De modo simplificado. Reconheço fácil de errar. Mesmo assim
vou adiante. Adiante em busca de explicações para o nosso momento histórico.
Comecemos pelo sistema econômico predominante na atual fase
da história. Baseado na supremacia e no monopólio do dinheiro (capital) sobre
todos os bens matérias e a ordem política. Ao transformar a ordem de todas as
coisas em tabelas precificadas, incluindo os valores morais e portanto
atinentes à justiça, se aproximou da natureza largamente conhecida do Deus
bíblico.
Onipresente, onisciente e onipotente. Ao mercantilizar todas
as relações humanas, este sistema econômico criou uma superestrutura, que
abarca desde a cultura até a amamentação da criança no peito da mãe. E, neste
momento, ele fere de morte alguns princípios e esperanças muito próximas das
religiões semitas (judaísmo, cristianismo e islamismo), incluindo a
religiosidade de natureza oriental.
O princípio do merecimento diante do amor ao Deus ou às
regras de conduta estabelecidas. Atinge, portanto, o princípio da bondade
eterna de Deus onde para ele todos somos iguais em piedade, benevolência e
proteção de um pai compreensivo. Até mesmo o conceito da punição se corrompe
neste tipo de ordem onde o efetor da ordem é meramente a acumulação numérica de
moedas (sob a forma de bens e direitos particulares).
Por isso quando algumas correntes filosóficas procuraram
entender o mundo sob a ótica possível do materialismo histórico muitos viram
ali a mera negação de Deus, quando na verdade se fazia a leitura do sistema
econômico que nascera com a revolução burguesa na Europa Ocidental. Qual seja,
a revolução materialista que opera com os mitos, fetiches e crenças sobre a
esfera material da acumulação e da extração de trabalho tudo mediado por
relações matemáticas de moedas.
Baseado na acumulação, o sistema é por essência excludente,
marginal às regras sociais (só presta devoção à regra da acumulação seja direta
ou dissimulada), mas ao mesmo tempo detentor de regulações autoprotetoras de
fluxo e status, onde o privilégio é de quem se encontra no topo tentando se
sustentar.
Acumulando até mesmo além dos limites do céu, o sistema é
corrupto de todas normas históricas da cultura, das religiões e de certas
normas morais assentadas em tradições antigas. Por isso na indústria se retira
parcela do valor do trabalho para os donos do capital, no comércio se corrompem
todas as normas pelo lucro.
Eles sonegam impostos que regulariam seus excessos de acumulação.
Comparativamente às corrupções recém descobertas nas operações de empresas como
a Petrobrás, envolvendo políticos, a sonegação é uma montanha em relação ao
monturo. Dados da Tax Justice Network revelam que o Brasil perdeu em evasão
fiscal só no ano de 2012 em direção a paraísos fiscais algo em torno de 280 bilhões
de dólares (na cotação do dólar na época seriam 490 bilhões de reais).
E agora paramos nisso? Ao contrário. Precisamos argumentar,
participar, lutar por uma sociedade mais justa, igualitária economicamente, que
abra oportunidade para as pessoas que são diferentes historicamente até o
limite da contradição deste sistema. A partir daí o momento definirá a ocasião
desta superação, pois não é verdade que após ele só o caos.
De caos eles entendem bem. O caos, sob a face da
irracionalidade e da supressão de oportunidades é a lógica virtuosa do seu
porvir. Mas é no caos mesmo que uma nova ordem nasce. Isso muita gente conhece
nas primeiras letras da antiguíssima narrativa bíblica da origem de tudo.
O novo Tea Party brasileiro ainda é um pastiche e não creio
que tenha bases sociais para repetir a experiência republicana americana. Mas
são eles na rua que apontam para uma agenda negativa, da disrupção, puramente
aversiva e martelada na corrupção em parte para esconder a corrupção geral.
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