sábado, 1 de setembro de 2018

DEZ ANOS: SEM LENÇO E SEM DOCUMENTOS - José Nilton Mariano Saraiva

DEZ ANOS: SEM LENÇO E SEM DOCUMENTOS – José Nilton Mariano Saraiva

O dia: 18/06/2008 (portanto, pouco mais de dez anos atrás). A hora: 11:00 da manhã. O local: sede do Departamento da Polícia Federal, Bairro de Fátima, Fortaleza-Ceará.

Miseravelmente só (já que a Associação dos Aposentados do BNB, na hora "h", tirara o “braço da seringa”, negando-nos a competente assistência jurídica e, portanto, deixando-nos na mais completa orfandade), sem lenço e sem documentos e “tremendo mais do que vara verde”, ali nos encontrávamos, a fim de atender à lacônica e fria Intimação recebida dias antes, a fim de “prestar esclarecimentos de interesse da Justiça”.

Na pequena e desconfortável sala, que mal cabia os dois “birôs”, um computador, um arquivo e a cadeira do “visitante”, os dois delegados da Polícia Federal nos receberam e cumprimentaram, burocrática e formalmente.

De início, um deles indagou-nos se sabíamos por qual razão ali estávamos. Ante nossa ignorância (já que na Intimação não constavam detalhes), sacou da gaveta o livro de nossa autoria “BNB-A Verdade Nua e Crua (Sobre a Era Byron Queiroz)", que havíamos publicado três anos antes (em 2005) e arrematou, convicto; “Para esclarecer e confirmar as graves acusações aqui contidas”.

Quem fizera a denúncia e entregara o livro ??? Silêncio sepulcral.

E então... começou o “bombardeio” (que durou cerca de duas horas). Experientes, preparados, passados na casca-do-alho, possuidores da refinada técnica de extrair do “convidado” aquilo a que se propõem, os dois não demonstraram seguir um roteiro pré-determinado: abriam o livro, aleatoriamente, em uma página qualquer, e indagavam sobre o ali posto. Vez por outra, refaziam uma pergunta feita lá atrás, na tentativa sutil de encontrar alguma contradição, algum escorregão, uma falha sequer; e tome perguntas, questionamentos, pedidos de esclarecimentos. Uma coisa de louco.

Como, ao receber a “Intimação”, houvéramos imaginado o que lá trataríamos (só podia ser sobre aquilo), reuníramos todos os documentos citados no livro e, assim, a cada indagação, disponibilizávamos, tecendo um breve comentário, a peça correspondente. E o melhor: a “tremedeira” passara, sumira, se fora, escafedera-se, e, repentinamente, uma aura de segurança e total tranquilidade se apossara do nosso ser.

O certo é que, ao final daquele calvário (para nós), depois de receberem e garantirem que anexariam ao processo o “caminhão” de documentos que lhes entregamos (mais de 200 páginas), a agradável surpresa: “Senhor José Nilton – confidenciou um deles – parabéns pelo pleno exercício da cidadania”; ao que o segundo, complementou: “Se todos agissem assim, esse nosso país seria bem diferente”.

O sol do meio da tarde brilhava forte e abrasador, quando de lá saímos, famintos, mas tranquilos, leve, em paz com a vida e com a nossa consciência. Resolvemos, então, elaborar uma espécie de “mini-relatório”, a respeito, que encaminhamos a alguns poucos colegas do BNB. E aí, nos dias seguintes, sem que fosse essa a nossa intenção, a “coisa”, tal qual um rastilho de pólvora, se espalhou, multiplicou-se e até em uma reunião da Diretoria do BNB o assunto foi ventilado. Colegas de agências do Banco, por todo o Nordeste, chegaram a solicitar da AABNB que, através do seu jornal mensal, mostrasse a “fuça” (rosto) daquele “doido” (o que foi feito, a posteriori).

Inacreditavelmente, no entanto, alguns colegas aposentados do Banco, aqui e alhures, sentiram-se ofuscados, visivelmente incomodados, incompreensivelmente contrariados, constrangidos até e, a partir de então, cortaram relações, passaram a nos denegrir, a lançarem insinuações malévolas a nosso respeito, à tentativa de nos desqualificar (mesmo em ocasiões em que o assunto não tivesse nada a ver).

Isso tem nome ??? Tem, sim !!! Qual ??? O cardápio é variado e cada um pode escolher o que achar conveniente e apropriado. Da nossa parte, uma certeza: vamos continuar a cobrar, fuçar, questionar, a, enfim, exercer nossa cidadania. Na plenitude. Contundentemente.

Post Scriptum:

01) Quando lançamos o livro (3.500 exemplares), unidades foram encaminhadas, pela Associação dos Aposentados do BNB (que, depois, como vimos, “tirou o braço da seringa”), ao Presidente da República, alguns Ministros de Estado, Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Desembargadores de Tribunais, Governador do Ceará, Prefeita de Fortaleza, Vereadores da capital e Diretores e Superintendentes do BNB. Se leram, ou não, são outros quinhentos. Fizemos a nossa parte.

02) Byron Queiroz e demais integrantes da quadrilha, após ação impetrada pelo Ministério Público (que fora acionado pela AABNB), foram condenados, pela Justiça Federal do Ceará, a 14 anos de prisão, devolução do valor subtraído, suspensão dos direitos políticos por 8 anos, indisponibilidade dos bens e tal. Recorreram ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Recife-PE, e foram inocentados, por unanimidade (é vero, senhores, podem acreditar; afinal, o “padim” do homem era o todo poderoso tucano Tasso Jereissati).

03) Posteriormente (em 02.09.09), nova condenação da mesma Justiça Federal do Ceará. Com a mesma pena e as mesmas supressões de direitos. Nova apelação ao mesmo Tribunal Federal (Recife) e a repetência do veredito (inocentados, por unanimidade), o que nos leva à velha conclusão: para o Judiciário brasileiro, cadeia foi feita pra pretos, pobres e putas.

04) O “rombo” que Byron Queiroz deixou no BNB foi de “insignificantes” R$ 7,5 bilhões (isso mesmo, com “B”, de bola).

05) Como a refrega com os aposentados do BNB foi intensa e desgastante (até mesmo para um marginal), Byron Queiroz faleceu pouco depois em razão de uma copiosa e letal hemorragia digestiva (para azar do Lúcifer, que com ele passou a conviver a partir de então).






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