Alexandre Lucas – Quem é Silvero Pereira?
Silvero Pereira - é um garoto que
completa 30 anos agora em junho (20). Garoto porque aos 12 anos começou a
trabalhar para ajudar nas despesas da família, trabalhando de dia e estudando a
noite e com isso nunca teve tempo de curtir sua infância, sua imaginação.
Assim, aos 30 anos e tendo 14 anos dedicados ao teatro, descobriu nessa arte a
possibilidade de viver sua infância perdida, de poder brincar, criar, imaginar
e realizar. Entretanto, tudo isso é com muita responsabilidade e dedicação. O
Silvero, como me enxergo, é um batalhador, um trabalhador que acredita naquilo
que faz, que faz teatro por necessidade, seja essa necessidade de viver, de
brincar, de questionar ou de expor inquietações.
Alexandre Lucas – Quando você teve seus primeiros contatos com a arte?
Silvero Pereira - Desde pequeno
eu já realizava algumas manifestações artísticas, sempre gostei de pintar,
desenhar e nas brincadeiras de criança sempre fazia dramatizações, imitações de
filmes, novelas, mas tudo de forma muito intuitiva. Meu real contato com o
Teatro se deu aos 17 anos quando ingressei no ETFCE (atual IFCE) para fazer
Ensino Médio e Técnico em Turismo. Assim, nas aulas de educação artística
decidi por teatro e com o Paulo Ess (professor na época) pude enxergar o teatro
compromissado com a arte, com a formação de artistas e de platéia. Desde modo,
me envolvi, ingressei no grupo de Teatro da Instituição, fui fazer curso de
Teatro após Ensino Médio e desde e então faço Teatro.
Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:
Silvero Pereira - Comecei em
1997, na Cia Dionisyos de Teatro com direção de Paulo Ess. Dentre meus
espetáculos como ator estão "Filé Com Fritas ao Vinagrete“, "O Rei
Que Não Sabia Ler", "O Suicida", "Ray Tex" e "Meu
Admirador Secreto”, todos com direção de Paulo Ess; com exceção do último que
teve como diretor o Autor e Pesquisador Fernando Lira. Em 2000 ingressei para a
CIA LUA de Teatro, onde atuaria nos espetáculos "Rosa Escarlate,
"Dominus Tecum" e " Não Confirmo Nem Duvido", todos com direção
de Ueliton Rocon. No mesmo ano criei o Grupo Parque de Teatro, por meio da
Fundação Parque de Formação Integral do Tapuio na cidade de Aquiraz, onde
desenvolvo um trabalho social e voluntário com crianças e jovens usando a
arte como mecanismo educacional e social. Com o Grupo Parque de Teatro realizei
a montagem dos seguintes espetáculos : “O Destino a Deus Pertence” (2002), “O
Mistério da Cascata” (2004), “Muito Barulho Por Nada” (2005), “Conte Lá Que eu
Conto Cá!” (2007) e " A Incrível Jornada de Vicente e a Estrela Cadente"
(2012). Ainda em 2005, pelo mesmo grupo estreie o solo “Uma Flor de Dama” , tendo minha
direção, texto adaptado, interpretação, cenário, figurino, maquiagem e
sonoplastia.Com este solo participei de mais de 16 festivais por todo o
Brasil (CE, PE, PA, DF, RN, BA, MG, ES). Em 2006 atuei em “Dorotéia”, com
direção de Herê Aquino, pelo Grupo Expressões Humanas. E no período de 2001 a
2004 atuei no Grupo Bagaceira de Teatro nos espetáculos: “Os Brinquedos No
Reino da Gramática” (com direção de Renata Gomes), “Ano 4 D.C.” e “Engodo”
(ambos com direção de Yuri Yamamoto).
Atualmente sou integrante e encenador do
Grupo 3x4 de Teatro, de Fortaleza-CE onde dirigi os esquetes:“As vivas cores da
ilusão”, “Para Sempre Fiel” e “Confissões Entre Paredes”, “Para Uma Avenca
Partindo”, “Os Sobreviventes”, "Red Roses", "Terça-Feira
Gorda" e “Creme de Alface”, na mesma dirigi os espetáculos “As
Rosas”, “Aniversário de Casamento”, “Curtas nº 1”, “Curtas nº 2”, "Para
Papai Noel..." e "Silvestres". Em 2009 dirigi o espetáculo
“Tudo o que eu queria te dizer” da Cia. Lai-tu de Teatro (Fortaleza) e , como
professor do Curso Princípios Básicos de Teatro, realizei a montagem de “Alice
– Nem tudo que parece é” (2009). Em 2010 estrei o terceiro trabalho de
minha pesquisa sobre o universo das travestis cearenses com o título de
“Engenharia Erótica – Fabrica de Travestis” com o Grupo Parque de Teatro. No
mesmo ano estrei no espetáculo “S./A. Sociedade Anônimna” Produção do Grupo 3X4
de Teatro; o Solo “DEPOIS DO PONTO” e “Mixórdia – Encontro Desordenado de
Fragmentos” no Curso Princípios Básicos de Teatro, do qual sou professor e onde estreei em agosto de
2011 o espetáculo de conclusão “E SE...”. Já em janeiro de 2012 realizei a
montagem de "Cabaret Show: Yes, Nós Temos Bananas!" e trabalho na
montagem de 03 espetáculos com previsão de estreia ainda neste ano:
"Metrópole" do Grupo 3X4 de Teatro; "Quanto vale o preço de quem
paga o seu verdadeiro amor" do CPBT; "Quem Tem Medo de Travesti"
com o Grupo As Travestidas.
