O artigo de Marcos Leonel sobre o show de Caetano Veloso em Juazeiro do Norte, muito bem escrito, por sinal, aguçou os ânimos dos leitores deste Blog. O ponto que mais gerou contestação foi uma suposta vaia que Caetano teria levado por conta do desconhecido repertório do espetáculo, quase todo calcado no seu último disco Zii e Zie (tio e tia em italiano). A platéia queria que ele cantasse os sucessos mais conhecidos, como Leãozinho, Sozinho, Sampa e Força Estranha. Caetano, que sempre prezou pela sua faceta de polemista, ignorou os pedidos do provinciano público e, por isso, foi vaiado pela parte ignara da plebe. Fiz lá uns comentários que podem ser interpretados como preconceituosos ou, no mínimo, desrespeitosos. Disse, por exemplo, que Caetano deveria era já ter se aposentado. Fui voz dissonante e minoritária. Em desagravo a Caetano, disseram que o público, ou parte dele, estaria lobotomizado pela força letal da praga do forró eletrônico. Pode até ser. Disseram, também, que o Cariri, de modo geral, não estava à altura de um espetáculo diferenciado pelo alto nível da musicalidade de Caetano Veloso. Pode ser isso, também. Mas, com certeza, essa não foi a primeira e nem será a última vaia sobre Caetano. Lembram daquele festival onde Caetano, acompanhado pelos Mutantes, com a música É Proibido Proibir, foi vaiado do começo ao fim da sua apresentação? Naquela ocasião, Caetano deu um esparro monumental nos público vaiador (“se vocês entendessem de política como entendem de estética, estaríamos perdidos”). Mas, controvérsias à parte, a questão da vaia sempre gera polêmica.
Na Grécia homérica (séculos XII a IX a.C.), o exercício do poder político era monopólio da nobreza fundiária. Ao povo só restava aplaudir ou vaiar. Não é muito diferente de hoje, não, quando o povo, vez por outra, manifesta seu descontentamento vaiando e até espinafrando seus representantes políticos. Sebastião Nery, no seu livro Folclore Político 4 (Editora Record, 1982), conta o seguinte episódio:
“(...) no dia 1º de maio do Rio, na quadra de samba do Salgueiro, o deputado Miro Teixeira encheu vários ônibus da Baixada Fluminense com gente de Caxias, Nova Iguaçu e Nilópolis, para aplaudi-lo, quando fosse falar. Pegou no microfone, começaram as palmas programadas.
“De repente, de dentro da multidão, uma vaia poderosa levantou-se como ventania. E foi crescendo, crescendo, incontornável, apesar dos esforços para que as palmas fossem ouvidas. Não foi possível. A vaia já não tinha mais dono. Era tudo uma boca só.
“Os ‘palmistas’ adestrados não entenderam nada. Muitos pensaram que era assim mesmo e começaram a vaiar também.
“De repente, os professores e estudantes começaram a gritar:
_ “Devolve o CEP! Devolve o CEP! (O CEP é o Centro Estadual dos Professores, fechado por Chagas Freitas na última greve.)
“Os eleitores de Miro ficaram confusos e passaram a gritar:
_”Devolve o quepe! Devolve o quepe!
Não tinha quepe a devolver”.
Pois é. Na vaia nada é muito lógico. Vaia-se com razão. Vaia-se sem motivo. Vaia-se por protesto. Vaia-se por pura anarquia. Vaia-se por descontentamento. Vaia-se por vaiar.
Carlos.
ResponderExcluirHá poucos dias Juazeiro fez festa para Jose Dirceu. Quem festeja Jose Dirceu não sabe aplaudir Caetano.
Pois é, Morais,além de tudo, o Cariri contribuiu para a eleição do "homem da cueca" e no próximo pleito dobrará esse apoio, visto que o PT está no comando da maior cidade da região, além de Barbalha e Mauriti.
ResponderExcluirOu, então, o Mensalão não existiu ou carregar cem mil doláres na cueca é coisa normal.
Morais e Carlos: nem Juazeiro ou Mauriti ou Barbalha podem, genericamente, ser tomadas por um único espírito. Faço este reparo no meio da gozação de vocês para que, também, a postagem não recaia como preconceito a Juazeiro. Afinal uma coisa é a intolerância num ambiente artístico que ocorre em qualquer lugar, inclusive quem não lembra da grande, gravada, filmada e repetida vaia sobre Caetano, num teatro da televisão do Sul Maravilha (e não é apenas porque Juazeiro fica ao sul do território cearense) pela música É Proibido Proibir. Aliás uma frase da revolução de maio de 68 na França.
ResponderExcluirNão gosto de vaias. Acho que é coisa da massa que não pensa. Além do mais, a vaia é contagiante. E eu não gosto de ir na onda da moda
ResponderExcluirA massa que vaia é a mesma que aplaude. Nos “anos de chumbo” o presidente da república (assim com minúscula mesmo), general Médici foi aplaudido no Maracanã. Na abertura dos jogos do Pan, o “Cara” foi vaiado. No mesmo Maracanã. Não tenho um grama de simpatia pelo “Cara”, mas ele não merecia ser vaiado naquele momento. Justo ele que viabilizou o Pan e fez a reforma do Maracanã.
Não tenho certeza, mas acho que a vaia é coisa dos povos latinos, principalmente os que habitam os trópicos. Não consigo imaginar um alemão, um sueco ou um norueguês vaiando.
Já o Rio de Janeiro é a capital mundial da vaia. Ali se vaia por qualquer motivo. Basta um magote começar que a vaia se alastra.
Querem um exemplo?
Na madrugada de 29 de setembro de 1968, uma vaia de dez minutos foi dirigida, em pleno Maracanãzinho, contra dois dos maiores expoentes de nossa música popular: Tom Jobim e Chico Buarque. Mais do que o desfecho infeliz de um evento artístico – o III Festival Internacional da Canção, fase nacional, promovido pela TV Globo –, o inesperado e contundente repúdio de 20 mil pessoas àqueles que eram “papas” MPB.
Vaiar Tom Jobim e Chico Buarque?
Aplaudir um Zé Dirceu em pleno Memorial Padre Cícero?
São coisas que não entendo...
Prezado José do Vale,
ResponderExcluirQuero que fique claro que não estou de gozação com Juazeiro, Barbalha ou Mauriti pelo fato desses município estarem hoje sob governos petistas. Nem estou de gozação nenhuma, por motivo qualquer que seja.
O momento não é pra gozação.
Sabemos como foi a articulação feita para eleger o prefeito de Juazeiro. Se foram manobras ou estratégias, não compete a mim dizer nada a respeito. Nem emitir juizo de valor nem antecipar julgamento.
Vamos aguardar.
Só acho que não é comum, normal e muito menos legal transportar cem mil doláres na cueca. Nem acho que o mensalão é uma invenção da imprensa golpista para desestabilizar o governo do "Cara".
Gosto muito de Caetano Veloso, não fui ao evento por motivos profissionais mas com certeza quem foi achou o repertório inadequado para tantas músicas excelentes que fazem parte da história de vida de muitas pessoas que foram prestigiá-lo.Vale acrescentar ao A. Morais que nem todos os juazeirenses aplaudem José Dirceu nem muito menos vaiam Caetano.
ResponderExcluirPrezado(a) anônimo(a),
ResponderExcluirNão resta a mínima dúvida quanto a grandeza dessa terra emblemática, maravilhosa e íntegra que é Juazeiro do Norte, santuário de romaria e de pessoas laboriosas e de bem. Os caetanos e zé dirceus da vida são mais uns dos inúmeros transeuntes...