segunda-feira, 14 de abril de 2014

ESPECTROS NÃO DECLARAM QUE ESPREITAM A TORTURA - José do Vale Pinheiro Feitosa

O homem é a única espécie que tortura seu semelhante” – Leneide Duarte-Plon.

Esta frase destila simultaneamente dois sentidos: um paredão que prende e a instigação para o rompimento da inércia. No primeiro sentido nada se pode fazer a respeito da maldade humana. Ela é uma extensão do seu ser assim como o fato de se compor de tronco, cabeça e membros.

E a tortura nos diz dos tempos de hoje e drena sobre o nosso corpo pela força motriz das ditaduras e da violência de classe que, profundamente, se enraizaram na história do país. Especialmente na superfície da nossa pele por força da Ditadura Militar, que criou, sob a tutela de servidores do Estado, de coronéis, generais, brigadeiros e almirantes, a tortura não como extensão humana, mas como extensão do próprio regime.

E a referência deste texto é o cearense Tito de Alencar Lima. O dominicano chamado Frei Tito. E qual o sentido da referência? O rompimento da inércia. Os humanos podem superar suas práticas mesmo que milenares. Eles podem ser diferentes de si mesmo sem perder a sua humanidade.

Ele pode condenar a tortura e jamais deixar-se levar pela prática da tortura. Um dos mais revolucionários movimentos da antiguidade foi o cristianismo. Rompeu a inércia sobre um conjunto imenso de naturezas arraigadas ao ser humano como a situação escravagista do Império Romano e o farisaísmo da elite da igreja judaica de Jerusalém.

E na contagem do tempo não restam dúvidas que a violência instituída no Estado brasileiro era parte da ruptura democrática e da subordinação integral ao império americano frente aos conflitos da guerra fria. Mas dizer isso não é dizer tudo.

Frei Tito foi torturado, alquebrado, milimetricamente fragmentada a sua integralidade de modo que ao final só lhe restou uma corda pendurada numa árvore para sustentar um corpo que desde os porões pervertidos havia perdido o seu ser. Encontrar o galho tensionado pelo peso dos quilos do corpo inerte não completa a narrativa.

Em Frei Tito se encontram as ventosas sugadoras dos torturados e do regime que os sustentava. Não se pode lembrar Frei Tito sem esquecer os generais, brigadeiros e almirantes. Sem esquecer toda aquela hierarquia subalterna que transferiu a cadeia de comando até as mãos de Sérgio Paranhos Fleury, Capitão Benoni Albernaz e tantos outros que cínicos se apegam a razões que apenas justificam a inércia do paredão. O paredão da maldade humana insuperável.



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