quinta-feira, 6 de junho de 2013

Os Mapuches do Chile e o Universo Neoliberal - José do Vale Pinheiro Feitosa

O sul do Chile e o sudoeste da Argentina é o grande território dos Mapuches que assim se chamavam, significando “mapu” que é terra e “che” que é gente. A gente da terra foi chamada pelos Europeus de Araucanos. Em termo de unidade cultural e de grupos linquísticos se equivalem em tamanho e complexidade aos grupos tupi guaranis. Os Mapuches falam a língua Mapudungún. O Mapudungún é o equivalente à língua geral do sul das Américas.

Os Mapuches se espalhavam desde o vale do Aconcágua (vale do Mapocho onde fica Santiago) no norte do Chile até o sul na Ilha de Chiloé. No norte os grupos Mapuches, chamados pelos espanhóis de picunches eram fortemente influenciados pelos Incas e submeteram-se mais facilmente ao domínio branco.
Os Mapuches que habitavam a partir do vale do Rio Maule em direção ao sul eram inteiramente independentes dos Incas e se opuseram aos Espanhóis na guerra do Arauco. Esses Mapuches se revelaram exímios cavaleiros, igual aos guerreiros das estepes asiáticas tendo esta característica como um importante fator para o desenvolvimento de sua cultura.

Entre os séculos XVII e o XIX os Mapuches se expandiram para leste e para sul dominando um vasto território e dominando grupos nômades e aculturando-os como aos tehuelces. No final do século XIX com os estados nacionais desenvolvidos, o Chile e a Argentina se organizaram na conquista dos territórios dos Mapuches com as guerras chamadas Conquista do Deserto ou Pacificação da Araucánia.

Quem conhece a Guerra dos Bárbaros ou a Confederação dos Cariris no nordeste brasileiro (essas mais precoces na história pois ainda coloniais), assim como as guerra norte-americanas contra apaches aí encontram semelhanças com estas incursões contra os povos originais das Américas ainda organizados politicamente em torno de sua cultura. O denominador comum dessa fase da história é a independência, o fim do estágio colonial e a ampliação da exploração do comércio mundial, especialmente o inglês e o nascente imperialismo americano.   

Aproximadamente de 4 a 5% da população chilena é formada por Mapuches o que é uma relação significativa quando se compara com outros países das Américas, à exceção é claro da Bolívia e do Peru. Os Mapuches chilenos vivem em dois pólos principais a região de Araucánia e Metropolitana e têm núcleos na região dos Lagos, Biobio e los Rios.

As principais etnias Mapuches são os Picunches no norte, Mapuches ou araucanos propriamente ditos que estão na crônica da resistência na região da Araucânia; os Huiliches que vivem entre o rio Totlén e a ilha de Chiloé que é uma etnia muito rica em mitos que vive da agricultura e da pesca e o Pehueches que foram assimilados pelos mapuches e que habitam na cordilheira na fronteira entre o Chile e a Argentina.

A síntese histórica dos Mapuches em relação a identidade chilena é a defesa da terra e de sua gente. Essa cultura resistiu à incursão Inca com batalhas com participação de mais de 40 mil combatentes e quando os Incas desistiram de avançar em direção ao sul do rio Maule. E a outra defesa da nacionalidade foi a guerra do Arauco empreendida contra os invasores espanhóis.

Hoje a elite chilena e o capital produtivo e exportador domina toda a civilização chilena, mas há uma permanente e constante alma no subsolo a levantar-se contra os sistemas exploradores e de espoliação do mundo como os Mapuches assim pensaram sobre a terra e sua gente. O espírito revolucionário chileno tem nos Mapuches a raiz de sua luta. Pablo Neruda, nascido na região dos araucanos, se dizia um deles.

A ditadura de Pinochet foi cruel com os Mapuches que eram grandes conquistadores de terras em razão da reforma agrária do governo Salvador Allende. Los perros del exercito chileno torturaram, assassinaram, acabaram com as terras comunais. Mas foi uma questão de tempo para que a luta mapuche continuasse e continua a sofrer reveses mas há uma continua luta, pois o próprio sistema liberal na economia chilena favorece as grandes corporações multinacionais em detrimento do tipo de organização Mapuche.

Não posso ir além mas se registre que hoje no Chile os mapuches têm uma forte organização social capaz de navegar no tempo e enfrentar os reveses da história, uma organização familiar sólida pois é uma unidade de produção; uma forte religiosidade inclusive misturada com as religiões cristãs; têm modelos de habitação, uma matemática própria, um procedimento têxtil variado; uma cultura musical e poética consolidada e têm um papel divulgador por meio de um sistema próprio a oferecer etnoturismo.

Nesta semana um artigo de Noam Chomsky extravasa a convicção que existem dois movimentos contraditórios um acelerando a destruição do planeta representado pelas corporações e pelo capitalismo e um outro de preservação e salvação do planeta representado pelos povos indígenas.


Diz Chomsky: “As sociedades mais ricas e poderosas da história do mundo, como os Estados Unidos e Canadá, estão correndo a toda velocidade para destruir o meio ambiente o mais rápido possível.” E depois contrasta esta ação: “Tentando mitigar ou superar essas ameaças estão as sociedade menos desenvolvidas, as populações indígenas ou o que restou delas, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá. Eles não estão falando de uma guerra nuclear, mas do desastre ambiental, e estão realmente tentando fazer alguma coisa.” 

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