Alexandre Lucas – A sexualidade é uma das temáticas abordadas no
seu trabalho. Como você ver essa questão?
Silvero Pereira - Eu estou no
Teatro porque ele me dá a oportunidade de expor minhas angústias, minhas
inquietações com questões sociais. Acredito que a nossa sociedade ainda não
está preparada para compreender as questões de sexualidade na nossa atualidade,
por isso utilizo minha arte para provocar, tirar do conforto, confrontar e
questionar os paradigmas, os conceitos e os "pré". Nossa sociedade
precisa de esclarecimento e o teatro permiti, pelo menos na forma como executo,
que as pessoas vejam e reflitam, não aponto conclusões, aponto desconforto naquilo
que pensam.
Alexandre Lucas – Como ocorre a sua pesquisa para construção do
seu trabalho teatral?
Silvero Pereira - Minha pesquisa
é longa e cautelosa, não consigo levar nada para a cena de imediato, gosto de
analisar, estudar, pesquisar, re-avaliar. O meu processo criativo dura em média
entre 8 meses a dois anos de elaboração até chegar há um resultado. Essa
pesquisa parte de experimentações estéticas, laboratórios corporais,
emocionais, pesquisa "in locus", anotações, discussões, ensaios
abertos e pesquisa acadêmica.
Alexandre Lucas – Como você ver a relação entre arte e política?
Silvero Pereira - Necessária.
Nós, artistas, temos a política nas mãos. Nós também somos formadores de
opinião, ou pelo menos capazes de provocar questões e isso por si só já é ser
político. A arte existe para tremer os conceitos, uma obra que não causa, que
não modifica, que não desestabiliza, não tem finalidade. Só entramos em cena
ou só pintamos um quadro porque queremos expor nosso ponto de vista
perante à sociedade. Isso é política.
Alexandre Lucas – Qual a contribuição social do seu trabalho?
Silvero Pereira - Meu teatro
caminha em duas mãos. A primeira tem haver com a transformação social
realizada no comunidade do Taupio (Distrito de Aquiraz) onde há 12
anos existe o Grupo Parque de Teatro. Neste local eu cheguei em 2000 para
mostrar as crianças o que o teatro tinha de significado pra mim. No início
a Comunidade encarava o Teatro como distração, lugar para deixar os filhos
durante um turno para os pais terem tempo livre. Hoje a mesma comunidade encara
o teatro como profissão, desejam ver os filhos no teatro. Hoje alunos meus são
professores e coordenadores de arte na comunidade, são estudantes de Artes Cênicas
e constituíram famílias e estabilidade financeira por meio da educação que
receberam na arte. Já em segundo plano está meu trabalho no movimento LGBTTT,
pois há 10 anos atrás iniciei uma pesquisa sobre o teatro e o transformista e
hoje, anos depois, olho para a cidade de Fortaleza, ou mesmo o
nosso estado do Ceará, e vejo a minha colaboração. Hoje
é possível ver travestis em bares, transformistas sem medo de mostrar a
sua arte em qualquer local, ou mesmo quando escuto de pais e mais que
assistiram meus espetáculos dizerem " Eu hoje compreendo e respeito melhor
o meu filho, porque você me fez ver o quanto fui cruel!"
Alexandre Lucas – Além desta abordagem sobre sexualidade, quais outras
questões são enfatizadas no seu trabalho?
Silvero Pereira - Meu trabalho
tem haver com aquilo que no momento me incomoda. Atualmente tenho falado muito
sobre sonhos, amizade, resiliência, infância e mundo Trans.
Alexandre Lucas – Quais os próximos trabalhos?
Silvero Pereira - Meus próximos
trabalhos em vista são os seguintes:
Setembro : "Quanto vale o preço de quem paga o seu
verdadeiro amor" do Curso Princípios Básicos de Teatro do Theatro José de
Alencar
" Metrópile" Grupo 3X4 de Teatro
Outubro: " Quem Tem medo de
Travesti" Grupo As Travestidas. Esse deve estrear no Cariri
Dezembro: Um infantil de natal ainda sem
título pelo Grupo 3X4 de Teatro
Já em 2013: o musical "Yes, Nós Temos
Bananas!" e um infantil sobre travestis e transformistas, ambos pelo Grupo
As Travestidas
"Translendário 2013"
Olha só, vim fazer uma visitinha, rsrs...só senti falta dos poetas, mas essa figura - o Sil-que-é-de-vero - merece um convite do Salatiel pra pelo menos comentar no blog. não sei se erra no português pq afinal escolas não primam por isso há algum tempo, enfim se for o caso dele, mas já fica perdoado desde já. grande abraço, tô viva viu?
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