quarta-feira, 22 de julho de 2015

"OSKAR SCHINDLER": O Alemão Herói Israelense - José Nilton Mariano Saraiva

Pobre, porém carismático, desenvolto, audacioso, envolvente e, essencialmente “bicão”, o empresário alemão Oskar Schindler tinha uma verdadeira obsessão (ou objetivo maior de vida): “juntar dinheiro, muito dinheiro”, a fim de usufruir os prazeres da vida. E a oportunidade perfeita para isso se lhe apresentou com a deflagração da Segunda Grande Guerra Mundial, quando, antevendo benefícios futuros, radicou-se na Polônia e, na base de “muita conversa e gentilezas mil”, ardilosamente aproximou-se dos principais líderes regionais do exército alemão e, traficando influência, conseguiu financiamento pra abrir uma “fábrica de panelas”, com mercado garantido pelos “novos amigos”, usando para tanto a mão de obra barata dos miseráveis judeus moradores do Gueto de Cracóvia.

Com o acirramento do confronto, o alto comando alemão em Berlim exacerbou em termos de violência, ordenando a execução sumária de todos os judeus que, a critério de cada ocupante de chefia, fossem considerados “não produtivos” (especialmente idosos, crianças e doentes de qualquer idade); na Polônia, muitos foram encaminhados para uma espécie de “ante-sala da morte”, o campo de concentração de Plaszow (inclusive os empregados da fábrica de Schindler).

Valendo-se das amizades com os integrantes da cúpula alemã, Schindler mostrou-lhes a dificuldade que enfrentaria pra manter o negócio, do prejuízo que teria por falta de mão-de-obra “especializada”, e, especialmente, do iminente “fechamento da torneira” (cessação das propinas destinadas aos graduados alemães) em razão do “stop” no faturamento, findando por convencê-los a liberar os presos durante o dia; à noite, voltavam pra dormir no campo de concentração (uma espécie de regime semi-aberto, como o vigente hoje no Brasil pra certos “privilegiados”).

No entanto, as coisas ficaram ainda mais negras para os alemães quando os russos, tal qual um rolo compressor incontrolável, avançaram através dos territórios dominados pelos germânicos. A ordem de Berlim, então, foi desativar às pressas alguns dos campos de concentração (Plaszow estava na agenda), via eliminação incontinente dos seus moradores, livrando, como sempre, tão somente os fortes, que pudessem empreender uma longa travessia na neve, rumo a outras unidades mais afastadas, onde mais cedo ou mais tarde também seriam descartados. 

E aí aflorou a “sensibilidade” do alemão Oskar Schindler. Testemunha ocular e diuturno dos abusos e barbaridades perpetradas por seus conterrâneos contra aquela gente humilde e sofrida, à qual findara por se afeiçoar no convívio diário, “escancarou o cofre”, pegou até o último centavo da imensa fortuna que houvera amealhado (pra “usufruir os prazeres da vida”, lembremo-nos), corrompeu o “novo chefe alemão” de plantão e “comprou” a liberdade de cerca de mil e duzentas pessoas, devidamente relacionadas em diversas laudas de papel, naquela que posteriormente ficou mundialmente conhecida como a “lista de Schindler”.

Transportou-os para a sua cidade natal - Brinnlitz – onde “inventou” uma fábrica de “projéteis pra armas militares” (na realidade, apenas para mantê-los ocupados, já que sem nenhum “know-how” na atividade); tanto que, em off, dizia claramente que se sentiria... “terrivelmente frustrado se algum daqueles projéteis servisse pra matar alguém”.

Com o fim da Guerra e a vitória dos aliados, o alemão Schindler teve que fugir e acabou se livrando de ser preso em razão de portar um documento subscrito por aqueles 1.200 judeus que salvara, onde atestavam a grandiosidade do que ele havia feito. 

Alfim e no crepúsculo da vida Schindler teve que ser ajudado pelos seus Schindlerjudes (“Judeus de Schindler") – aqueles cujas vidas ele salvou durante a guerra. 
Em 1963 Schindler recebeu a designação de “Justos entre as nações” concedida pelo governo de Israel. Morreu em 09 de Outubro de 1974 e posteriormente teve o corpo transladado da Alemanha para Jerusalém e enterrado no Monte Sião sendo o único membro do partido nazista a merecer tamanha honraria. Ainda hoje é tido como um “herói israelense”.

Uma particularidade marcante: certamente que visando estabelecer uma espécie de “simbiose” com a “negritude” que foi o aterrorizante período nazista, o filme de aproximadamente 03 horas de duração foi rodado em “preto-e-branco” e, só nos últimos 5/10 minutos, nas cenas em que alguns dos antigos componentes da “Lista de Schindler” (ainda vivos em Israel), prestam-lhe uma comovida homenagem, ao depositar um pequeno pedaço de pedra sobre o seu mausoléu, na tela repentinamente afloram as cores, o colorido, a vida, enfim, como a anunciar que os tempos são outros.

Sem dúvida, um filme tocante, sensível, de balançar e mexer com a estrutura de qualquer ser humano  (A Lista de Schindler).




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