terça-feira, 14 de janeiro de 2014

"Jogo de cena" - José Nilton Mariano Saraiva

Como o ano é de eleições para a Presidência da República, Governadores, Senado e Câmeras Federal e Estadual, convém que o distinto eleitor reflita: afinal, PROS, PDS, PMDB, PSDB, PPS, PT e PSB (além dos partidos nanicos) têm alguma coisa em comum, além do fato de serem volúveis agremiações políticas brasileira ??? Algum projeto ou algo que de alguma forma as irmanem ??? Guardam alguma similitude em termos de defesa de um ideário programático comum ??? Pugnam por regras ou princípios consentâneos e igualitários ???  Trilham a mesma estrada e comungam dos mesmos objetivos ???

Claro que não. Longe disso. Transamazonicamente longe.

Pois foi esta a trajetória sinuosa, oportunista, chinfrim e um tanto quanto fedorenta percorrida pelo papo-furado, espertalhão e arrogante Ciro Gomes até aqui (politicamente), nem que para tanto tenha tido que abater e deixar pelo caminho, insepultos, restos mortais de fiéis companheiros de jornadas outras. E ai de quem cobrar-lhe fidelidade e coerência programático-ideológica: sua conhecida e pornográfica metralhadora giratória é acionada em todas as direções, sem dó nem piedade, independentemente de quem esteja à frente. O negócio é marcar posição. Seguir o script surrado e batido, mas de uma eficiência a toda prova e que objetiva, em última instância, angariar alguma “boquinha” pra si e seus áulicos. Enfim, manter-se empregado e muito bem remunerado, já que no Brasil, lamentavelmente, a “política” virou um rentável “meio de vida” (e a família Ferreira Gomes é o exemplo vivo e maior disso).

Quem não lembra, por exemplo, que, quando Lula da Silva disparou na disputa da eleição presidencial, Ciro Gomes rotulou-o de “despreparado” e “incendiário” para, após a vitória do oponente, silenciar e lacrar o bico com “superbond”, a fim de acomodar-se cândida e placidamente em um dos seus ministérios ???  E - suprema ironia - a partir de então, era Deus no céu e Lula da Terra.

Ou alguém já esqueceu que, mais recentemente, ao ter sua candidatura à Presidência da República abortada e descartada pelo próprio Lula (que optou por Dilma Rousseff), o senhor Ciro Gomes (então um poço transbordante de mágoas), compareceu aos mais diversos meios de comunicação (Globo, Record, SBT, Band e por aí vai) e, em horário nobre, afirmou para toda a nação, de forma contundente e desabrida, que o candidato Serra (seu inimigo maior), pelo currículo e pela experiência, era a pessoa mais preparada para dirigir o Brasil do que Dilma Rousseff; em seguida, depois de uma conversa entre quatro paredes com o staff lulista, virou coordenador da campanha da então candidata, aqui no Ceará ???

Naquela ocasião, informamos, aqui mesmo, com todas as letras, vírgulas e acentos disponíveis (postagem “Cada homem tem seu preço ???”) que “...para renunciar à candidatura presidencial e agüentar calado todo o corrosivo desgaste que atualmente atravessa, por baixo do panos mui provavelmente terá sido firmado, lá atrás, um “acordo de cavalheiros”, que garante ao senhor Ciro Gomes um ministério qualquer num futuro governo Dilma Rousseff (onde ele poderá abrigar todos os áulicos que o cercam e traficar influência)”.

Pois é, hoje, depois de fazer beicinho, de “detonar” alguns dos atuais ministros, de mostrar-se magoado com o andamento do processo da escolha sucessória ministerial, de ter sido considerado por toda a mídia brasileira como “carta fora do baralho” no primeiro escalão da presidente Dilma Rousseff, de viajar à Europa (Portugal) para “esfriar a cabeça e recarregar as baterias”, o senhor Ciro Gomes faz “charminho” e anuncia que “vai pensar” sobre se atende ou não o “honroso convite” da presidenta (que tentará a reeleição), para assumir um Ministério no seu governo. Já marcou até prazo para o anúncio: quando abril chegar.

Jogo de cena, perfumaria barata e de quinta categoria, enganação pura e simples. Ciro Gomes, apesar dos aparentes laivos de loucura e intempestividade, dos arroubos e estultices de praxe, dos desmentidos e vai-e-vem protocolares, já está escolhido ministro no atual governo Dilma Rousseff. E mais: deverá manter a posição num (quase certo) e previsível segundo mandato da presidenta.


Assim, enganou-se, gerou expectativa ou embarcou na canoa furada por ele oferecida, já que não é preciso se ser nenhum expert na política para se matar certas previsíveis charadas. 

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