segunda-feira, 7 de abril de 2008

Algemas douradas

Emerson Monteiro

Um tema que insiste retornar à preocupação das horas, por conta da monstruosidade que representa e das dificuldades que acarreta, são as drogas. Sobretudo pessoas jovens caem nas malhas do vício e nem a sapiente ciência moderna consegue demovê-las, convencê-las de largar a isca envenenada, que mata pouco a pouco, destruidora de sonhos e animal feroz que tudo devora. Lado a lado com vários outros entraves da organização social, tal facilidade circula sorrateira nos antros comerciais da clandestinidade, invade lares, destrói famílias, suga a seiva da juventude, sem que quase ninguém ainda descubra alternativas ideais e solucione o drama.

De par com isso, o quadro representa apenas a continuação do espírito mercantilista da civilização contemporânea. Brincar de dominador e chegar ao poder pela porta dos fundos agrada aos invasores. De modo frio, cínico, os mercadores negros justificam, no lucro a qualquer custo, a fome de avançar, independente do preço cobrado de quem sofre, ganância de canibais esfomeados. Coletar ganhos e levar a melhor, saciar desejos, sobreviver e juntar patrimônio pessoal; cifra, cifras, cifrões.

Nenhum sentimento de remorso parece acordar a consciência dos tais predadores de semelhantes, principais vítimas das unhas afiadas e do apetite indomável que nutre o paladar doentio dos senhores da conquista.

Adquirir riqueza através de jogos de azar, exploração da prostituição, da indústria e do comércio das armas e da guerra, no desespero de ruas assustadas, na insegurança fruto do desemprego e da miséria, poluição e destruição irracional dos recursos da natureza, eis a prática dos gigantes financeiros que cozinham gerações sucessivas, de gafo e faca em punhos, diante dos balcões alucinados das metrópoles indiferentes.

Quadros dantescos servem de cenário ao turno artificial da civilização do momento. Fumaça, acrílicos, sirenes, burburinho de cidades monótonas, cálculos estruturais, pistas asfálticas, antenas, vídeos, câmeras ocultas, vazios, sinais avermelhados, tédio e solidão.

Pessoas aflitas, com isso detonam a máquina do cérebro, no uso de drogas concentradas, sob o pretexto frouxo do prazer e da falta de saída. Nada justifica, no entanto, o desespero e a providência suicida, que só representam deserção e covardia. Jamais fugir; lutar sempre e resolver. A nenhuma porta chega quem se perder no caminho. Em tudo, haverá os dois lados de ver a vida, seus arredores e situações. Dos seres animais, os humanos detêm, na própria face, a luz da certeza.

Enquanto perguntas vagam pelo ar, o comboio vence obstáculos, guiado na esperança da cura desta civilização em que fermentam sonhos reais de futuro próspero. Mesmo que horizontes pareçam distantes, meios existem que os aproximam e indicam respostas positivas.

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