terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quando o verde dos teus olhos se espalhou na plantação - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João” as levas de retirantes libertos das pernas estropiadas, “em um caminhão, ele joga a famia, chegou o triste dia, já vai viajar.” Vai dia e vem dia e o “carro rodando, na estrada do Sul.”

“Faz pena o nortista, tão forte e tão bravo” sofrendo de sede no norte e no sul. “Hoje longe, muitas léguas, numa triste solidão, espero a chuva cair de novo, pra mim voltar pru meu sertão”. Falta água na cidade, nas mangueiras dos bombeiros, falta água prá banhar-se, falta água prá beber.

E tanta gasolina foi gasta para fugir da seca no norte e depois de arranhada quase a quarta parte do planeta, chegou a São Paulo para suprimir-se com um conta gotas da água que lhe chega. Como se diz por lá: preparando-se para uma vida sem água.

Preparando-se para gastar toda a poupança no mercado negro do líquido essencial à vida. Quem sabe no calor do verão que já se anuncia do horizonte a chuva chegue, mas os abismos das coisas ruins apontam para uma tensão de necessidade premente e de ódio por quem terá direito à gota d´água.

E pensar que não se juntou mais água porque era preciso pagar os dividendos da companhia de abastecimento para que assim os seus “investidores” tivessem mais “confiança”. E pensar que os investimentos para matar a sede não foram feitos e o Governador de São Paulo será reeleito.


Depois a sede continua explicando como se pensa o momento e depois se decepciona com as decisões ali tomadas. E isso é da democracia: sempre é possível agir diferente do que já se agiu.    

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