quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Amor nas Estrelas - José do Vale Pinheiro Feitosa


Amor nas Estrelas de Fausto Nilo e Roberto de Carvalho é um achado de época. Já não se fazem canções como essa. Fausto virou arquiteto em Fortaleza e sabe o quanto sua rica e sofisticada poesia musical já não fala ao espírito deste tempo. Roberto de Carvalho nem sei mais do quê se ocupa.

A voz de Nara Leão, seja de Leila Pinheiro com Menescal ao violão, e ela ao piano, tem uma feminilidade estelar, um lago azul no alto de uma montanha a espelhar a lua refletida de sol. Não por ser a mulher reflexo do homem, como a lua e o sol, mas por ser a voz de uma mulher falando de amor nas estrelas.

De qualquer modo ao ouvir a canção por tantas centenas de vez por agora me dei conta de um mito inusitado. Aquele exposto num conto clássico passado em Áquila em que um bispo enciumado enfeitiça uma linda donzela só por esta amar o comandante de sua guarda. O feitiço consiste: de dia ela é uma águia e à noite ele é um lobo. Só por breve momento os dois percebem a transição entre um estado e outro. O conto tornou-se um filme chamado Feitiço de Áquila.

A natureza divergente deles nunca se encontra, embora tenham consciência da dinâmica que os enfeitiça. Mas no estado animal, nenhum sabe sobre o outro. Apenas quando humanos sofrem terrivelmente o desencontro acontecido em presença um do outro. O estranhamento entre conhecidos. O conto é baseado no desencontro entre o sol e a lua.

Os opostos: a noite e o dia. A lua é da noite e o sol é o dia. Mas foi aí que o Amor nas Estrelas revelou: a lua encontra-se às escondidas com o sol, vemos apenas sinais deste encontro: a luz que ela emite no prateado da vida. Esta cópula luminal não é a subordinação da mulher ao homem é, sobretudo, a conjunção de iguais a gerar tempo planetário.

É amor nas estrelas.   
    

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