sexta-feira, 18 de dezembro de 2015


MARINGÁ

E por estes dias. Andei lendo sobre a dinastia política da família Barros de Maringá. Sucessão há três gerações dos poderes públicos que emanam do povo e em nome dele deveria ser exercido.

E lembrei-me de Maria do Ingá, aquela retirante das perdidas vidas dos sertões nordestinos. Aquela retirante que mais dava o que falar e em levas pelos caminhos distantes, na solidão de todas as perdas, o esmagamento do peso do destino dos desamparados, sem solidariedade, desprezados como um bago de laranja chupado na beira da estrada.

Como aqueles ombros caídos, a cabeça baixa, o rosto carregado do amargo adeus entrando em ônibus empoeirados, com o assento impregnado de antigos suores. E pelos solavancos da estrada seguiam dias sem fim, pouco para comer, horas na piçarra da estrada deserta enquanto a mecânica da condução se consertava.

Longas estiradas pelos lugares postados na paisagem imensa e deserta. Assim como a navegação sem fim doutras vagas de gente em busca da sobrevivência, no contra fluxo do Amazonas, tomando afluentes do Juruá e debulhados nas margens desertas e vizinhas das seringueiras.

Maria do Ingá, como todos aqueles que subiram nos ônibus da Varzealegrense em destino das terras roxas do Paraná. Derrubar as florestas. Plantar café. Tornarem-se adereços nos criadouros de dinastias.

Esta sequência de pai para filho, sem consciência alguma dos braços suados, respirando o ar como se a vida fosse uma dádiva divina. Como se tudo já estivesse escrito e tudo que lhes sucede é mero merecimento da ordem maior.

Do retrato severo do patriarca até a caçula da dinastia, há uma arrogância sobre o destino dos demais. Uma arrogância que nunca ensinou ninguém a pescar. Ao contrário sonegou-lhes o peixe da fé e da existência, deu-lhe uma única vara de açoite, plantar e colher café.

E Maringá, esta terra de dinastias, sabe que tudo veio de uma canção de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano. Maria do Ingá se encontra em teu nome enquanto postas vitupérios contra os que lá ficaram. Os que continuam no Nordeste.


Continuam sabendo daqueles apartamentos luxuosos da Aldeota que batem panelas contra o prato de comida dos pobres. Que, de tão culpados, possuem um exército de pistoleiros a proteger os filhos dos assaltantes que infestam toda a cidade.  

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