quarta-feira, 15 de abril de 2015

O BRASIL NUM MOMENTO CRÍTICO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Se fosse apenas uma ficção seria fácil o enredo. Mas é realidade. Dura. Dividida. De classes. Com preconceitos raciais, sociais, econômicos, comportamentais e religiosos. E que se sustenta em classes hereditárias que controlam os meios de comunicação, bancos, comércio, indústria e financiam os governos e por tabela controlam o Estado.

Assim um sujeito da classe média tradicional que foi privilegiado pelos anos de Ditadura e de algum modo alvo do modelo de desenvolvimento industrial e, agora, com a globalização se encontra numa situação de stress absoluto. Por duas percepções objetivas e por insuflação externa com razões geopolíticas.

As duas percepções provocam pavor pelas perdas de privilégios e os ameaçam ainda mais no futuro. Entre estes privilégios se encontram o da perda da mão-de-obra barata que servia à residência e aos serviços de lazer. A outra foi a ampliação do crédito “encarecendo” a vida do “empregado” agora consumindo gás butano, luz elétrica, linha branca e outros eletrônicos.

A classe média tradicional de repente viu suas reservas de consumo serem invadidas pelo “outro” em ambientes tais como aeroportos, shoppings, restaurantes, clubes, balneários e assim por diante. De algum modo, precariamente ou não, as classes menos favorecidas têm a educação pública e a saúde pública. Mas a classe média tradicional paga do bolso o plano de saúde e educação dos filhos e ainda tem a sensação de ser a única pagadora de impostos, em razão do imposto de renda com seus ajustes individuais.

Os pobres pagam relativamente mais impostos que estão embutidos em seu consumo básico, mas quem tem a percepção do desembolso é a classe média tradicional. E tem outro agravante de classe: os trabalhadores das grandes empresas recebem planos de saúde na negociação salarial e isso deixa os pagadores individuais mais revoltados ainda. Acontece que Plano de Saúde é sustentado pelos chamados Planos Coletivos (ou Planos Empresa) e não gostam de planos individuais. Aí a classe média tradicional sente-se mais desamparada ainda.

Existe uma contradição no país: seguimos o modelo inglês (com sistema de saúde e educação efetivamente universal) ou o modelo americano (com base em planos de saúde e ensino pago)? Um modelo com base em direito social e outro baseado num bem de consumo, como se educação e saúde fossem apenas consumo. Aqui coexistem e disputam espaço político os dois modelos. Os governos do PT não superaram esta contradição e o problema está posto.

As manifestações de rua de agora e aquelas de 2013 refletem este indefinido mundo. Qual rumo integralmente seguiremos? Não é possível adotar os dois modelos ao mesmo tempo pois a geração de contradições é a regra. Medos, invejas, revolta, sentimento de rejeição e ódios acumulados irão caracterizar o nosso universo político. Por isso ouvimos frases nas manifestações de agora em que o mesmo sujeito fala mal de Cuba e diz que quer uma saúde e educação pública. Ele quer a opção socialista deste direito e não as leis de mercado mas seu discurso é esquizofrênico.

A outra coisa é que fica cada vez mais evidente a interferência americana na política da sociedade brasileira com a finalidade de se apropriar de seus desencontros para proveito do seu plano imperial. Quando Snowden denunciou o bisbilhotar das agências do governo americano no Brasil se referia à Petrobrás e ao BNDES, dois importantes instrumentos do desenvolvimento nacional.

A operação lava jato junta a sua ponta com a espionagem americana desovando segredos. E tudo fica mais evidente pelo ataque especulativo dos investidores americanos da Petrobrás querendo destruir a empresa, em associação com “agentes” políticos brasileiros de modo a se apropriarem do cadáver. As estratégias e táticas dos “abutres” são exaustivamente esclarecidas e reconhecidos na sua atual ação.

Agora os chineses, observando a “operação americana” chegaram em socorro da Petrobrás, frustrando todos aqueles na operação desestabilizadora promovida pela Folha de São Paulo, Globo, Estado de São Paulo, políticos tipo José Serra e a classe média tradicional desamparada em seu caminho ao futuro.

É preciso superar a dureza destas contradições trazendo para o conjunto da sociedade a mesma expectativa de direitos sociais, de projeto de nação e de inserção soberana internacional. Não tenhamos ilusões, uma coisa é a saída individualista que pode amar os EUA ou a Europa e por lá viver melhor que aqui e a outra é a saída nacional, onde temos que preservar e considerar que todo mundo defende os interesses de nação: alemães, americanos, chineses Etc.


Como, obviamente, nós.   

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