sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ANTOLHOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Antolhos. Aquele anteparo que cega a visão lateral. Pode ser este o sentimento de alguém que leu a notícia da apreensão policial de um menor de idade, tentando roubar um casal de turistas em Copacabana.

Acontece que o caso ainda arde na chapa quente do noticiário. Este mesmo menor foi alvo de intenso debate nacional. Ele fora espancado e acorrentado a um poste por um grupo de vingadores que circulam pelas ruas do Bairro do Flamengo.

Em primeiro lugar a repercussão no Rio foi imediata. Yvone Bezerra, que se tornou uma referência em defesa das crianças assassinadas na Candelária no anos 90, foi quem desacorrentou o menor e denunciou o ato.

Depois uma apresentadora do SBT cometeu a burrice de, usando um serviço concedido, estimular o ato de espancamento e tripudiar em torno do menor. Aí o debate virou nacional. Muita gente não aceita este tipo de estímulo à violência com o uso de serviços públicos.

Agora o menor foi apreendido numa tentativa de roubo e foi encaminhado para um desses órgãos formais de recuperação por meio da justiça. Aí vem a história dos antolhos. Quem não consegue visualizar a lateralidade do mundo, imediatamente vai vociferar contra quem defendeu o direito humano.

Vai usar a reincidência ou comprovar que o menor era ladrão e merecedor do que sofreu. Efetivamente justificando a justiça pelas próprias mãos. As mãos mais fortes que inclusive podem ser pagas como os pistoleiros.
   
A apresentadora do SBT se não der a notícia por satisfação, irá dar um jeito de mostrar que ela tinha razão. Afinal o debate é público. E a vingança é uma das mais antigas ações do drama humano.

Mas aí vamos para a lateralidade. Um mesmo ator (o menor) recebendo dois tratamentos distintos. No primeiro ele foi agredido em seu direito humano (escrito na lei). E no segundo ele vai se submeter à normas sociais em razão do seu ato.


Isso faz toda a diferença. 

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