quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Meus Três Amores - José do Vale Pinheiro Feitosa


“Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine.” Se como Paulo tivesse o Crato, Rio de Janeiro e Paracuru e não lhes tivesse amor, era como uma paisagem lunar, sem cores e sem céu.
Este Rio que me faz rir apenas de olhar seu perfil, mesmo que nas altas horas noturnas pouco iluminadas. Que hoje teve a maior febre de verão de sua história. Foram 43 graus centígrados, com sensação térmica encostada ali na fronteira dos cinquenta graus.
Este corpo de cidade que é tão belo que por vezes no limite da exaltação só me falta dizer: mas que abuso de beleza! E teve cinquenta graus de puro calor. E lembrar que a burrice da ditadura quis censurar o filme do Nelson Pereira dos Santos, Rio 40 Graus, por entender uma afronta ao “progresso” suposto pela arrogância.
Terra do samba, do funk, da matriz do rádio, dos grandes auditórios, do cinema, da música e da política também. Uma linda cidade a contemplar-se no espelho fosco da garoa paulistana e assim dizer a todos: sou bela, mas não isenta do meu contraponto. Por isso mesmo é bela: a pureza do ser é a abstração do nada. É preciso negar a beleza para que ela seja contemplada e compreendida.
Quando tudo é arrasador na face sul virada para o mar e a Guanabara, tudo se surpreenderá nas encostas da Tijuca, a planície do Andaraí e as montanhas com seus picos cobertos de florestas tropicais. O tão malfado e calorento Bangu tem uma formação rochosa de realçar o relevo das encostas amenas dos arredores da Serra do Mar. E toda a Zona Oeste excede em lagamares, baias, planícies, montanhas e mares.  
Mas tome as ruas tortas. A trama que engana assim como os grandes ramais e a capilaridade de ruelas que desenham bairros e favelas nos morros. E ande pelas calçadas, com o olhar pedinte aos casarões seculares, aos prédios de várias épocas, aos bares que reúnem numa coletividade a individualidade de milhares de apartamentos.
E para melhor lhes dizer desse amor, esta coisa difícil de narrar, ainda mais de escrever com esta belíssima na Cadência do Samba do Pernambucano Luiz Bandeira. Mais um poeta de outras terras a cantar o Rio de Janeiro.  

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