quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Fernando Morais falando do seu novo livro envolvendo Cuba e o EUA no Terra Magazine

O Fernando Morais está com uma entrevista no blog do Terra Magazine falando sobre o novo livro dele: Os últimos soldados da guerra fria. O centro da entrevista é o conteúdo do livro, mas termina por fazer uma avaliação do momento atual dos dois lados dos cubanos em luta: os anti-castristas de Miami e o cubanos que vivem Cuda.

Já no final da entrevista lhe é feita uma pergunta que bem traduz o embate na internet dos nossos dias. Ele responde e depois novas perguntas até o final da entrevista. Segue abaixo pois este clima também se encontra entre nós por aqui:


No Brasil, quando a pessoa faz algum tipo de trabalho ou pesquisa sobre Cuba, já corre o risco de levar paulada de 70% das pessoas, principalmente na área da mídia. Como ficou a relação entre Brasil e Cuba, não no plano diplomático, pois os dois países permanecem próximos, mas naquele das mentalidades? Cuba teve uma relação cultural forte com o Brasil. E hoje, como está? Não houve um refluxo?

Acho que o fato da chamada "grande imprensa" ter dado uma radicalizada ideológica muito grande nos últimos anos...

À direita?

Em direção à direita, contribuiu para isso. As pessoas falam de Cuba com raiva. Você vê na televisão, nas revistas, na internet...

A internet piorou isso?

Piorou muito na internet. Virou uma lixeira. Guardadas as exceções. Então, eu acho que essa gente tem um pouco de vergonha de dizer que foi a favor do golpe militar no Brasil, que é de direita, e usa determinados símbolos. Cuba é um deles. Venezuela é outro. Irã é outro. O próprio Kadafi, a Líbia. A Cristina (Kirchner) é tratada como o Eixo do Mal, no deboche, meio desrespeitoso. A sorte é que, na internet, você não precisa de dinheiro pra ter blog. Antigamente, pra montar um jornal, você precisava de uma fortuna. Pra montar uma estação de televisão, uma fortuna. Hoje você compra um notebook nas Casas Bahia, pagando 60 paus por mês, e compra um telefone por 50 reais, e passa a ser seu próprio Roberto Marinho. Se você tiver o que dizer, vai ter audiência. É uma revolução. Eu achava que a democratização dos meios de comunicação eletrônicos ia se dar nas trincheiras, nas barricadas, nas tribunas. E a tecnologia andou mais rápido que as ideologias.

O que foi desfavorável, em certo sentido, para Cuba, porque aí veio uma blogueira como Yoani Sánchez.

Claro! Claro! Olha, isso aí é absolutamente incontrolável. E é bom que seja. Você joga em igualdade de condições. Os chamados "blogueiros sujos" estão no mesmo patamar de audiência dos "limpinhos", dos cheirosos, dos anti-Lula, anti-Dilma, "anti" tudo que cheire a esquerda. O lado ruim disso é a radicalização desrespeitosa, o anonimato.

Você se sente patrulhado?

Você sabe, rapaz, que eu vi um filminho de Chico Buarque, o da internet (sobre comentários anônimos na rede). Fui dar uma entrevista para Jô Soares e, automaticamente, o programa dele foi para a internet. Foi para o YouTube. Rapaaaaaaz, mas que coisa! Tinha gente dizendo o seguinte: "Mas quem é que manda essa bicha sem vergonha entrevistar essa anta comunista? Por que não vão os dois pra Cuba cortar cana, esses filhos da puta?". Assim mesmo: "bicha sem vergonha" e "anta comunista". Claro que era um anônimo, um José de Souza. Isso é muito ruim. Mas é melhor assim do que não ter. E o Chico, naquele filminho, fala uma coisa engraçada: lá vem esse bêbado velho encher o saco! (risos) E ele não bebe nada... Apesar de ter esse lado ruim, prefiro isso a não ter internet ou ter internet controlada pelas grandes telefônicas. A internet é livre.

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