quinta-feira, 8 de março de 2012

A mulher e seu dia internacional - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não se fala no dia da mulher essencialmente pelo gênero. Não falamos de todas as propriedades biológicas comuns às mulheres. O dia da mulher é para lembrar o seu papel social e cultural. Ele se constitui numa forma de “libertar” a mulher para o trabalho. Geradora de expansão econômica num modelo de economia que se baseia no contínuo crescimento de consumidores e por consequência no avanço do lucro auferido pela inversão de capital.

Isso é o que ele mais se caracteriza nos dias de hoje, especialmente para as mulheres de classe média. Mas as origens do Dia Mundial da Mulher estão na luta de mulheres operárias, que eram esmagadas no trabalho do final do século XIX para o início do século XX como toda a classe operária sempre foi. Então neste momento a mulher cumpria um papel de revisão geral do trabalho e não apenas de sua condição de gênero.

Dizer que as mulheres são um sonho, uma flor, uma luz, um perfume é como encantá-las diante da vida. Mas o dia da Mulher é a quebra do encanto, das formas opressoras que sobre elas recaem, mas, sobretudo dos modos como a civilização que mais liberdade deu para a inventividade é justamente aquela que mais busca, numa cadeia parasitária, o lucro sobre a realização do outro.

E digamos assim: o modo atual de exploração do homem pelo homem não tem gênero, aliás, ele até precisa quebrar o machismo como modo de expansão de lucro. Do mesmo modo a expansão capitalista que aconteceu territorialmente, de um continente para outro, precisa continuar crescendo em lucro, de uma classe para outra, dentro da família mesmo que a destrua, e na tecnologia como a biotecnologia quando todos pagarão pedágio para sobreviver mais alguns anos.

Ao liberar a força de trabalho da mulher, fragmentando a renda e a família, o capitalismo não tem comichões morais com a criação de filhos e menos ainda com a proteção dos mesmos. As creches, as escolas, os balés, as piscinas, as línguas estrangeiras, a televisão e a internet são o substituto para a presença feminina, especialmente materna, no desenvolvimento de crianças.

Os “democratas” só não querem que organismos sociais, políticos e do Estado sejam parte do substitutivo. Eles entendem que o “livre mercado” é uma babá muito mais eficiente para os filhos. Que as entidades privadas serão mais “protetoras” e mais “eficientes” no balanço entre custo e benefício. Os “democratas” que tinham horror aos substitutivos de natureza socialista, via Estado, agora estimulam a solução extra familiar como mais uma forma de expansão dos negócios.

Por isso o dia Internacional da Mulher continua sendo uma crítica ao trabalho, às suas escolhas, às suas finalidades, à razão de realizar um determinado trabalho. O Dia Internacional da Mulher é, sobretudo, uma forte crítica da expansão consumista e da exploração das trabalhadoras.

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