quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Proteção individual e coletiva contra o poder absoluto da mídia corporativa e não corporativa - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vou começar pelo lado da mídia corporativa apresentando um trecho do editorial do jornal O Globo a respeito das últimas eleições argentina: "A reeleição da presidente Cristina Kirchner, com 53,9% dos votos em primeiro turno, foi tão acachapante que a coloca, em termos de poder, em situação similar à de Hugo Chávez em 2005, quando a oposição venezuelana boicotou as eleições e os chavistas ganharam tudo (...)A força política que a presidente ganhou agora, inclusive aumentando as bancadas no Congresso, lhe garante os instrumentos para aprofundar o modelo kirchnerista, caracterizado por autoritarismo, concentração do poder, protecionismo comercial (péssimo para o Brasil), intervenção na economia e ataque sem trégua à imprensa profissional e independente. A ideia é que haja apenas a versão oficial dos fatos".

Qual a idéia por trás deste texto? Que todo poder numa democracia necessita de contrabalanços para reduzir a força deletéria do poder apenas pelo poder. O poder total seria antidemocrático por que extrai substância da sociedade e concentra todas as decisões no núcleo do poder. Para que a sociedade, diga-se sociedade no sentido demográfico, ou seja, todos mesmo, tenha substância é preciso que ela se seja detentora de mecanismos para se contrapor ao núcleo de poder.

Onde o editorial do Globo zera o problema? O “pau que dá em Chico dá em Francisco”. A mídia corporativa na Argentina e especialmente no Brasil é nucleada por famílias tradicionais. No Brasil apenas quatro famílias: Civita, Marinho, Frias e Mesquita (esta dependente de bancos). Estas famílias detentoras de revistas, jornais, televisões, editoras, controle de papéis, telecomunicações, entre outras empresas, formam exatamente aquilo que se queixa na política: o poder pelo poder.

É preciso um contrabalanço para este poder absolutista. E não venham com papo de mercado, do tipo o leitor é quem decide, cai na vala comum dos eleitores, afinal Chávez e Cristina são frutos de eleições livres. Se queremos um debate que saia deste fla x flu ideológico cheirando à “guerra fria”, passemos a olhar para o olho do furacão do poder do mando e desmando. Não todo ele na mídia, compreendam bem, mas ela como parte certamente.

É preciso proteger o cidadão do “julgo da notícia”, do jornalismo declaratório, do jornalismo amigo do submundo com o objetivo de constranger pessoas e governos. Não sei o que se pensa do policial de Brasília que investiu contra Orlando Silva: apresentou um atestado falso de saúde para não comparecer à polícia federal enquanto sentava-se, para escárnio de todos e do Estado, na companhia de políticos oposicionista e agora, quando a oposição o convida para uma audiência na câmara, ele aceita e depois não comparece por que o objetivo de derrubar o ministro já estava concretizado.

Na semana passada um cidadão, exposto pelo jornal a Folha de São Paulo, com enormes prejuízos pessoais, inclusive financeiros, apenas conseguiu, na justiça, o direito de resposta treze anos após. O jornal com seu núcleo de poder pelo poder lhe negou este tempo todo o que afinal era um direito enfim reconhecido pela justiça. O mesmo jornal não compareceu a uma audiência da câmara federal para se posicionar contra a perseguição a um blog que satirizava o jornal.

Por isso o contrabalanço é necessários e, claro, o combate firme e consciente contra todo tipo de manipulação do poder pelo poder.

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