quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Fernando Lyra: PMDB se tornou capitanias hereditárias

Dizia o velho político Manoel de Castro que "depois de morto todo mundo pega no chifre do boi"...Foi só o senador Jarbas Vasconcelos mostrar a corrupção nos altos escalões do PMDB para meio mundo tirar as críticas do armário. Agora chegou a vez do ex-ministro e ex-deputado Fernando Lyra
Lyra: PMDB se tornou capitanias hereditárias
Marcela Rocha
Especial para Terra Magazine

Personagem histórico da redemocratização brasileira, Fernando Lyra, ex-ministro da justiça, fala com Terra Magazine e aponta equívocos estruturais do PMDB. Partido que herdou legado de luta contra a ditadura, hoje se arrasta sem programa político próprio para as eleições presidenciais de 2010 e pleiteia cargos junto ao governo.
O estopim da discussão foi dado pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) em entrevista à revista Veja. Outro parlamentar descontente com o partido é o deputado Pedro Simon (PMDB-RS). Em entrevista a Terra Magazine, nesta segunda-feira, 16, declarou que o "PMDB não pode dar pra quem paga mais".
A manifestação do partido foi entregar à imprensa uma nota justificando a falta de um posicionamento: "Trata-se de um desabafo ao qual a Executiva Nacional do Partido não dará maior relevo".
Para Fernando Lyra, que entre tantos outros feitos foi candidato a vice-presidente da República na chapa de Leonel Brizola, a ausência de uma resposta coesa do partido não vem porque ele "se transformou em capitanias hereditárias", sintetiza sua "tese".
- Não se ignora uma acusação dessas, numa hora dessas, principalmente vinda uma pessoa forte como Jarbas. (...) Se ele (Jarbas Vasconcelos) fala que o PMDB é corrupto, falou do partido e é este que deve responder. O partido não teve uma atuação afinada quanto às acusações de Jarbas. O partido deveria responder como um partido.
Mas sua descrença de unidade partidária não para no PMDB. Lyra afirma que no Brasil "nunca houve partido político". Isto se deve à personalização política durante o exílio e à falta de programação e unidade político-partidária. "A ditadura decretou o fim dos partidos e eles acabaram mesmo", conclui.
Veja abaixo a entrevista com o Fernando Lyra:

- Ainda acredita no PMDB enquanto um partido com políticas próprias?
Fernando Lyra - Nunca acreditei. Nem no início dele. Mas participei porque eu tinha um projeto de combate à ditadura. A partir daí, não mais.
- O senhor concorda com as críticas do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE)?
Fernando Lyra - O Jarbas, sempre ético e combativo, foi um militante do MDB, eu em 1965 e ele em 1969-1970. Depois, o PMDB se transformou em capitanias hereditárias. Ou seja, em cada estado/capitania tem uma liderança que não tem nada a ver com outra, nem com a do próprio estado.

- Acredita que não responder ao senador Jarbas seja uma maneira de isolá-lo?
Fernando Lyra - Pelo o que eu sinto da entrevista dele e reações que vi e li, muita gente gostaria de dizer o mesmo, mas não teve condições de fazê-lo. Por que as reações foram completamente estranhas às acusações. Também porque falta conteúdo para combater a denúncia de Jarbas. Não se ignora uma acusação dessas, numa hora dessas, principalmente vinda uma pessoa forte como Jarbas. O PMDB elegeu a direção do Congresso Nacional e não sentimos uma reação conjunta contra as acusações do Jarbas. Se ele fala que o PMDB é corrupto, falou do partido e é este que deve responder. O partido não teve uma atuação afinada quanto às acusações de Jarbas. O partido deveria responder como um partido.
-A falta de "afino", como o senhor fala, é reflexo da ausência de um programa político do partido? Fernando Lyra - Tenho uma tese de que no Brasil nunca houve partido político. Também não tenho esperança de que haja. Acompanhei toda a história de democratização do País. Quando estive na Europa encontrei com o Partido Socialista Português, com o Comunista também. Ambos no exílio. O Brasil só tinha figuras políticas exiladas e não partidos que se exilavam e se preparam para a democratização. A Ditadura decretou o fim dos partidos e eles acabaram mesmo. O Brasil ainda é de capitanias hereditárias. Nem o PT que era a esperança de ser um partido conseguiu ser-lo.
- Acredita que é positivo levar ao público este tipo de debate?
Fernando Lyra - Sim, é positivo porque assim desnuda uma coisa vivida há muito tempo. Não tem como ouvir o PMDB. É um partido que não tem uma opinião conjunta.
- Ainda acredita no PMDB enquanto um partido com políticas próprias?
Fernando Lyra - Nunca acreditei. Nem no início dele. Mas participei porque eu tinha um projeto de combate à ditadura. A partir daí, não mais.

- Qual a sua visão sobre as eleições de 2010? E sobre o posicionamento do PMDB?
Fernando Lyra - Pelo que tenho visto, o PMDB estará com quem ganhar.

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