Um jornalista paulista estranhou a quase comoção midiática
com a morte de Dona Canô, mãe de Caetano e Bethânia. Como profissional da
relevância dos fatos, ou seja, aquele que escolhe o quê é notícia e o quê não é
notícia, compreende-se a métrica dele. Mas a métrica de Dona Canô passa por
outras razões, especialmente a nossa alma interiorana e, especialmente,
nordestina, religiosa e profundamente ligada aos séculos de formação da nação.
A própria imagem dela é a de uma senhora gravitante da vida
familiar e, por extensão, da matriz de identidade de todos os seus membros. Muitos
imaginam que seja por ser mãe dos dois artistas baianos, mas isso não explica
tudo. Embora a conjuntura seja essa, na estrutura é outra coisa.
Os filhos foram o veículo para torna-la a referência de um
modelo de matrona ou de uma liderança que norteia os vários caminhos. Mas ela
já era isso mesmo antes dos filhos acontecerem. Claro que aquele modo excêntrico
dos dois serviu para acentuar o modo normal de Dona Canô e foi esta expressão
concêntrica que a tornou muito mais que o jornalista paulista não conseguiu
enxergar na quase comoção do dia.
Quem sabe alguém compare a morte de Dona Canô à morte de
Ledo Vivo, seja por excessos de exposição midiática ou por alguma falta dela, mas
aí já estamos caindo no “ledo engano” como se costuma brincar. Dona Canô é a
avó ou a mãe de muita gente em símbolo e disciplina.
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