Mãe toda vez que busco tua definição, apesar da maternidade
que sou eu, encontro na raiz a mulher que me abriu a luz deste mundo. Mesmo
matéria da fusão com a matriz linguística pater,
sei que matriz é a mesma coisa que se manifesta em ti.
Tu mulher. Mesmo que minha voz seja feminina é a tua
condição de gênero, nesta divisão do trabalho, da renda, dos bens, do acesso
aos parâmetros desta civilização, que posso dizer: eis aí uma civilização
desgraçada. Aquela que discrimina a ti, mulher.
E não adiante toda esta ternura, por um dia apenas, se do meu
amor não surgir uma forte ação permanente para superar o rebaixamento das
mulheres em relação aos homens. É disso que falamos no dia das mães. Da condição
relativamente discriminada.
E quando canto o amor por ti mãe, preciso ouvir o
acompanhamento da melodia, entender os ruídos que a cercam. De outro modo o
encanto musical me aliena da tua condição. A tua condição de mulher.
O que do teu corpo fazem como mercadoria de consumo erótico.
Como suporte para o fetiche de roupas, joias, cremes e produtos gourmet. Do teu
útero que alugam para fazer crescer os delírios genético das classes
endinheiradas.
Tu mulher, quanto mais pobre, mais discriminada, usada e
descartada. Vítima de abusos. Atacada por uma moral que dizem religiosa e que
parecem retornar às pedras lançadas sobre o corpo frágil de Madalena.
E por ti, mãe, que medra até mesmo nas pedras, eu sei que tudo
isso nada tem a ver com qualquer fragilidade inerente. Jamais, em momento
algum, tive o menor indício de que esta discriminação tenha a ver contigo. Por
um mínimo traço que seja do teu ser de mulher a justificar o que esta
civilização desgraçada faz de ti.
E sei, mãe, é da tua coragem que a revolução onde se diz
igualdade às mulheres nascerá. Da tua luta. Da tua denúncia. Da tua liberdade.
Onde nenhum padrão de consumo, de negócio ou moral patriarcal irá tracejar o
teu destino.
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