terça-feira, 27 de novembro de 2012

O PAPEL POLÍTICO DOS CAPACHOS IMPERIAIS - José do Vale Pinheiro Feitosa


Por incrível que pareça não tem muito mais de ano e meio que pelo menos dois blogs do Crato publicaram o documento de um militar brasileiro, em momento de reforma do serviço ativo, dizendo que O Golpe de 64 foi um ato heroico dos golpistas para livrar o país da anarquia e do comunismo. Os dois blogs bebiam na fonte da atual administração da cidade e publicavam o panfleto por afinidade ideológica com a extrema direita brasileira e muito provavelmente para provocar seus desafetos no campo político.
Ainda hoje anciões do Clube Militar guardam um ódio visceral contra políticas progressistas e sustentam esta energia a partir do borralho ideológico ainda dos anos de ditadura e dos embates das Reformas de Base intensamente mobilizadas pelo povo brasileiro no Governo João Goulart. As Reformas de Base reuniam um conjunto de medidas que abrangiam a reforma bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária. Incluía-se entre as medidas o direito de voto aos analfabetos e às patentes subalternas das forças armadas. O carro chefe era a Reforma Agrária onde se reuniu um dos focos de maior conflito na política interna do país. No entanto foi no campo externo, especialmente em relação aos Estados Unidos da América e outras nações capitalistas dominantes onde a luta foi maior: eram medidas nacionalistas com maior intervenção do Estado na vida econômica, controle do investimento estrangeiro especialmente sobre a remessa de lucros para o exterior, além da nacionalização de empresas estratégicas como dos setores de energia e comunicações.
O que liga personagens relativamente nascidos após o golpe de 64 que pontuavam na política do Crato até agora a essa herança conservadora e extremista? Penso que vestem uma capa envelhecida para esconderem o verdadeiro sentido dos seus corpos ideológicos. Uma capa costurada com retalhos da luta anticomunista, de segmentos reacionários da igreja católica, de uma noção de família e patrimônio há muito ultrapassada pelo próprio desenvolvimento capitalista. Mas o sentido de ser na vida é um esdrúxulo senso de superioridade de classe subalterna ao modelo superior de outros povos, no caso os EUA. Esses personagens do outro lado da margem dos comunistas, repetem a mesma inação ou ação sob comando de outros povos, igual aos comunistas com a União Soviética.

Tomei por exemplo este chorume da história para nos lembrar que o Golpe Militar de 64 era uma fachada ideológica a serviço dos interesses dos Estados Unidos da América. Claro que refletiam o conflito interno, a forte reação de latifundiários e os próprios erros do Governo Goulart, mas jamais teriam a desenvoltura finalista que tiveram se não fosse o financiamento americano do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) que financiavam armas, textos, campanhas eleitorais e deputados no parlamento. Sem os mecanismos de sabotagem do abastecimento, além de programas de invasão da CIA e outros setores de inteligência americana dentro do Programa Aliança para o Progresso e com o que chamava Voluntários da Paz. Nos idos dos anos 63 a 67 só no bairro da Batateira moravam dois americanos sem papel religioso, vivendo numa casa precária e colhendo informações.   

Porém o mais importante foi o deslocamento de uma frota de navios para dividir o país em cinco partes e assim promover o fatiamento da unidade nacional. Com armas, armadas, infiltração social, financiamento de setores militares, políticos, da mídia,  religiosos e intelectuais, os EUA foram o móvel essencial do golpe. Até mesmo a violência com a tortura e humilhação sofrida por militantes adversários fez parte da política americana que além de ampliar a capacidade de torturar apoiava todas as práticas já em curso nos porões da polícia brasileira, sem contar os horrores já praticados durante a ditadura do Estado Novo.

Os EUA não apenas foram o móvel do Golpe, como auferiram logo em seguida todas as vantagens econômicas advindas dele: remessas de lucros, fim da estabilidade do emprego, arrocho econômico, perseguição dos trabalhadores e a criação de multinacionais que dirigem até hoje a economia nacional. Foi efetivamente um Projeto Imperial que levou o povo brasileiro a um atraso imenso em seu progresso e desenvolvimento, atingindo todos os campos: a posse da terra, a urbanização justa, a educação, a saúde pública, a infraestrutura produtiva e, principalmente, a autonomia para um projeto de desenvolvimento nacional.

Isso tudo não pode ser mais objeto das dúvidas daquele militar de pijama do início do texto: isso é um farto material pesquisado e para ser ainda mais aprofundado do papel dos EUA no Golpe Militar de 64. Não é questão de crença ideológica, é a luz dos documentos e registros da época.  

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