Na
perspectiva de que possam influenciar decisivamente na hora do voto,
entra ano e sai ano são recorrentes as reclamações contra a
divulgação de pesquisas às vésperas da eleição. Se verdadeira
ou não tal tese, contestá-la de verdade (judicialmente) parece que
ainda não tentaram. Tanto que até agora ninguém conseguia obstar
que os institutos patrocinadores (regiamente pagos) as divulguem a
seu bel prazer.
Analisando-as
(as pesquisas) racionalmente, o que se constata é que, embora às
vezes apareçam divergências gritantes na totalidade dos números
apurados pelos diversos institutos, uma variável permanece
intocável e permanente em todas elas, a servir de poderoso handicap
na hora da cobrança da fatura a quem as paga: uma tal “margem de
erro” (para mais ou para menos), calculada dentro de uma certa
“elasticidade” (percentual).
Na
verdade, trata-se de um artifício estatístico que pode ser usado
para, no caso específico de eleições, preventivamente “acomodar”
os números apurados em relação àqueles que emergirão das urnas;
ou, em português mais claro, uma conveniente “manobra numérica”,
ancorada nessa tal “elasticidade” (percentual), de sorte que os
números finais da eleição findem “batendo” com os vendidos a
quem paga. Em assim sendo, quanto maior o número de eleitores,
maior a “elasticidade” percentual usada, objetivando que não
surjam surpresas desagradáveis, a posteriori. O “padrão”,
recorrentemente usado para os embates políticos, é de magnânimos
e generosos 3,0%, para baixo ou para cima (ou 6,0% entre os dois
extremos, ao final).
no
Ibope (52,0 x 48,0), o candidato 01 largaria com 52,0%, que poderiam
transformar-se em 55,0% para cima ou 49,0% para baixo; já o
candidato 02 largaria com 48,0%, que poderiam transformar-se em
51,0% para cima ou 45,0% para baixo; e como aqui, em algum ponto da
curva se encontrariam, teríamos o tal “empate técnico” (ou
eleição não decidida, necessitando segundo turno);
no
Data Folha (56,0 x 44,0), o candidato 01 largaria com 56,0%, que
poderiam transformar-se em 59,0% para cima ou 53,0% para baixo; já
o candidato 02 largaria com 44,0%, que poderiam transformar-se em
47,0% para cima ou 41,0% para baixo; aqui, não haveria chance de
“empate técnico” e o candidato 01 poderia ser sagrado
antecipadamente (não necessitando segundo turno).
Para
alguns, o alargamento de uma presumível margem de acerto,
propiciada pela ampliação do percentual da “elasticidade”,
poderia ser considerada “esperteza” dos pesquisadores, já que
lhes garantiria uma margem de segurança confortável. Assim, como
em termos percentuais o resultado final da eleição de Fortaleza
foi de 53,57% para o candidato 01 e 46,43% para o candidato 02,
graças à generosa “elasticidade” de 3,0% de margem de erro o
Ibope acertou para o candidato 01 dentro da margem para cima, e
também no candidato 02, na margem para baixo; já o Data Folha
inversamente acertou na margem de erro para baixo do candidato 01 e
na margem para cima do candidato 02.
Há
que se destacar que numa eleição com um universo eleitoral de
1.692.657 (como o foi a de Fortaleza) a tal margem de erro (para
cima ou para baixo), representa uma “folga” em torno de 101.556
votantes (50.778 para cima e 50.778 para baixo). E como a “vantagem”
do candidato 01 para o candidato 02 foi de exatos 90.396 votos,
constata-se que situou-se dentro da tal “margem de erro”,
propiciada pelo ampliado índice de “elasticidade” usado.
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