Dando sequência ao
texto “Vendendo o almoço....” vou usar uma análise do professor José Luiz
Fiori, professor titular de Economia Política Internacional do Instituto de
Economia da UFRJ. Para relembrar o texto anterior: além de subtrair recursos e
meios dos trabalhadores, o sistema capitalista criar poderes de classe,
hierarquiza as pessoas, aumenta a produtividade gerando dano à natureza e
excluindo camadas imensas da sociedade a uma situação de miséria e violência.
O texto do professor
Fiori chama-se “Poder, geopolítica e desenvolvimento” e o li no site Carta
Maior. É fácil de ser encontrado mas vou resumi-lo para facilitar o raciocínio
da pergunta que fiz no final do texto anterior: o destino do Brasil será
submeter-se à necessidade da ordem capitalista e se tornar uma potência
regional com as mesmas característica monopolista e predatória?
Em síntese o que diz o
professor: o sistema capitalista surgiu no Sistema Interestatal Europeu que
evoluiu durante cinco séculos para o Sistema Interestatal Capitalista. Este
sistema se ampliou para os outros estados numa dinâmica de “competição” e “hierarquização”.
O resultado da “captura” dos povos aos sistema gerou três grupos distintos
hierarquizados, em competição e com subalternidades e superioridades: um grupo
que adere aos superiores de modo consentido (Canadá, Austrália etc.) e serve
para a troca de mercadorias, mas essencialmente dar robustez estratégica e
tática à política externa e militar das grandes nações. Um outro grupo formado
por países que reagem ao topo da hierarquia e por estratégias de mudanças de
status quo e de crescimento acelerado consegue mudar sua participação na
distribuição internacional do poder e da riqueza (EUA de dois séculos passados e
China). E um terceiro formado por países da periferia política e econômica com
fortes ciclos de crescimento e industrialização mas sem condições de desafiar a
ordem hierárquica estabelecida. São fornecedores de commodities e bens
industriais específicos como é o caso do Chile, Colômbia e Peru entre muitos
outros.
Fiori aponta dois
comportamentos essenciais dos países vencedores, aqueles que estão no topo da
hierarquia. Em primeiro lugar a identidade nacional, mobilização da sociedade
em torno de grandes projetos de defesa e projeção nacional. Por terem passados
por rebeliões e invasões estes países valorizam as política de desenvolvimento
e industrialização e a permanente preocupação com a conquista e monopólio de
tecnologias sensíveis decisivas para o sucesso de sua economia. E em segundo lugar
todos eles desrespeitaram sistematicamente as regras e instituições
competitivas de mercado que advogam como obrigação para os países situados nos
degraus inferiores. E Fiori conclui: os ganhadores navegaram na contramão das
leis do mercado, ou seja os “grandes predadores” que conseguem manter e renovar
permanentemente o seu controle monopólico das "inovações”, e dos “lucros
extraordinários”.
E Fiori conclui: “Este
caminho dos “ganhadores” está aberto para todos os países? Não, porque a
energia que move este sistema vem exatamente desta luta contínua, entre
estados, economias nacionais e capitais privados, pela conquista de posições e
de monopólios que são desiguais, por definição. Mesmo assim, alguns estados
podem modificar sua posição relativa dentro deste sistema, dependendo do seu
território, dos seus recursos e da sua coesão social. E da existência de uma
elite política capaz de assumir as grandes pressões sociais e o aumento dos
desafios e provocações externas, como sinal de amadurecimento de uma país que
já está preparado para sustentar uma estratégia de longo prazo, de
questionamento do status quo internacional, e de desenvolvimento com mobilidade
social generalizada.”
Praticamente neste
parágrafo final o professor ensina: o Brasil se seguir este roteiro, ou agenda,
pode trilhar o caminho dos ganhadores. Assim encerraria nossa pergunta com a
resposta: o Brasil não pode se tornar um país relevante na história sem adotar
os modelos competitivos e hierárquicos que resultam em monopólios e saque das
riquezas de outros povos. Enfim: se tornar em mais um instrumento eficiente da exploração
capitalista.
Acho que temos margem
para pensar diferente, voltarei ao assunto numa próxima postagem.
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