Manchete de um dos cadernos
do jornal O POVO (Fortaleza-CE), edição de 15.01.14, alude sobre o relançamento
do livro “Milagre do Joaseiro”, de autoria do norte-americano Ralph Della Cava,
cuja primeira edição data de 1977, evidentemente tratando sobre Cícero Romão
Batista.
Que se saiba, não há nenhuma novidade, adendo ou atualização, donde se
conclui que teremos o mesmo, do mesmo, do mesmo. Ou seja, o velho, surrado e
batido discurso de sempre. Até porque o tema exauriu-se faz tempo, embora os
adeptos de Cícero Romão Batista teimem em mantê-lo em evidencia, porquanto a
Igreja ainda não lhe tirou o cáustico carimbo de “charlatão”, dificultando sua
ascensão à condição de “santo” (mas o fará, mais cedo ou mais tarde, por
injunções político-mercantis).
Bem que o eminente autor, aproveitando ser este o ano centenário da
beata Maria de Araújo, poderia agregar dois novos capítulos, específicos e
necessários: primeiro, discorrendo em profundidade a respeito da “causa mortis”
da coitada da beata; depois, tratando do extraordinário enriquecimento
(presumivelmente ilícito) de Cícero Romão Batista (no entanto, por motivos
óbvios ele jamais o faria, porquanto se o fizesse praticamente estaria a matar
a “galinha dos ovos de ouro”).
Com relação à beata Maria de Araújo, por exemplo, sabe-se, apenas e tão-somente que,
negra, analfabeta e filha de pais pobres, desde cedo foi adotada por Cícero
Romão Batista, que a abrigou em sua própria residência; que, fanática,
dispensava ao seu protetor obediência cega, leal e irrestrita, capaz até de por
ele sacrificar-se (o que acabou acontecendo); e, o mais importante, que padecia
de séria e gravíssima enfermidade, a ponto de recorrentemente expelir sangue
pela boca (às vistas do esperto padrinho) muito antes do tal “milagre da
hóstia”.
Pertinente, pois, o
questionamento: a pobre coitada da beata serviu de mero e vulgar (embora
eficiente) “instrumento”, a fim de viabilizar o engodo conhecido por “milagre
da hóstia”, definido pela própria Igreja Católica como charlatanismo puro
??? Afinal, todos os indícios apontam que, presumivelmente acometida
de tuberculose, ainda assim teria sido usada (desumanamente) até o limite da
sua condição físico-orgânica, por aquele em quem tanto confiava.
Lembremo-nos que, à época
da farsa, às pressas foram diligentemente confeccionados os famosos “paninhos”,
depositários do sangue da beata, para uso exaustivo como uma das “provas do
milagre”, mas que, depois, providencial e misteriosamente, sumiram (ou
queimados foram) como se houvesse o temor de, num futuro não tão distante, com
o vasto instrumental técnico que certamente adviria, um exame mais detalhado
pudesse diagnosticar “in totum” algo comprometedor, capaz, inclusive, de
“demolir” de vez com o tal “milagre”.
Tanto é que, mesmo
sabendo-a a principal protagonista do tal “milagre”, “post mortem” as
autoridades eclesiásticas de Juazeiro tomaram imediatas providencias visando
apagá-la de vez da memória popular, via destruição de todo e qualquer vestígio
que lembrasse sua presença. Assim, sintomaticamente o seu túmulo foi criminosamente
violado e, de forma conveniente (para beneficiar Cícero Romão Batista,
especificamente) seus restos mortais sumiram, escafederam-se, daí que Maria de
Araújo passou a ser conhecida como “a mulher sem túmulo”. Donde se pode
conjecturar que tal reflexão - o seu criminoso uso como “inocente útil” –
abriga, sim, consistência e fundamento.
Já no tocante ao estupendo
e extraordinário enriquecimento de Cícero Romão Batista, quando ingressou na
carreira política depois de expulso da Igreja, as evidencias indicam que o “modus
operandi” usado não se diferenciaria em nada dos usados atualmente pelos
desonestos políticos brasileiros, já que amealhou um colossal patrimônio
(terrenos, imóveis, fazenda, gado e por ai vai) em tempo relativamente curto e,
mais importante, sem que tivesse qualquer fonte de renda (nenhuma mesmo)
compatível. A(s) dúvida(s), então, seria(m): sobras de campanha??? dinheiro não
contabilizado ??? remessa do exterior ??? caixa dois ??? doações ??? descoberta
de uma botija ???
E se, à época, houvesse um magistrado destemido e despachado tal qual o
Joaquim Barbosa (dos dias atuais), será que Cícero Romão Batista se livraria de
uma pena exemplar ???
Como se vê, o octogenário norte-americano Ralph Della Cava perdeu uma
excelente oportunidade de se “reciclar”, no relançamento do seu livro, nos
brindando com o “complemento” da história real, ao invés de vir com a mesma
versão de 37 anos atrás (ao salgado preço de R$ 65,00).
Assim, só nos resta torcer para que futuramente apareça um “historiador”
com “H” maiúsculo, capaz de direcionar os holofotes para a “face oculta” de
Cícero Romão Batista (mesmo que nessa oportunidade ele já haja sido,
provavelmente, ungido ao patamar de santidade).
Agora, risível, desrespeitoso e beirando à cretinice, é que hoje,
17.01.14, no aniversário do centenário de nascimento de Maria Madalena do
Espírito Santo de Araújo, as autoridades juazeirenses tenham resolvido encenar
o enterro da própria (para tanto a mídia foi usada para convocar a população),
evidentemente que objetivando criar mais um local de exploração dos atarantados
romeiros. Dúvidas: o que colocarão dentro do caixão ??? O que mesmo será enterrado ???
São uns impiedosos e insensíveis.
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