quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vendendo almoço aos outros - José do Vale Pinheiro Feitosa

Dando sequência ao texto “Vendendo o almoço....” vou usar uma análise do professor José Luiz Fiori, professor titular de Economia Política Internacional do Instituto de Economia da UFRJ. Para relembrar o texto anterior: além de subtrair recursos e meios dos trabalhadores, o sistema capitalista criar poderes de classe, hierarquiza as pessoas, aumenta a produtividade gerando dano à natureza e excluindo camadas imensas da sociedade a uma situação de miséria e violência.

O texto do professor Fiori chama-se “Poder, geopolítica e desenvolvimento” e o li no site Carta Maior. É fácil de ser encontrado mas vou resumi-lo para facilitar o raciocínio da pergunta que fiz no final do texto anterior: o destino do Brasil será submeter-se à necessidade da ordem capitalista e se tornar uma potência regional com as mesmas característica monopolista e predatória?

Em síntese o que diz o professor: o sistema capitalista surgiu no Sistema Interestatal Europeu que evoluiu durante cinco séculos para o Sistema Interestatal Capitalista. Este sistema se ampliou para os outros estados numa dinâmica de “competição” e “hierarquização”. O resultado da “captura” dos povos aos sistema gerou três grupos distintos hierarquizados, em competição e com subalternidades e superioridades: um grupo que adere aos superiores de modo consentido (Canadá, Austrália etc.) e serve para a troca de mercadorias, mas essencialmente dar robustez estratégica e tática à política externa e militar das grandes nações. Um outro grupo formado por países que reagem ao topo da hierarquia e por estratégias de mudanças de status quo e de crescimento acelerado consegue mudar sua participação na distribuição internacional do poder e da riqueza (EUA de dois séculos passados e China). E um terceiro formado por países da periferia política e econômica com fortes ciclos de crescimento e industrialização mas sem condições de desafiar a ordem hierárquica estabelecida. São fornecedores de commodities e bens industriais específicos como é o caso do Chile, Colômbia e Peru entre muitos outros.

Fiori aponta dois comportamentos essenciais dos países vencedores, aqueles que estão no topo da hierarquia. Em primeiro lugar a identidade nacional, mobilização da sociedade em torno de grandes projetos de defesa e projeção nacional. Por terem passados por rebeliões e invasões estes países valorizam as política de desenvolvimento e industrialização e a permanente preocupação com a conquista e monopólio de tecnologias sensíveis decisivas para o sucesso de sua economia. E em segundo lugar todos eles desrespeitaram sistematicamente as regras e instituições competitivas de mercado que advogam como obrigação para os países situados nos degraus inferiores. E Fiori conclui: os ganhadores navegaram na contramão das leis do mercado, ou seja os “grandes predadores” que conseguem manter e renovar permanentemente o seu controle monopólico das "inovações”, e dos “lucros extraordinários”. 

E Fiori conclui: Este caminho dos “ganhadores” está aberto para todos os países? Não, porque a energia que move este sistema vem exatamente desta luta contínua, entre estados, economias nacionais e capitais privados, pela conquista de posições e de monopólios que são desiguais, por definição. Mesmo assim, alguns estados podem modificar sua posição relativa dentro deste sistema, dependendo do seu território, dos seus recursos e da sua coesão social. E da existência de uma elite política capaz de assumir as grandes pressões sociais e o aumento dos desafios e provocações externas, como sinal de amadurecimento de uma país que já está preparado para sustentar uma estratégia de longo prazo, de questionamento do status quo internacional, e de desenvolvimento com mobilidade social generalizada.”

Praticamente neste parágrafo final o professor ensina: o Brasil se seguir este roteiro, ou agenda, pode trilhar o caminho dos ganhadores. Assim encerraria nossa pergunta com a resposta: o Brasil não pode se tornar um país relevante na história sem adotar os modelos competitivos e hierárquicos que resultam em monopólios e saque das riquezas de outros povos. Enfim: se tornar em mais um instrumento eficiente da exploração capitalista.


Acho que temos margem para pensar diferente, voltarei ao assunto numa próxima postagem. 

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