crueza histórica as vítimas são mais freqüentes que os grandes líderes. No clima do salve-se quem puder mesmo aquelas vozes faustosas do recém apego ao mercado se calarão ou dirão mais bobagens. Todo mundo fala nos banhos de sangue das revoluções, gostam de falar na Francesa, na Russa e na Chinesa e esquecem que elas não se isolam historicamente de crises sociais como estas.

A cada dia surgirão salvadores da pátria, líderes iguais àquela frase de Andy Warhol: a fama de cinco minutos. A crise social inegavelmente redunda em crise política e de liderança. Por isso é quase profético o que analistas como Hobsbawm dizia sobre os efeitos históricos do neoliberalismo. A conta chegou para todos.

A conta histórica para todos suarem sangue é o movimento comum da crise. Eis o denominador comum a dividir as angústias em todas as línguas e credos.

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