Quando eu era
criança, em meio a tantas histórias, vovô acariciando os meus cabelos, falava
repetidamente: Comandante, eu perdi a guerra civil espanhola, mas você será um
vencedor. Voluntário contra o fascismo, ao lado de Apolônio de Carvalho e
outros heróis, ele jamais aceitou a vitória de Franco.
No entanto,
contrariando o seu desejo, não estudei no Colégio Militar. Aluno medíocre em
escolas particulares, nunca me afeiçoei aos livros. Gostava mesmo era de nadar,
surfar e jogar futebol. Inventaram de eu ser franciscano e foi um fracasso.
Frei Anselmo me viu com uma revista “Play
Boy” e, fui expulso. Vovó chorou muito, mas eu só pensava em mulher. Não
tinha a menor vocação.
Aí, fora do
convento, conheci a maconha e as baladas. Minha mãe pensou que um intercâmbio
me colocaria nos eixos e me mandou pro Canadá. Porém, nada é tão ruim que não
possa piorar. Lá eu só me diverti e não aprendi nada. Trouxe um diploma de
conclusão do ensino médio e apenas um inglês razoável. Veio o vestibular e
nenhuma profissão me fascinava. Cocaína, ecstay e LSD eram a minha felicidade.
Pra ganhar um automóvel, entrei numa faculdade qualquer.
Carro novo e
boa mesada. Roupas de grife e heavy metal. Festas rave, o maior barato. O dia
dormindo e a noite por aí. Passei a vender, além de consumir. Vieram as dívidas
e as ameaças de morte. A minha mãe se desesperou, saldou os débitos e me
internou numa clínica. No final, ela faliu, caiu na mão de agiota e estourou o
cheque especial.
Escapei da
clínica e continuo numa boa. Não tomo remédio nem gosto de psicólogo. Vez por
outra me entristeço quando encontro alguém da pré-escola. Hoje são médicos,
advogados, engenheiros e eu nessa vida de merda. Perdi a faculdade. Como outros
colegas, fui reprovado por faltas.
Mas, com
humildade, devagarzinho e, em memória do meu avô, eu vou me recuperar. As
coisas estão melhorando. Um amigo meu, que é dançarino, bolou uma grande
jogada. Ele me apresentou a umas velhotas como “personal trainer” domiciliar. Sou bonito, sarado, bom de papo e
elas se encantaram comigo.
Por uma boa
grana, ensino qualquer exercício e topo qualquer parada. Às vezes, me aborreço,
é claro. Outro dia, uma masoquista siliconada berrava para eu lhe apertar mais
e mais: quase a matei e por pouco não estourei a sua prótese.
Hoje, sou
quase exclusivo da viúva de um desembargador. Ela pesa uns cento e trinta
quilos, mas paga bem e me chama de Neném. Na última vez, chegando à sua
cobertura, estava bem embriagada. Deixou o uísque na minha mão e disse que já
voltava. Logo as luzes se apagaram, ficou somente um abajur lilás.
Completamente nua e dando uma de soprano,
Lola sacudiu as banhas cantando “Babalu” e
me beijou desesperada. Numa das mãos
balançava a chave de um carro e dizia imperativa: vem Neném, vai descendo, bota
essa língua bem dentro de mim, bem dentro mesmo, o mais fundo que você puder.
Tomei um
uísque triplo e fui descendo. Uns peitos enormes, ela girou e tinha a bunda
fria, mas a boceta fumegava. Fechei os olhos, tapei o nariz e mandei bala.
Está enojado?
“I’m not a loser!”:
moro na Beira Mar e foi assim que ganhei esse “Corolla.”
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