domingo, 10 de maio de 2015

LIBERDADE ÀS MÃES - José do Vale Pinheiro Feitosa

Mãe toda vez que busco tua definição, apesar da maternidade que sou eu, encontro na raiz a mulher que me abriu a luz deste mundo. Mesmo matéria da fusão com a matriz linguística pater, sei que matriz é a mesma coisa que se manifesta em ti.

Tu mulher. Mesmo que minha voz seja feminina é a tua condição de gênero, nesta divisão do trabalho, da renda, dos bens, do acesso aos parâmetros desta civilização, que posso dizer: eis aí uma civilização desgraçada. Aquela que discrimina a ti, mulher.

E não adiante toda esta ternura, por um dia apenas, se do meu amor não surgir uma forte ação permanente para superar o rebaixamento das mulheres em relação aos homens. É disso que falamos no dia das mães. Da condição relativamente discriminada.

E quando canto o amor por ti mãe, preciso ouvir o acompanhamento da melodia, entender os ruídos que a cercam. De outro modo o encanto musical me aliena da tua condição. A tua condição de mulher.

O que do teu corpo fazem como mercadoria de consumo erótico. Como suporte para o fetiche de roupas, joias, cremes e produtos gourmet. Do teu útero que alugam para fazer crescer os delírios genético das classes endinheiradas.

Tu mulher, quanto mais pobre, mais discriminada, usada e descartada. Vítima de abusos. Atacada por uma moral que dizem religiosa e que parecem retornar às pedras lançadas sobre o corpo frágil de Madalena.

E por ti, mãe, que medra até mesmo nas pedras, eu sei que tudo isso nada tem a ver com qualquer fragilidade inerente. Jamais, em momento algum, tive o menor indício de que esta discriminação tenha a ver contigo. Por um mínimo traço que seja do teu ser de mulher a justificar o que esta civilização desgraçada faz de ti.


E sei, mãe, é da tua coragem que a revolução onde se diz igualdade às mulheres nascerá. Da tua luta. Da tua denúncia. Da tua liberdade. Onde nenhum padrão de consumo, de negócio ou moral patriarcal irá tracejar o teu destino.    

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