O sul do Chile e o
sudoeste da Argentina é o grande território dos Mapuches que assim se chamavam,
significando “mapu” que é terra e “che” que é gente. A gente da terra foi
chamada pelos Europeus de Araucanos. Em termo de unidade cultural e de grupos
linquísticos se equivalem em tamanho e complexidade aos grupos tupi guaranis.
Os Mapuches falam a língua Mapudungún. O Mapudungún é o equivalente à língua
geral do sul das Américas.
Os Mapuches se
espalhavam desde o vale do Aconcágua (vale do Mapocho onde fica Santiago) no
norte do Chile até o sul na Ilha de Chiloé. No norte os grupos Mapuches,
chamados pelos espanhóis de picunches eram fortemente influenciados pelos Incas
e submeteram-se mais facilmente ao domínio branco.
Os Mapuches que
habitavam a partir do vale do Rio Maule em direção ao sul eram inteiramente
independentes dos Incas e se opuseram aos Espanhóis na guerra do Arauco. Esses
Mapuches se revelaram exímios cavaleiros, igual aos guerreiros das estepes
asiáticas tendo esta característica como um importante fator para o
desenvolvimento de sua cultura.
Entre os séculos XVII e
o XIX os Mapuches se expandiram para leste e para sul dominando um vasto
território e dominando grupos nômades e aculturando-os como aos tehuelces. No
final do século XIX com os estados nacionais desenvolvidos, o Chile e a
Argentina se organizaram na conquista dos territórios dos Mapuches com as
guerras chamadas Conquista do Deserto ou Pacificação da Araucánia.
Quem conhece a Guerra
dos Bárbaros ou a Confederação dos Cariris no nordeste brasileiro (essas mais
precoces na história pois ainda coloniais), assim como as guerra
norte-americanas contra apaches aí encontram semelhanças com estas incursões
contra os povos originais das Américas ainda organizados politicamente em torno
de sua cultura. O denominador comum dessa fase da história é a independência, o
fim do estágio colonial e a ampliação da exploração do comércio mundial,
especialmente o inglês e o nascente imperialismo americano.
Aproximadamente de 4 a
5% da população chilena é formada por Mapuches o que é uma relação
significativa quando se compara com outros países das Américas, à exceção é
claro da Bolívia e do Peru. Os Mapuches chilenos vivem em dois pólos principais
a região de Araucánia e Metropolitana e têm núcleos na região dos Lagos, Biobio
e los Rios.
As principais etnias
Mapuches são os Picunches no norte, Mapuches ou araucanos propriamente ditos
que estão na crônica da resistência na região da Araucânia; os Huiliches que
vivem entre o rio Totlén e a ilha de Chiloé que é uma etnia muito rica em mitos
que vive da agricultura e da pesca e o Pehueches que foram assimilados pelos
mapuches e que habitam na cordilheira na fronteira entre o Chile e a Argentina.
A síntese histórica dos
Mapuches em relação a identidade chilena é a defesa da terra e de sua gente.
Essa cultura resistiu à incursão Inca com batalhas com participação de mais de
40 mil combatentes e quando os Incas desistiram de avançar em direção ao sul do
rio Maule. E a outra defesa da nacionalidade foi a guerra do Arauco empreendida
contra os invasores espanhóis.
Hoje a elite chilena e
o capital produtivo e exportador domina toda a civilização chilena, mas há uma
permanente e constante alma no subsolo a levantar-se contra os sistemas
exploradores e de espoliação do mundo como os Mapuches assim pensaram sobre a
terra e sua gente. O espírito revolucionário chileno tem nos Mapuches a raiz de
sua luta. Pablo Neruda, nascido na região dos araucanos, se dizia um deles.
A ditadura de Pinochet
foi cruel com os Mapuches que eram grandes conquistadores de terras em razão da
reforma agrária do governo Salvador Allende. Los perros del exercito chileno
torturaram, assassinaram, acabaram com as terras comunais. Mas foi uma questão
de tempo para que a luta mapuche continuasse e continua a sofrer reveses mas há
uma continua luta, pois o próprio sistema liberal na economia chilena favorece
as grandes corporações multinacionais em detrimento do tipo de organização
Mapuche.
Não posso ir além mas
se registre que hoje no Chile os mapuches têm uma forte organização social
capaz de navegar no tempo e enfrentar os reveses da história, uma organização
familiar sólida pois é uma unidade de produção; uma forte religiosidade
inclusive misturada com as religiões cristãs; têm modelos de habitação, uma
matemática própria, um procedimento têxtil variado; uma cultura musical e
poética consolidada e têm um papel divulgador por meio de um sistema próprio a
oferecer etnoturismo.
Nesta semana um artigo
de Noam Chomsky extravasa a convicção que existem dois movimentos
contraditórios um acelerando a destruição do planeta representado pelas
corporações e pelo capitalismo e um outro de preservação e salvação do planeta
representado pelos povos indígenas.
Diz Chomsky: “As
sociedades mais ricas e poderosas da história do mundo, como os Estados Unidos
e Canadá, estão correndo a toda velocidade para destruir o meio ambiente o mais
rápido possível.” E depois contrasta esta ação: “Tentando mitigar ou superar
essas ameaças estão as sociedade menos desenvolvidas, as populações indígenas
ou o que restou delas, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá. Eles
não estão falando de uma guerra nuclear, mas do desastre ambiental, e estão
realmente tentando fazer alguma coisa.”
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