“O homem é a única
espécie que tortura seu semelhante” – Leneide Duarte-Plon.
Esta frase destila simultaneamente dois sentidos: um paredão
que prende e a instigação para o rompimento da inércia. No primeiro sentido
nada se pode fazer a respeito da maldade humana. Ela é uma extensão do seu ser
assim como o fato de se compor de tronco, cabeça e membros.
E a tortura nos diz dos tempos de hoje e drena sobre o nosso
corpo pela força motriz das ditaduras e da violência de classe que,
profundamente, se enraizaram na história do país. Especialmente na superfície
da nossa pele por força da Ditadura Militar, que criou, sob a tutela de
servidores do Estado, de coronéis, generais, brigadeiros e almirantes, a
tortura não como extensão humana, mas como extensão do próprio regime.
E a referência deste texto é o cearense Tito de Alencar
Lima. O dominicano chamado Frei Tito. E qual o sentido da referência? O
rompimento da inércia. Os humanos podem superar suas práticas mesmo que
milenares. Eles podem ser diferentes de si mesmo sem perder a sua humanidade.
Ele pode condenar a tortura e jamais deixar-se levar pela
prática da tortura. Um dos mais revolucionários movimentos da antiguidade foi o
cristianismo. Rompeu a inércia sobre um conjunto imenso de naturezas arraigadas
ao ser humano como a situação escravagista do Império Romano e o farisaísmo da
elite da igreja judaica de Jerusalém.
E na contagem do tempo não restam dúvidas que a violência
instituída no Estado brasileiro era parte da ruptura democrática e da
subordinação integral ao império americano frente aos conflitos da guerra fria.
Mas dizer isso não é dizer tudo.
Frei Tito foi torturado, alquebrado, milimetricamente fragmentada
a sua integralidade de modo que ao final só lhe restou uma corda pendurada numa
árvore para sustentar um corpo que desde os porões pervertidos havia perdido o
seu ser. Encontrar o galho tensionado pelo peso dos quilos do corpo inerte não
completa a narrativa.
Em Frei Tito se encontram as ventosas sugadoras dos
torturados e do regime que os sustentava. Não se pode lembrar Frei Tito sem
esquecer os generais, brigadeiros e almirantes. Sem esquecer toda aquela
hierarquia subalterna que transferiu a cadeia de comando até as mãos de Sérgio
Paranhos Fleury, Capitão Benoni Albernaz e tantos outros que cínicos se apegam
a razões que apenas justificam a inércia do paredão. O paredão da maldade
humana insuperável.
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