Antolhos. Aquele anteparo que cega a visão lateral. Pode ser
este o sentimento de alguém que leu a notícia da apreensão policial de um menor
de idade, tentando roubar um casal de turistas em Copacabana.
Acontece que o caso ainda arde na chapa quente do
noticiário. Este mesmo menor foi alvo de intenso debate nacional. Ele fora
espancado e acorrentado a um poste por um grupo de vingadores que circulam
pelas ruas do Bairro do Flamengo.
Em primeiro lugar a repercussão no Rio foi imediata. Yvone
Bezerra, que se tornou uma referência em defesa das crianças assassinadas na
Candelária no anos 90, foi quem desacorrentou o menor e denunciou o ato.
Depois uma apresentadora do SBT cometeu a burrice de, usando
um serviço concedido, estimular o ato de espancamento e tripudiar em torno do
menor. Aí o debate virou nacional. Muita gente não aceita este tipo de estímulo
à violência com o uso de serviços públicos.
Agora o menor foi apreendido numa tentativa de roubo e foi
encaminhado para um desses órgãos formais de recuperação por meio da justiça.
Aí vem a história dos antolhos. Quem não consegue visualizar a lateralidade do
mundo, imediatamente vai vociferar contra quem defendeu o direito humano.
Vai usar a reincidência ou comprovar que o menor era ladrão
e merecedor do que sofreu. Efetivamente justificando a justiça pelas próprias
mãos. As mãos mais fortes que inclusive podem ser pagas como os pistoleiros.
A apresentadora do SBT se não der a notícia por satisfação,
irá dar um jeito de mostrar que ela tinha razão. Afinal o debate é público. E a
vingança é uma das mais antigas ações do drama humano.
Mas aí vamos para a lateralidade. Um mesmo ator (o menor) recebendo
dois tratamentos distintos. No primeiro ele foi agredido em seu direito humano
(escrito na lei). E no segundo ele vai se submeter à normas sociais em razão do
seu ato.
Isso faz toda a diferença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário