domingo, 3 de fevereiro de 2019

WINNER (Dr. Demóstenes Ribeiro)



          Quando eu era criança, em meio a tantas histórias, vovô acariciando os meus cabelos, falava repetidamente: Comandante, eu perdi a guerra civil espanhola, mas você será um vencedor. Voluntário contra o fascismo, ao lado de Apolônio de Carvalho e outros heróis, ele jamais aceitou a vitória de Franco.
          No entanto, contrariando o seu desejo, não estudei no Colégio Militar. Aluno medíocre em escolas particulares, nunca me afeiçoei aos livros. Gostava mesmo era de nadar, surfar e jogar futebol. Inventaram de eu ser franciscano e foi um fracasso. Frei Anselmo me viu com uma revista “Play Boy” e, fui expulso. Vovó chorou muito, mas eu só pensava em mulher. Não tinha a menor vocação.
          Aí, fora do convento, conheci a maconha e as baladas. Minha mãe pensou que um intercâmbio me colocaria nos eixos e me mandou pro Canadá. Porém, nada é tão ruim que não possa piorar. Lá eu só me diverti e não aprendi nada. Trouxe um diploma de conclusão do ensino médio e apenas um inglês razoável. Veio o vestibular e nenhuma profissão me fascinava. Cocaína, ecstay e LSD eram a minha felicidade. Pra ganhar um automóvel, entrei numa faculdade qualquer.
          Carro novo e boa mesada. Roupas de grife e heavy metal. Festas rave, o maior barato. O dia dormindo e a noite por aí. Passei a vender, além de consumir. Vieram as dívidas e as ameaças de morte. A minha mãe se desesperou, saldou os débitos e me internou numa clínica. No final, ela faliu, caiu na mão de agiota e estourou o cheque especial.
          Escapei da clínica e continuo numa boa. Não tomo remédio nem gosto de psicólogo. Vez por outra me entristeço quando encontro alguém da pré-escola. Hoje são médicos, advogados, engenheiros e eu nessa vida de merda. Perdi a faculdade. Como outros colegas, fui reprovado por faltas.
          Mas, com humildade, devagarzinho e, em memória do meu avô, eu vou me recuperar. As coisas estão melhorando. Um amigo meu, que é dançarino, bolou uma grande jogada. Ele me apresentou a umas velhotas como “personal trainer” domiciliar. Sou bonito, sarado, bom de papo e elas se encantaram comigo.
          Por uma boa grana, ensino qualquer exercício e topo qualquer parada. Às vezes, me aborreço, é claro. Outro dia, uma masoquista siliconada berrava para eu lhe apertar mais e mais: quase a matei e por pouco não estourei a sua prótese.
          Hoje, sou quase exclusivo da viúva de um desembargador. Ela pesa uns cento e trinta quilos, mas paga bem e me chama de Neném. Na última vez, chegando à sua cobertura, estava bem embriagada. Deixou o uísque na minha mão e disse que já voltava. Logo as luzes se apagaram, ficou somente um abajur lilás.
          Completamente nua e dando uma de soprano, Lola sacudiu as banhas cantando “Babalu” e me beijou desesperada.  Numa das mãos balançava a chave de um carro e dizia imperativa: vem Neném, vai descendo, bota essa língua bem dentro de mim, bem dentro mesmo, o mais fundo que você puder.
          Tomei um uísque triplo e fui descendo. Uns peitos enormes, ela girou e tinha a bunda fria, mas a boceta fumegava. Fechei os olhos, tapei o nariz e mandei bala.
          Está enojado? “I’m not a  loser!”: moro na Beira Mar e foi assim que ganhei esse “Corolla.”


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