Se fosse apenas uma ficção seria fácil o enredo. Mas é
realidade. Dura. Dividida. De classes. Com preconceitos raciais, sociais, econômicos,
comportamentais e religiosos. E que se sustenta em classes hereditárias que
controlam os meios de comunicação, bancos, comércio, indústria e financiam os
governos e por tabela controlam o Estado.
Assim um sujeito da classe média tradicional que foi
privilegiado pelos anos de Ditadura e de algum modo alvo do modelo de
desenvolvimento industrial e, agora, com a globalização se encontra numa
situação de stress absoluto. Por duas percepções objetivas e por insuflação
externa com razões geopolíticas.
As duas percepções provocam pavor pelas perdas de
privilégios e os ameaçam ainda mais no futuro. Entre estes privilégios se
encontram o da perda da mão-de-obra barata que servia à residência e aos
serviços de lazer. A outra foi a ampliação do crédito “encarecendo” a vida do “empregado”
agora consumindo gás butano, luz elétrica, linha branca e outros eletrônicos.
A classe média tradicional de repente viu suas reservas de
consumo serem invadidas pelo “outro” em ambientes tais como aeroportos,
shoppings, restaurantes, clubes, balneários e assim por diante. De algum modo,
precariamente ou não, as classes menos favorecidas têm a educação pública e a
saúde pública. Mas a classe média tradicional paga do bolso o plano de saúde e
educação dos filhos e ainda tem a sensação de ser a única pagadora de impostos,
em razão do imposto de renda com seus ajustes individuais.
Os pobres pagam relativamente mais impostos que estão
embutidos em seu consumo básico, mas quem tem a percepção do desembolso é a
classe média tradicional. E tem outro agravante de classe: os trabalhadores das
grandes empresas recebem planos de saúde na negociação salarial e isso deixa os
pagadores individuais mais revoltados ainda. Acontece que Plano de Saúde é
sustentado pelos chamados Planos Coletivos (ou Planos Empresa) e não gostam de
planos individuais. Aí a classe média tradicional sente-se mais desamparada
ainda.
Existe uma contradição no país: seguimos o modelo inglês
(com sistema de saúde e educação efetivamente universal) ou o modelo americano (com
base em planos de saúde e ensino pago)? Um modelo com base em direito social e
outro baseado num bem de consumo, como se educação e saúde fossem apenas
consumo. Aqui coexistem e disputam espaço político os dois modelos. Os governos
do PT não superaram esta contradição e o problema está posto.
As manifestações de rua de agora e aquelas de 2013 refletem
este indefinido mundo. Qual rumo integralmente seguiremos? Não é possível
adotar os dois modelos ao mesmo tempo pois a geração de contradições é a regra.
Medos, invejas, revolta, sentimento de rejeição e ódios acumulados irão caracterizar
o nosso universo político. Por isso ouvimos frases nas manifestações de agora
em que o mesmo sujeito fala mal de Cuba e diz que quer uma saúde e educação
pública. Ele quer a opção socialista deste direito e não as leis de mercado mas
seu discurso é esquizofrênico.
A outra coisa é que fica cada vez mais evidente a
interferência americana na política da sociedade brasileira com a finalidade de
se apropriar de seus desencontros para proveito do seu plano imperial. Quando Snowden
denunciou o bisbilhotar das agências do governo americano no Brasil se referia
à Petrobrás e ao BNDES, dois importantes instrumentos do desenvolvimento nacional.
A operação lava jato junta a sua ponta com a espionagem
americana desovando segredos. E tudo fica mais evidente pelo ataque
especulativo dos investidores americanos da Petrobrás querendo destruir a
empresa, em associação com “agentes” políticos brasileiros de modo a se
apropriarem do cadáver. As estratégias e táticas dos “abutres” são
exaustivamente esclarecidas e reconhecidos na sua atual ação.
Agora os chineses, observando a “operação americana”
chegaram em socorro da Petrobrás, frustrando todos aqueles na operação
desestabilizadora promovida pela Folha de São Paulo, Globo, Estado de São Paulo,
políticos tipo José Serra e a classe média tradicional desamparada em seu
caminho ao futuro.
É preciso superar a dureza destas contradições trazendo para
o conjunto da sociedade a mesma expectativa de direitos sociais, de projeto de
nação e de inserção soberana internacional. Não tenhamos ilusões, uma coisa é a
saída individualista que pode amar os EUA ou a Europa e por lá viver melhor que
aqui e a outra é a saída nacional, onde temos que preservar e considerar que
todo mundo defende os interesses de nação: alemães, americanos, chineses Etc.
Como, obviamente, nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário