sexta-feira, 26 de abril de 2024

A Guerreira Feliz


 

 

J. Flávio Vieira

 

                            “Os heróis são famosos,

                        mas os santos são anônimos”

                                    Russel Shedd

 

                        O heroísmo tem, em geral, uma conotação bélica, uma maneira de incensar soldados que fizeram feitos tidos como inéditos nos campos de batalha. Alguém já disse que nas guerras não existem heróis, apenas sobreviventes.  Talvez se tente, com a criação de um mito, justificar a tragédia que joga milhares de jovens a matarem-se entre si,  por ideais sombrios e desumanos.

                   Lembrei-me , imediatamente, dessa constatação, quando, neste 20 de abril, caiu uma guerreira ,de uma causa mais nobre, em um outro campo de batalha. Chamava-se Expedita Maria de Jesus, mas , por esse nome, seria impossível identificá-la.  Ficou marcada na história da saúde do Cariri, por um outro epíteto: Edite. Um apelido, de origem no inglês arcaico, que lhe caiu como uma luva e significa “Guerreira Feliz”. Quase uma premonição !  Nascida em Potengi, em 01/06/1926, ela veio trabalhar  , por volta de 1950, no Hospital São Francisco de Assis de Crato, o pioneiro da região, administrado pelas Irmãs de Caridade e sob a batuta do Mons. Francisco de Assis Feitosa e depois do Mons. Rocha, Raimundo Augusto e Padre Teodósio. Ali, forjada pelo conhecimento prático, pelo cuidado e pela formação religiosa, Edite se tornou  Enfermeira, numa época em que ainda não tinham chegado as primeiras com formação universitária. De personalidade forte, especializou-se em Centro Cirúrgico, convivendo com alguns cirurgiões pioneiros da nossa região: Gesteira, Antonio Macário, Joaquim Fernandes Teles, Maurício Teles, Eberth Teles, Décio Cartaxo, Fábio Esmeraldo, José Ulisses Peixoto. Rápido se tornou uma referência na formação de novas atendentes de Centro Cirúrgico. Disciplinada, sistemática, profissional ao extremo e autoritária, quando necessário, formou gerações de trabalhadores de Centro Cirúrgico. Percebia-se, com facilidade, aqueles que tinham passado por seu crivo e pelo seu ensino. Além do profundo e minucioso conhecimento da sua área, de extrema responsabilidade, Edite somava a tudo isso uma imensa visão humanitária. Solidária, caridosa, cuidadora nata,  ela sabia que o toque de Midas da sua atividade se encontrava justamente ali. Trabalhou, incessantemente, por mais de setenta anos, no mesmo hospital. Retirou-se recentemente, já nonagenária, mas em plena vitalidade física e mental. Conviveu, de perto, com outras luminares enfermeiras do seu tempo como Bernadete Gonçalves e Salvina Lucena. Ela me dizia que lembrava de meus pais ainda noivos visitando, no São Francisco, um irmão de minha mãe, em leito de morte. Trabalhou com um tio avô meu, Joaquim Pinheiro Filho, primeiro diretor do hospital,  comigo e com meus filhos, médicos. Varou pelo menos quatro gerações.

                   Quase centenária, nos deixou nestes dias. Visitei-a neste último momento, estava lúcida, esperançosa e loquaz.  Impossível entristecer, hoje,  diante de uma vida tão plena. Que mais precisaria Edite desejar da vida ! A transcendência tornou-se apenas um mero detalhe na sua trajetória.  Longeva, produtiva, solidária, amiga, formadora de vocações. Um desses heróis verdadeiros, daqueles que se banham em laivos de santidade. Viúva, não deixou filhos biológicos. Mas espalhou uma infinidade de rebentos adotivos por esse mundo afora: alunos, colegas, pacientes cuidados e salvos por suas mãos. Merecia um monumento na nossa Faculdade de Medicina ou no pátio do Hospital São Francisco. Com a partida dela inuma-se um fragmento importante da história da Medicina em terras caririenses, aquela em que cuidar, amar, amparar, solidarizar-se, ser empático, sentir o sofrimento do outro como seu,  eram parte indissociáveis do Tratamento e da Cura. Esse , talvez, seja a maior herança que ela deixa para os profissionais de saúde que saem à mancheias das faculdades atuais, muito mais bacharéis em saúde do que artistas da arte médica.  

Crato, 26/04/24

 CUIDADO... OS “XERIFES DO MUNDO” ESTÃO CHEGANDO - José Nilton Mariano Saraiva 

Comprovada e irremediavelmente falidos em termos econômicos, enfrentando um avassalador, descomunal e corrosivo processo de decadência, inclusive moral e ética, mesmo assim a nação americana (EE.UU.) se nos apresenta (ainda) como uma das maiores potências do mundo em termos técnico, científico e poderio bélico.


Como, no entanto, a “fonte” que sustentava tudo isso - suas reservas petrolíferas - rapidamente se exaurem em função da “farra” e mau uso durante décadas (seu consumo interno sempre se manteve nas alturas, resultando infrutíferas todas as tentativas de diminuí-lo) bem como ainda não se consolidaram quaisquer outras fontes alternativo-substitutas, no médio prazo, há, sim, a possibilidade iminente de um “stop” da atividade produtiva do próprio país, dentro de certa brevidade.


Portanto, pra que se mantenha a máquina em funcionamento há o imperioso desafio de “ENCONTRAR, EXTRAIR OU TOMAR DE CONTA” de reservas petrolíferas onde houver petróleo abundante e em excesso (por exemplo, além mares e preferencialmente no Oriente Médio).


Para a consecução de tal desiderato, uma das mais eficientes armas utilizadas até aqui tem sido a distorção de informações, propagadas por uma mídia amestrada, dócil e supostamente paga, espalhada pelo mundo, que tem papel preponderante na fixação do uso de certos métodos heterodoxos de “convencimento”, objetivando sejam atropelados ou aniquilados aqueles que se lhes postarem à frente, ou, até mesmo, os que ousem contestá-los ou confrontá-los (desde quando, por exemplo, os americanos respeitam esses tais fóruns coletivos internacionais tipo a OTAN, ONU, G-8 e tal, quando resolvem que têm de intervir mundo afora ???).


Assim, nada mais conveniente e apropriado (pra eles, americanos),  o papel de “XERIFES DO MUNDO”, defensores da raça humana, protetores dos desvalidos, última reserva moral do planeta, solução para todos os males dos terráqueos, mesmo que a sua inescrupulosa e belicista prática diária se contraponha a tal teoria; necessário, para tanto, a provocação e manutenção indefinida de um “conflitozinho” básico com um país periférico qualquer (contanto que abarrotado de petróleo) a fim de que, quando a coisa apertar mais e se tornar necessário (como agora, com o Irã e outros países do Golfo Pérsico), possam desestabilizá-los, descredenciá-los, jogá-los às feras, pô-los contra o resto do mundo e, alfim, invadi-los e tomar de conta das suas portentosas reservas minerais.


Afinal, quem não lembra do ocorrido no Iraque (lá mesmo, vizinho ao Irã), quando os "gringos", sob o fajuto e inconsistente argumento da existência de letais armas químicas com potencial de destruir a própria humanidade (que, desde o começo desconfiava-se, e posteriormente comprovou-se tratar-se de uma deslavada mentira) acionaram sua mortífera e poderosa força bélica, ao custo de bilhões de dólares e milhares de vida humana) com o objetivo único e exclusivo de apoderar-se das portentosas reservas petrolíferas iraquianas, como realmente aconteceu ???

 

Para tanto, não tiveram nenhum escrúpulo de antecipadamente “anunciar”, para posteriormente executar a “caça, julgamento e assassinato” em tempo recorde (na forca e com transmissão ao vivo e a cores para todo o planeta), do presidente Saddam Hussein (ou alguém tem dúvida que aquilo ali foi um verdadeiro assassinato, mesmo se sabendo tratar-se de um ditadozinho de quinta categoria) ??? Aquilo foi ou não uma “interferência indevida” em assuntos internos de uma nação independente ???


E a próxima vítima da “imperial” determinação americana deverá ser a nossa vizinha e sofrida Venezuela, dona de uma das maiores jazidas petrolíferas do mundo (segunda do mundo), daí a midiática e avassaladora satanização da dupla Chávez (lá atrás) e Maduro (agora), sem dúvida ditadores perigosos, de par com a suspeita e providencial instalação de bases militares na Colômbia, sob o falso argumento de combate aos narcotraficantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).


É imprescindível, pois, que os “sul-americanos” nos cuidemos (o Brasil, em particular), que tomemos nossas precauções, nos mantenhamos de olhos abertos, preparemo-nos pra botar a boca no trombone, porque, quando o nosso pré-sal estiver em sua capacidade plena, quando nos tornarmos exportadores do “OURO NEGRO”, eles já estarão por aqui, na vizinhança, à espreita, esperando pra dá o bote mortal (a propósito, lembram da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, que lhe foi entregue de mão beijada por FHC, e onde os brasileiros estão proibidos até de entrar ???).


Ou alguém tem alguma dúvida de que o deslocamento da 4ª frota naval americana para “exercícios” no “Atlântico-Sul” não guarda um objetivo muito bem definido, tal qual acontece com os navios “yankes” ancorados nas cercanias do Irã ??? Por qual razão não se metem com a Rússia, que se acha assentada e também “nada de braçadas” num mar de petróleo ??? Será que o arsenal nuclear russo os assusta tanto ???


Fica, pois, o alerta: cuidado, muito cuidado, os “XERIFES DO MUNDO” estão chegando (e não se trata de nenhuma invasão alienígena).

terça-feira, 23 de abril de 2024

 BONITINHA, MAS... ORDINÁRIA – José Nílton Mariano Saraiva 

Vinte e três anos atrás, precisamente em 11.09.2001, dia em que as tais “torres gêmeas” despencaram tal qual um castelo de areia, atingidas que foram por dois portentosos "aviões americanos" pilotados por "terroristas árabes", também o “Pentágono” (edifício sede que centraliza todo o alto comando das forças armadas americanas) foi seriamente atingido por uma terceira aeronave. Já um outro avião (o quarto, ou o voo 93) que houvera decolado com atraso e mudado de rota inexplicavelmente, dirigindo-se a Washington D.C. (presumivelmente para ser arremessado contra a Casa Branca ou mesmo o Capitólio, a sede do Congresso Nacional), de repente sumiu dos radares. 

É que, ao constatarem tratar-se de uma ação terrorista orquestrada, e após infrutíferas tentativas de comunicação objetivando fazê-lo pousar no aeroporto mais próximo, o alto comando militar americano decidiu por bombardeá-lo em pleno ar, independentemente de se achar repleto de indefesos civis americanos.

A pífia (e inverossímil) justificativa posterior (pra limpar a barra dos militares e do próprio governo) foi a de que, alertados via celular pelos familiares sobre o que estaria acontecendo, os “patrióticos” passageiros rebelaram-se ao pressentir que o voo 93 seria jogado contra a Casa Branca (sede do governo) e, num ato de indômita bravura e heroísmo e de total desprendimento, decidiram-se pelo “suicídio coletivo”, derrubando-o, após luta corpo-a-corpo com os meliantes.

A versão oficial - BONITINHA, MAS... ORDINÁRIA, - caiu por terra quando se constatou que na imensa cratera (e adjacências) onde teria caído o avião, não havia qualquer vestígio (ou restos) da sua fuselagem (numa prova inconteste de que fora abatido e “pulverizado” em pleno voo e, aí sim, os detritos – se sobrou algo - se espalharam por quilômetros). 

Fato é que, sem maiores questionamentos, a versão oficial foi aceita sem delongas, os passageiros viraram “heróis fúnebres” nacionais e até um filme foi “autorizado” (United Voo 93) na tentativa de perpetuar na memória o patriotismo daqueles bravos americanos.

Posteriormente, a “bombástica” notícia de que, após dez anos de caçada implacável, finalmente uma “tropa de elite” de militares americanos, com a autorização do Governo, conseguira matar o saudita Osama Bin Laden, tido e havido como o idealizador, mentor e responsável pelo estrago feito lá atrás. 

Pronto, a vingança houvera sido concretizada. A festa foi de “arromba”, varou a noite, e o então presidente americano, Barack Obama, em queda vertiginosa nas pesquisas para as eleições do ano seguinte, não só iria colher os dividendos da ação, como virou herói nacional e garantiu mais quatro anos na Casa Branca.

O que há de estranho nessa história toda (tal qual a fantasiosa “queda” do avião que empreendia o voo 93 e o desaparecimento dos seus “restos”), é a repentina magnanimidade do governo americano, que após abater seu inimigo público número um, em um outro país (e sem que o governo paquistanês houvesse autorizado a ação), resolve dispensar-lhe toda a cerimônia ritualística de um sepultamento muçulmano (lavando-o e envolvendo-o num lençol branco e por aí vai), ao cabo do qual... lança-o ao mar arábico, em local não divulgado, num recipiente hermeticamente vedado e repleto de peso, a fim que não houvesse chance de emergir e, mais importante, sem que ninguém (a não ser eles, os americanos) tenha tido a oportunidade de ver e conferir o cadáver (para dá um ar mais verossímil à “coisa”, foi providenciado e divulgado um “exame de DNA”, que teria sido comparado ao de uma irmã do indigitado).

Agora, aqui só pra nós: em razão do “estrago” e mesmo a “desmoralização” impingida aos orgulhosos americanos pelo Osama Bin Laden (ao invadir a América, destruir seu patrimônio e matar milhares de americanos), não teria sido mais convincente que os “valentes” soldados americanos (mais de vinte se envolveram na ação de caça ao Osama Bin Laden , segundo relatos), o tivessem prendido, transportado ao continente americano e o exposto publicamente para todo o mundo, levando-o a julgamento, posteriormente (como fizeram com o Saddam Hussein, lá no Iraque, que fez muito menos) já que reconhecidamente o inimigo público número um da América ?? A repercussão não teria sido muito maior ??? 

E se a ordem era matá-lo, eliminá-lo, pulverizá-lo, dar-lhe um fim o mais rapidamente possível, porque não mostrar pelo menos o corpo, a posteriori, para que todos nós, mortais comuns de todo o planeta, pudéssemos “conferir” ??? Afinal, mesmo fotografias (se posteriormente forem disponibilizadas, como se especula) hão de gerar dúvidas, já que com os recursos hoje disponíveis no campo da informática torna-se perfeitamente possível “forjar” com perfeição o que antes se nos apresentaria impossível.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

 “ÓRFÃO DE UM PAI VIVO” - José Nílton Mariano Saraiva 

Um recém-nascido, terminantemente rejeitado pelo próprio (e aristocrático) pai,  a ponto de não poder ostentar seu sobrenome; uma mulher, mãe solteira, profissionalmente realizada, porém atormentada e solitária, pagando um alto preço (o exílio), por ter-se aventurado numa relação proibida; um homem, já maduro, casado, e academicamente reconhecido, mas que, em função de conveniências políticas e, também, para salvar o próprio casamento, somente admite o adultério depois de pressionado, embora negue uma paternidade indesejada; uma esposa, traída e infeliz, que embora intelectual bem sucedida, é humilhantemente obrigada a conviver com a sombra de uma “outra”, numa forçada acomodação de interesses.


Relendo “A HISTÓRIA REAL – TRAMA DE UMA SUCESSÃO”, de Gilberto Dimenstein (páginas 152-153), conhecemos, com detalhes, lances da relação extraconjugal entre o então Senador e futuro Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com a jornalista global Mirian Dutra, mãe de Tomás, à época com oito anos de idade, produto de um equívoco e prematuramente ÓRFÃO DE UM PAI VIVO”.


O mais estranho, em tudo isso, foi a hermética blindagem, autêntica conspiração de silêncio, patrocinada pelos Diretores de Redação das principais revistas e jornais nacionais, conhecedores privilegiados da matéria, que sonegaram da população, às vésperas de uma eleição presidencial, tão preciosa informação, sob o débil e inconsistente argumento de NÃO se tratar de um “fato jornalístico”, embora numa outra eleição, por um fato semelhante, tenham enxovalhado com um dos candidatos (Lula da Silva), tornando-se partícipes ativos da mudança então verificada no rumo da história.


História, aliás, testemunha e reveladora do “caráter” (ou a falta de) de duas personalidades antagônicas: de um lado, um homem simples, humilde, pouco letrado, mas sensível e presente ao assumir o produto de uma relação adúltera, agregando-lhe o sobrenome; de outro, um homem nascido em berço-de-ouro, herdeiro de família tradicional, detentor de títulos e honrarias mil, mas insensível e incapaz de admitir e reconhecer o filho gerado, condenando-o a carregar apenas o sobrenome materno; e, ainda por cima, desrespeitando acintosamente a ex-companheira, ao insinuá-la uma mulher de múltiplos e vários homens, porquanto mãe de um filho de pai desconhecido (já que dele não era).


Questiona-se: podem, Diretores de Redação, ao bel-prazer, indefinidamente sustar a publicação de uma matéria de interesse coletivo, por “sugestão” de políticos influentes, como foi feito na ocasião ??? O que se constitui em um “fato jornalístico”, digno de ser levado ou não ao conhecimento público ??? Onde a ética jornalística, ditada por manuais e normas inflexíveis, pode determinar seja ele (o fato jornalístico), imputado aleatoriamente para situações idênticas??? Até quando a liberação de verbas publicitárias por parte de um Governo determinará o escamotear a verdade, sob o pueril e inconsistente argumento de “falta de provas” ???

 

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Post Scriptum:


Texto de nossa lavra, elaborado em 21.04.2000 (exatamente, sem tirar nem pôr, 24 anos atrás). Fato é que, posteriormente, depois de ser eleito e exercer a Presidência da República em duas oportunidades (de 1995 a 2002) e após o falecimento da esposa (Ruth), só então – ufa !!! - FHC resolveu enfim reconhecer oficialmente Tomaz, agregando-lhe o sobrenome e destinando-lhe a “mesada” respectiva.


Questão de “caráter”... ou a falta de ???

sábado, 6 de abril de 2024

 

A “PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR” – José Nílton Mariano Saraiva   

 

Preparar-se antecipadamente, focando principalmente os aspectos psicológico (ocupação do ocioso tempo disponível) e financeiro (capacidade de atendimento às novas demandas), sob pena de não o fazendo, à frente colher frustrações e desenganos mil, eis aí a tarefa prioritária dos que rompem as amarras do vínculo empregatício e se aposentam após anos e anos de labuta diária, almejando, a partir de então, compreensivelmente, o “aproveitar a vida” com intensidade, qualidade e sem pressa.


Há, no entanto, alguns óbices a serem vencidos: 1) em razão do “teto-limite” estabelecido pelo Governo Federal (INSS) para o “benefício previdenciário” jamais equiparar-se à remuneração percebida por aqueles que têm uma renda um pouco mais expressiva que o salário mínimo, corre-se o risco de “sobrar dias ao final do mês” (ou seja, faltar grana pra pagar as contas); 2) como o índice de reajuste desse mesmo “benefício previdenciário” já se nos apresenta defasado há bastante tempo, não guardando consonância com os índices de reajuste dos preços dos produtos em geral, torna-se evidente que a remuneração do aposentado brasileiro experimenta dia-a-dia um corrosivo desgaste ou achatamento, via diminuição do seu poder de compra; e,  3) por consequência, fica ele impossibilitado de levar uma velhice serena, tranquila e sem problemas, como mereceria (e aqui, os maldosos e gozadores sociólogos de plantão se aproveitam para, num misto de ironia e sarcasmo, cunhar a expressão “melhor idade”, ao se referirem ao período pós laborativo - a aposentadoria).


Pois é exatamente nesse estágio que se destaca, por fazer a diferença em favor dos que dela fazem uso, a tal “PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR” (gerenciada pelos chamados Fundos de Pensão) que tem por objetivo a fundação de reservas para benefícios futuros e (como o próprio nome sugere) possibilita um necessário “complemento da renda” aos seus usuários (para se ter uma ideia da defasagem, normalmente o “benefício complementar” é maior que o “benefício previdenciário”).


A questão é tão importante, que o próprio Governo Federal trata de propagar e estimular a adesão aos Fundos de Pensão (principalmente nas empresas estatais), tendo em vista a sua pujança e capacidade de indução na formação de uma sólida poupança, assegurando um grande volume de recursos internos (a custos baixos e de longo prazo), adequados ao financiamento de obras estruturantes pelo setor público; isso aquece a economia, estimulando a geração de emprego e renda (só pra exemplificar, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, é hoje um dos principais parceiros do Governo Federal em obras de grande vulto).


Só que, apesar de tal estímulo governamental, no Brasil como um todo os números poderiam ser bem mais alentadores, tendo em vista que a
 previdência complementar fechada brasileira é composta por 277 entidades e o total do patrimônio administrado ultrapassa a R$ 1,19 trilhão, correspondendo a razoáveis 12,0% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

 

Se, entretanto, compararmos tais números aos de outros países, vamos perceber que ainda engatinhamos no manuseio e uso efetivo de tão importante ferramenta econômica, a saber: na Holanda o montante atingido representa 110% do PIB e em países como o EUA, França, Inglaterra, Espanha, Canadá e Japão o volume desses recursos chega a 60% dos PIBs respectivos.


No entanto, como o rincão é promissor e de retorno garantido para quem nele investir, a esperança é que as campanhas educativas sobre, surtam o efeito desejado, possibilitando uma maior adesão dos empregados vinculados às empresas particulares a essa nova realidade, de forma que a PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR cumpra com os seus dois nobres objetivos sociais: 01) complemente o ganho dos que se aposentam, possibilitando-lhes uma melhora na qualidade de vida; e, 02)  atue como forte indutor do processo desenvolvimentista do país, aliando-se ao governo no atendimento aos grandes projetos geradores de emprego e renda.

 


segunda-feira, 1 de abril de 2024

RELEMBRANDO UM “PEQUENO GRANDE GESTO" (da série, recordar é viver) - José Nilton Mariano Saraiva

 

E de repente, de uma área não muita afeita a manifestações da espécie, porquanto povoada por “machões sarados”, aparentemente embrutecidos, e ainda por cima praticantes de um esporte onde o contato físico forte e ríspido é uma constante, uma atitude inusitada, um laivo de ternura e afeto, um “PEQUENO GRANDE GESTO”, que parece ter passado despercebido pela maioria dos que o vivenciaram, ao vivo ou via telinha (pelo menos não se ouviu ou se leu nada, a respeito).

 

Deu-se na frienta noite londrina do dia 28.05.2011, no novo e monumental estádio de Wembley, por ocasião da partida final da Copa dos Campeões da Europa 2010/11, quando se enfrentaram as tradicionais e caras esquadras do Barcelona (Espanha) e Manchester United (Inglaterra), dois dos maiores expoentes do mundo futebolístico da atualidade. Final: Barcelona 3 x 1 Manchester United.


Aos fatos.


Quase ao final do aguardado confronto, que mobilizou adeptos do futebol em todo o mundo (aos 43 minutos do segundo tempo) com o jogo já definido e o título assegurado em favor do excepcional Barcelona (3 x 1), o técnico Guardiola (ex-jogador do próprio clube), numa atitude de grandeza e desprendimento, resolve prestar uma justa homenagem ao seu correto “capitão”, o aguerrido zagueiro PUYOL, que, lesionado, não tivera condição de adentrar ao gramado, de início; então, faltando dois minutos para o término da pugna, convoca-o a substituir um companheiro, com o claro intuito de, naquele momento maior, no ápice daquela gloriosa jornada, braçadeira de capitão no braço, fazê-lo erguer o troféu de campeão e, consequentemente, aparecer para a posteridade nas TVs de todo o mundo, ao vivo e a cores, e na primeira página dos principais jornais do mundo, dia seguinte.


Providenciada a substituição, daí a pouco o juiz determina o término da partida. E foi então, no momento da premiação, ante um batalhão de fotógrafos e centenas de canais de televisão de todo o mundo, que deu-se o inusitado, aquilo que denominamos um “PEQUENO GRANDE GESTO”,  pelo espontaneidade e nobreza do ato: o guerreiro PUYOL, evidentemente que fugindo do script armado pelo técnico Guardiola, mostra toda a sua humildade e excelência de caráter ao abdicar de tamanha honraria ao delegar ao discreto companheiro ABIDAL (lateral esquerdo), o privilégio de erguer o troféu, como se fora o verdadeiro “capitão” da equipe catalã.


Explica-se: meses atrás, ABIDAL fora desenganado pelos médicos, em razão da descoberta de uma grave e normalmente letal enfermidade (“câncer” no fígado) e fora afastado sumariamente das atividades esportivas; agora, após um tratamento pra lá de penoso, ali, ante um estádio ocupado por 80 mil pessoas e com a partida sendo transmitida pra bilhões de telespectadores em todo o mundo, além da confiança do técnico Guardiola em escalá-lo e mantê-lo durante toda a partida, PUYOL, o “capitão” de todos eles, que entrara ao final do jogo unicamente pra “exercitar o que lhe conferia a patente”, humilde e simbolicamente transferia pra ele, ABIDAL, o privilégio de erguer o troféu de campeão.


Uma cena de cortar corações e levar qualquer um às lágrimas (embora alguns teimem em afirmar que “homem que é homem não chora”). Pois, acreditem, não resistimos à cena e “abrimos o berreiro” (e prestamos esse depoimento, sem nenhum constrangimento).