Nóis num sabe tudo, mas nós né besta não!
Sete e meia da manhã e a classe média (os trabalhadores há
muito já se encontram pendurados em alguma condução ou andando a pé para o
trabalho) faz o seu “breakfast” com dentes arreganhados de raiva frente ao Bom
Dia Brasil. Miriam Leitão, Chico Pinheiro e Renata Vasconcellos apresentando o “absurdo”
dos impostos no Brasil. Os empregados da Globo são os padeiros daquele pão
amargo.
Qual o absurdo? Altos impostos, baixa escala de produção,
custo da mão-de-obra (incluindo os gastos com os trabalhadores como assistência
de saúde, condução e outros benefícios trabalhistas que eles acham que deveriam
ser do Estado), a má infraestrutura pública e, claro, a Presidenta da
República. Os padeiros recebem pronto o chavão para sintetizar o fermento
diretamente dos donos da farinha de trigo.
E sabem o quê me veio pelo peito acima? Um fermento mais
poderoso ainda: vamos combinar a transparência total. Se as notas fiscais me
informarão o que pago pelos impostos, qual o motivo de também não vir
discriminado os custos da produção, o quanto pagam de salário, qual o lucro dos
produtores e quanto a rede de comércio leva naquele preço?
Quem poderá achar injustiça que se saiba o valor do que
estou pagando em toda a cadeia de produção do mesmo? Quanto os juros oneram
esse preço? Quanto os operários recebem direta ou indiretamente, os “executivos”,
os acionistas, os atravessadores e assim por diante numa total transparência
com a qual me sinta bem informado sobre o que pago.
E isso não vem porque aí mora o segredo maior do “crime”
virado para a janela. E esse pessoal que se acha tão sofisticado na verdade
mesmo conta é com a nossa besteira. Querem diminuir impostos e querem que o
governo assuma as despesas integrais com a saúde dos empregados. Eu acho que a Constituição
diz é isso mesmo, mas tudo bem senhores da “razão do venha a nós tudo”, é fácil
fazer a transferência: tirem de suas despesas diretas os 84,48 bilhões de reais
faturados pelos Planos Privados de Saúde e repassem para SUS que vocês verão o
ânimo que isso provocará na atenção de saúde.
E digo mais: na gestão pública esse dinheiro, ao contrário
do ralo dos Planos Privados de Saúde, teria muito mais eficiência (custo
benefício). A lógica pública é de menos lucro e mesmo que malfeitores andem nas
suas beiradas, estarão fora da lei, enquanto no setor privado isso é o
sacrossanto direito ao lucro e ao intenso mercantilismo da medicina,
transformada em produto de consumo, bem precificado e abusado pelo cliente e
pelo profissional.
Os padeiros são todos bobos de balcão, mas os donos da
farinha não. O argumento da escala de produção é uma balela especialmente nos
últimos 15 anos com a moeda estável, equilíbrio fiscal, distribuição de renda e
crescimento econômico. A indústria automobilística dizia que o carro brasileiro
era caro por baixa escala de produção e como explicar o preço hoje quando somos
o quinto maior mercado produtor e o maior comprador de veículos em 2010?
Esta pétala do argumento já pode ser jogada fora.
E os impostos altos? Vamos compreender uma coisa: quem fala
em redução das despesas públicas como tese generalizada, quem deseja cortar
gastos e zerar impostos na verdade ataca com alguma dose de cinismo ou por mero
eco ideológico, os direitos humanos e a integridade territorial da nação.
Todos sabemos que cortar bens materiais é sempre uma luta
política e social. Os tesoureiros do corte sempre pensam cortar os benefícios
do vizinho e manterem o seu integralmente. É igual a essa discussão dos
fazendeiros com o código florestal: é mais fácil defender a idéia sendo da
cidade e não sendo fazendeiro. Mas no exemplo da indústria automobilística os
impostos dos carros caíram nos carros médios e nos modelos flex.
Aqui no Brasil todos aqueles “adventures, cross, sport, eco”
da vida são maquiagens de outros modelos, com acréscimo de 5 a 7% nos custos de
produção, mas vendidos com aumento de 10 a 15% a mais. Aí se encontra uma das
maiores malandragens da produção capitalista: as maquiagens de produtos para
vendê-los muito mais caro. Na tecnologia de saúde isso é largamente utilizado
pelos produtores e usam os profissionais de saúde na cadeira de imposição dos
produtos.
Uma análise feita comparando o preço do Honda City fabricado
aqui no Brasil e vendido no México por um preço muito inferior ao praticado
aqui, levou à conclusão que a margem de lucro da montadora e sua cadeia
produtiva aqui no Brasil era acrescida de 38% em relação ao lucro por ela
praticado no México. Tudo leva a crer que o alto preço praticado no Brasil se
deve ao que os produtores consideram: valor percebido pelo cliente. Se o
consumidor paga o que se pede, porque baixar o preço?
Agora imaginem onde esta engenharia de comunicação social
começa? Quem cria o mito da bolsa Luis Vitton e diz que ela vale tudo o que
vale e faz com que os outros fabricantes sigam a mesma política de vender pelo
que o consumidor paga de qualquer modo. Aí temos que fazer um programa da verdade
com os donos da farinha de trigo. Da farinha de trigo do pão amargo.
E aí um brasileiro ouvinte do Bom Dia Brasil vai concluir
que tudo isso foi imposto.
E foi mesmo!
Imposto pela montadora e pelos donos da farinha de trigo.
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