quinta-feira, 11 de junho de 2015

Flores Fechadas - José do Vale Pinheiro Feitosa


Flores fechadas. Grilos se repetindo ao infinito. Uma brisa que se injeta até aos ossos. Como este bocejo que diz inútil despertar-se numa potência de sono.

Luzes da cidade. Uma trilha a iluminar o vazio das ruas. Os operários acordados na madrugada para embarcar na condução até o chão da fábrica. Estas cidades dormitórios, que abrigam os leitos daqueles que apenas deitam em si no final dos tempos. Ademais vigilam seus corpos e mentes na mais valia dos sócios das máquinas.

Os ônibus, qual tamanduás sugando formigueiros, recolhem a mão-de-obra em seu vente para depois solta-la bem em frente ao relógio de ponto. E até se imagina que os pardais tornam a copa de alguma árvore uma zoeira só em denúncia das madrugadas acordadas.

O peso desta quadrilha puxada pelo trabalho e capital, numa luta de classe que torna a madrugada um escoadouro de lamentos e profundidades. Profundidades que não conscientizam, ao contrário, apenas é uma armadilha a quebrar as pernas dos transeuntes da história.

E siga-se além ou aquém destes personagens notívagos nas franjas dos momentos finais da noite longa, fria e escura. E tome-se a trilha das dunas, suba e desça como um pássaro lutando para se manter no ar.

Ofegante no mais alto destas montanhas móveis, tome o olhar que não lhe escape da realidade. Jamais ela lhe desamparará em conteúdo desta história crônica e mortal. Sempre lembrará destes destinos usados e abusados até o limite do tempo vivido e perdido no contracheque que lhe compra o tempo por si inventado.

E então descubra que afinal no limite da sede e da fome, ainda lhe resta esta consciência: o tempo quem inventa é você. E o tempo é a matéria prima onde a onipresença do dinheiro se inventa.

E sinta. Por estas terras, lagoas, ventos e mares, o sol iluminou as cenas de humanos que mediavam a vida diretamente, mesmo quando deuses se interpunham. Mediavam sem necessidade de tudo ser mediado pelo dinheiro.

Assim como pelas meninas dos meus olhos as flores se abrem, os grilos se calam e lá no meio do imenso e belo Oceano Atlântico, o sol surge em luz. Explodindo raios por todas as brechas das nuvens.


Surge criando um rastro iluminada nas águas que nunca param, apenas mudam de cor como a revelar que nada permanece a mesma cor. Que “é de manhã vem o sol, mas os pingos da chuva, que ontem caíram, ainda estão a brilhar. ” 

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