sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

BURACO NEGRO* - José do Vale Pinheiro Feitosa


*Estrelas que perdem o brilho e colapsam sua matéria sob pressão de uma enorme gravidade.

Gérard Depardieu. Um francês de conhecimento mundial. Um talento da cinematografia globalizada. Podre de rico. Mito de tanta individualidade como são estes astros brilhantes. Purpurina do consumo. Da mercadoria cultural. Do estilo prêt-à-porter.  Gozo das revistas “Caras” da vida em milhões de consultórios e escritórios.

O homem que interpretou Danton no cinema é um revolucionário em causa dos ricos e de si próprio. Exilou-se na Bélgica para não pagar a taxação de impostos cobrada pelo Governo Hollande. A taxação dos milionários como Depardieu. O astro brilha à frente dos manifestos dos ricos não pelas ruas de Paris empunhando bandeiras, mas pelas páginas da mídia a serviço dos sempre possuidores de riquezas.

A luta entre o capitalismo neoliberal e o capitalismo social democrata é um dado do momento. A crise não resolve contra o modelo neoliberal, ao contrário, acirra a contradição e como os “astros brilhantes” continuam com os mecanismos em suas mãos a revolta popular e política é esterilizante. A história para: é o abismo fiscal nos EUA, é a Austeridade na Europa, é o conservadorismo japonês. Os neoliberais estão freando a solução da crise em causa própria.

A primavera Árabe não se engane, é uma tempestade de verão, daquelas que derrubam árvores e destroem plantações de alimentos. Assim que a tormenta cessa, resta uma terra arrasada no sentido político, com resultados inteiramente adversos aos desejos dominantes e às revoltas dos dominados sofredores. E os acontecimentos no mundo Árabe têm a mesma substância da crise do capitalismo neoliberal.

Entre os anos 10 e os anos 40 do século XX, o sistema econômico mundial centrado na Pax Britannica arruinou-se e os efeitos sociais foram terríveis. Na verdade chama-se Primeira e Segunda Guerra Mundial, o que foi uma guerra única, com intervalo de sofrimentos e humilhações dos povos. A transição de 30 anos de duração refletia o impasse entre a crise do capitalismo liberal cujo símbolo aconteceu em 29 com a quebra da bolsa de Nova York.

O nazi-fascismo e o sistema soviético stalinista não é o que em boa poesia adotamos como a loucura de líderes ou a emergência do Mal. Tais regimes são tentativas autoritárias de superação de impasses nas soluções da crise liberal. Como nada acontece, toma-se uma ordem unidade que sacrifica muitos e mobiliza massas numa agressividade que aumenta a produtividade econômica enquanto libera a perseguição à pluralidade de visões.

Quando Gerard Depardieu se contraria e assim lidera um movimento de ricos para não pagar impostos, apenas está abrindo a jaula das feras que se alimentam dos impasses que prolongam os sofrimentos sociais. A saída democrática nesta ocasião parece impedida. Não existe mais concessão possível, quem tem dinheiro não se move por qualquer comportamento altruísta. Tornar-se milionário é egoísmo puro.

E antes que assemelhados ideológicos ao sucesso do exílio do ator francês protestem tomo mais um argumento: o mérito do astro mesmo assim é um mérito da coletividade da cinematografia mundial. Assim como o brilho milionário dos jogadores de futebol. Sem contar que são os outros que pagam os ingressos e consomem os produtos do marketing associado aos astros milionário.
   

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