quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A "senha" do Benedito - José Nilton Mariano Saraiva

Quem conhece um pouco da história da Igreja Católica Apostólica Romana sabe perfeitamente que por trás dos muros do Vaticano, em seus corredores e porões, entre abraços de tamanduá, tapinhas nas costas e falsos sorrisos, vige uma espécie de briga de foice em quarto escuro, na oportunidade em que se tem de escolher um novo Papa; conchavos, corrupção, falsidade, traição, oferecimento de vantagens, tráfico de influência e o escambau são a essência dos encontros cardinalícios quando da escolha do sucessor de Pedro. O jogo é bruto e pesado (fala-se, inclusive, que o Papa João Paulo I – o italiano Luciane – após pouco mais de um mês no trono, teria sido "envenenado" por discordar do modus operandi vigente). Assim, no Vaticano nada difere das diversas arenas políticas espalhadas pelo mundo, quando da eleição de mandatários nos mais diversos países. É o tal “componente político” a que tanto aludimos e que na cúpula da Igreja Católica também se faz presente, sim.
Por essa razão (o penoso e desonesto trabalho de chegar lá e as concessões que tem que ofertar), normalmente quem consegue trata de segurar o bastão até o instante em que “bate as botas”, nem que para tanto tenha que enfrentar percalços e constrangimentos mil (conforme nos mostrou o carismático polonês João Paulo II, que, acometido de todo tipo de doença - Parkinson, demência, dificuldade motora, etc - não largou o osso de forma alguma.  
Assim, de certa forma fomos surpreendidos quando, quase chegando aos 80 anos, o ultraconservador ex-integrante da juventude nazista, o alemão Josepf Ratzinger, conseguiu sucedê-lo; só não surpreendeu foi sua postura de insensibilidade e alheamento ao que acontecia ao seu entorno, já que os ultrapassados e envelhecidos dogmas da Igreja Católica jamais foram ameaçados: celibato, divórcio, aborto, contraceptivos, punição de padres pedófilos, alinhamento político do clero com causas sociais e políticas do terceiro mundo, enfim, desafios típicos do contemporâneo foram deixados de lado.
Agora, e num primeiro momento surpreendente, foi ele anunciar que iria “se mandar” (renunciar), deixando seu rebanho na orfandade (e de um pai vivo), já que com apenas 08 anos sentado no trono. E aí, a grande surpresa, a denúncia/revelação “bombástica”, porquanto proferida por alguém que comandava a Igreja Católica até então e, pois, conhecedor profundo das suas entranhas e labirintos: na cúpula da Igreja Católica vige, sim, a "hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as atitudes que buscam os aplausos e a aprovação" (ipsis litteris).
Portanto, se nada fez de produtivo durante sua gestão de 08 anos à frente da Igreja Católica Apostólica Romana, o alemão de certa forma se redimiu, ao anunciar aos seus pares, de viva voz, aquilo que todo mundo já desconfiava: no Vaticano, cerne do cristianismo, impera a discórdia, o jogo sujo, a luta (fratricida e desonesta) pelo poder. Enfim, o “componente político”.
É mentira, Terta ???

Um comentário:

  1. Bento XVI pode surpreender nos soberanos 15 dias finais (Wálter Maierovitch)

    Ratzinger, ontem e nas suas manifestações, enviou um recado claro pela unidade e contra aqueles que fizeram-lhe “jogar a toalha” da renúncia: “A face da Igreja por vezes é deturpada em razão de golpes contra a sua unidade e pelas divisões no corpo eclesiástico”. Nada a surpreender nessa sua fala. No famoso “discurso à lua”, o progressista e inovador João XXIII, apelidado de papa bom, disse: “ Abbiamo visto che nel campo del Signore c´è sempre anche la zizzania. E che nella rete di Pietro si trovano anche pesci cattivi (sabemos que no campo do Senhor existe também a cizânia. E que na rede de Pedro encontram-se também peixes maus)”.
    Durante a missa celebrada ontem e os muitos aplausos, Ratzinger permaneceu frio, a revelar que a indignação com os seus traidores vencia a emoção. Um sinal importante. O cardeal e chefe de estado Tarcísio Bertone (uma espécie de primeiro ministro pelo encargo de governar a poderosa Santa Sé), depois de enaltecer Ratzinger do púlpito, foi abraçá-lo. O abraço foi recusado. Também Ratzinger resistiu à tentativa de Bertone de beijar a sua mão, em sinal de subordinação. Para muito vaticanistas, Bento XVI deu um sinal claro de não apoiar a eleição de Bertone que, com o decano cardeal Angelo Sodano, travou, nos quase 8 anos de pontificado, uma diária queda-de-braço pelo poder.
    Caso Ratzinger consiga fazer o sucessor, permanecerá, dizem os vaticanistas, a influência da Opus Dei, iniciada com Wojtyla. O respeitado historiador e jornalista Corrado Augias, em livro publicado em 2010, conta ter Wojtyla, na véspera da sua eleição, rezado na tumba do fundador do Opus Dei e pedido pela sua intercessão na eleição.
    Nos longos 15 dias de poder soberano, contam os adeptos fervorosos de Ratzinger, um troco poderá ser dado aos que o fizeram renunciar. Como todos são muitos católicos, nenhum fala em vingança, mas que tudo seria para o bem da Igreja.

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