domingo, 24 de maio de 2009

tinta

Peruca loura despenteada
atriz-careca, ninguém sabe
ao sol, o couro liso, a parabólica,
o céu encostado no côco seco
a nuca bronzeada

conversinha fiada creme de cabelo
penteia letras deitada à sombra
de privilégios a tarde vadia
o tempo de sobra

o segredo dos calvos dentro do chapéu
os pratos lavados, o sofá merecido
a ladainha das novelas, câncer maldito
chumaços de cabelos nas mãos das atrizes
quanto mais emotivos, mais mansos os infelizes
miseráveis, o espírito desse tempo os mantém dóceis
só quem pode vira a mesa, ele sabe

contra a sub-cultura de mercado
a fóssil cultura literária
a modernização da palavra não basta
o sentido cosmético da estética ambiental
e a linguagem internauta autodidata
a sorte está lançada!
ligar a tv, pra viver
o celular, pra viver
gravar em 3D o fim do poema
e esquecer num blog qualquer

3 comentários:

  1. Salve, Marta. Que coisa mais crua doida e bonita.
    Abraços !

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  2. Marta como César, atravessa o Rubicão? Ainda não. Este poema é o poema das duas pernas em realidades diferentes. Aquela da tinta e esta que esquece um poema num blog qualquer. Quando se pretende algo da cultura, é isso que buscamos, por vezes trilhamos a mesma trilha de nós mesmos, mas sempre haverá alguém que percebe o movimento geral das coisas. O movimento geral das coisas como agora, quando "mais emotivos, mais mansos os infelizes". Por isso o diálogo é necessários e publicidade das coisas, num blog qualquer, também o é. Por mais doloroso que isso possa ser, para quem escreve ou quem ler.

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  3. Gente, muito obrigada.

    Mil beijos.

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