segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CONSUMO DE MACONHA NO URUGUAI ACIMA DO CONSUMO DE TABACO É EFEITO DA LIBERAÇÃO OU MÁ NOTÍCIAS DA MÍDIA? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Na semana passada nos jornais, portais de notícias, televisões, nos telões em ônibus e salas de espera, uma notícia revelou o despreparo de jornalistas, o preconceito e a tendência de interpretar os fatos com premissas que nem sempre se revelam. Qual a notícia?

Pela primeira vez no Uruguai o consumo de maconha ultrapassa o de tabaco. Qual o entrecho da notícia?

A política de liberação da maconha havia avançado o consumo de maconha a ponto de ultrapassar o consumo de tabaco.

Mas aí é que vem o problema. Tudo se referia a uma pesquisa feita pela Junta Nacional de Drogas e pelo Observatorio Uruguayo de Drogas em jovens escolares na faixa entre 13 e 17 anos, feita em sala de aula. Os inquéritos foram auto administrados e a amostra nacional.

O que se pretendia analisar? A tendência do consumo de várias drogas ao longo dos anos, o papel protetor da escola e dos pais. O inquérito levantava o consumo de drogas nos últimos doze meses e no último mês e teve o seguinte resultado: álcool (60,2%), bebidas energizantes (37,2%), maconha (17%), tabaco (15,5%), tranquilizantes (7,1%), cocaína (2,15), estimulantes (1,4%), êxtase (0,8%), haxixe (0,5%), crack (0,5%), metanfetaminas (0,3%) e anfetaminas (0,2%).

O inquérito mostrou que a escola e os pais tinham um papel protetor e que a drogas de consumo mais precoce em termos de idade foram o álcool e o tabaco. O tabaco teve uma grande redução no consumo, passando de 30,2% a prevalência de fumantes no último mês no ano de 2003 para 9,2% em 2014.  

O abuso de álcool (igual ou superior a dois litros de cerveja, 3/4 litros de vinho e 4 doses de destilado) nos últimos quinze dias ocorreu em 32,5% dos estudantes que beberam. A prevalência ano da maconha passou de 8,4% em 2003 para 17% em 2014. Em toda a vida a prevalência de maconha é de 20,1%, no ano 17% e no mês 9,5%. Como se observa, o crescimento do consumo de maconha é um fenômeno antigo e o inquérito não identificou nenhum salto no consumo. A lei existe há apenas doze meses. Este efeito só poderá ser analisado com vários anos de observação.

Uso problemático da maconha. Há uma tabela de risco chamada escala CAST (Cannabis Abuse Screening Test) que cruza frequências (fumar antes do meio dia, estando só) e consequências do consumo (problemas de memória, querer reduzir o consumo, tentado reduzir, tido problemas) com uma tabela de classificação: raramente, de vez em quando, bastante a miúdo, muito a miúdo. Assim o valor 1 é baixo risco, 2-3 é risco moderado e 4-6 é risco alto.  

O padrão uruguaio é que 66,9% dos que fumaram maconha nos últimos doze meses têm risco baixo, 20,4% têm risco moderado e 12,6% tem risco alto o que corresponde a 1,9% do total de estudantes. A prevalência ano da cocaína era de 1,7% no ano de 2003, cresceu para mais 5% em 2007 e agora tem é de 2,1%. Já se começa a observar o efeito da liberação da maconha quando 53,3% considera que é fácil ter acesso à droga.

Ficou claro que a percepção do risco do consumo é inversamente proporcional à prevalência de consumo, quanto maior a percepção do risco menos se usa a droga. O inquérito também identifica que o envolvimento dos pais é um fator protetor, comparando situações, o consumo é maior nos jovens cujo envolvimento dos pais é baixo quando comparado ao de alto envolvimento. E isso é mais acentuado para as drogas mais pesadas. Por exemplo, como o álcool é da cultura a diferença existe mão não tanto quanto no consumo do tabaco, da maconha e da cocaína.

Em outras palavras quem não foi à fonte e a entendeu, bebeu a água turva da informação na grande mídia (as agências de notícias e os veículos).

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