sexta-feira, 7 de agosto de 2009

As sarnas de Sarney

Quando você flagrar Sarney se coçando pelos cantos do senado e rosnando acuado, não veja apenas um ladrão que ladra. As sarnas de Sarney são nossas, criadas em cativeiro, seqüestradas à luz do dia pela nossa falsa retidão de caráter. Enquanto a repulsa da sociedade senta em um respeitável banco de igreja, numa missa de domingo, respaldada pela mais imaculada fé, os seus votos em retrospecto denunciam o burlesco da sua maior farsa. O maior canalha não é aquele que nega veementemente uma verdade absoluta, é aquele que se vende a si próprio, com a segurança doentia de quem comete o crime perfeito. A baba estóica que escorre naquele canil, enquanto a matilha se metralha, é a mesma que escorre no canto da boca de muitos insofismáveis chefes de família que trepam com a empregada no porão, enquanto a prole inocente dorme no andar de cima, bem próximos do céu. Eles são fortes, eles são poderosos, eles são astutos, eles são ricos, eles são caridosamente desonestos o tanto que são impiedosamente cafajestes, porque são os nossos desejos duplicados, são os nossos segredos degradados. E não adianta eu ampliar a exatidão na separação do joio do trigo, pois o meu silêncio corcunda, irá diabolicamente deflagrar a cápsula que espalhará os acovardados miolos da idoneidade social, nas paredes sórdidas do suicídio coletivo. A bem poucos metros de nós uma gargalhada ressoa em desdobramentos. A dúvida que paira entre os notáveis é se ela é minha ou se ela é sua.

21 comentários:

  1. Do Caralho! Pense num tapa de luva de cacto bem dado.

    Parabéns querido, sua lucidez impressiona, um grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. A explicitude da mediocridade foi bem exposta. O mistério está na dificuldade da separação: joio do trigo, ou trigo do joio...ou será uma questão pose ou "é tudo pose".

    Abraço, grande literato.

    ResponderExcluir
  3. Marcos,

    Não entendi direito o "objetivo" de sua indignação.

    1. É uma peça jurídica em defesa de Sarney;

    2. É uma peça jurídica de acusação a nós, que rezamos ou trepamos com a empregada no porão?

    3. Ou é um tratado filosófico cifrado e indecifrável aos cidadãos comuns que trabalham, mas deixam de pagar o fiado da bodega da esquina ou que traem o sagrado matrimônio e, que por isso , devem ser culpados pelo esquemão tramado nos gabinetes do poder?

    Sinceramente, Marcos, não entendi toda essa sua metáfora (ou entendi?).

    Esclareça-me, please!

    ResponderExcluir
  4. Pois é, Aristides,

    ainda existem aqueles que se acham isentos dessa palhaçada.

    abraços

    ResponderExcluir
  5. Diga aí, Calazans,

    você sabe exatamente do que eu estou falando, alma sebosa tem em todo canto, o nosso maior mal é permitir que elas tomem de conta do poder.

    Então, vem quando com a parafernália para a gravina!?

    abraços

    ResponderExcluir
  6. Diga aí, poeta,

    vamos por partes:

    -Sarney é um ladrão que ladra, acuado por outros ladrões que querem tomar a oportunidade de roubar bem mais. Todos eles foram eleitos por outros ladrões passivos, em estado de latência.

    - peça jurídica não pode conter metáforas. Mas elas também não estão isentas dos ladrões ladram.

    - a filosofia nunca foi feita para o cidadão comum. Os propósitos dele sempre foram comer, beber, cagar, mijar e trepar, quando der certo. Tomar todas e depois sondar os mistérios da ressaca pode ser um atributo mais complexo, mas não de todo descartado.

    - repito, não existem metáforas: a chave para se compreender a razão da longevidade dessa esculhambação generalizada e histórica na representatividade pública está no meio de nós, que questionamos, emitimos opiniões e dividimos as nossas atitudes uma parte no lado claro da lua, que são as publicáveis, e outra parte no lado escuro da lua, que são as impublicáveis. Sendo que o dragão continua ao encargo de São Jorge.
    Agora, sim, eis uma metáfora.

    abraços

    ResponderExcluir
  7. É isso aí, Marcos Vinícius.
    Colocou as coisas no lugar.

    Parabéns.

    ResponderExcluir
  8. Grande Marcos,

    É isso aí ! o Sarney é a apenas a nossa imagem refletida no espelho. Aí pegamos todos e ficamos esculhambando com o cara que tá lá na imagem: horroroso, crápula, nojento, fedorento, corrupto! Adianta põr a culpa no espelho? - Espelho, espelho meu...

    ResponderExcluir
  9. Pois é, Darlan,

    Não sei se você compartilha com uma outra premissa defendida por Hobsbawh, que a própria concepção de política praticada após os dois grandes conflitos, no mundo todo, está falida, sendo as tentações do patrimônio público e as consequentes manobras de manutenção ou tomada do poder, as principais causas.

    abraços

    ResponderExcluir
  10. Diga aí, Zé Flávio, escritor arretado,

    acho que a saída pra se quebrar esse espelho é a vida pública não ser tão atrativa. Talvez com o trabalhado de servidoria pública nas esferas políticas, sendo apenas voluntário, como em alguns países mais desenvolvidos, como a Finlândia, por exemplo.

    abraços

    ResponderExcluir
  11. Sou burro, mesmo

    Não entendi patavinas.

    ResponderExcluir
  12. Marcos Vinícius,

    Aí eu não sei não. Só trabalho voluntário vai permitir que só quem seja rico possa participar.
    Ou será que o Tasso tá lá pelo salário de senador?

    Acho que não.

    E o patrimonialismo impera. Usam e abusam das instituições públicas.
    Se acham "capitalistas" com o patrimônio público.

    Aí fica fácil, usar o que é de todos para benefício particular, sem riscos ao bolso.

    ResponderExcluir
  13. Darlan,

    Realmente isso fica difícil no Brasil.

    ResponderExcluir
  14. Rafa,

    Você é inteligente, tente que você consegue.

    ResponderExcluir
  15. Marcos
    A explicação de Hobsbawm para o que move os políticos é muito interessante. A sugestão de diminuir as benesses do poder também.

    ResponderExcluir
  16. Sinceramente,

    Não entendo.

    Não consigo.

    Com todo respeito que tenho a você, Marcos, velho parceiro de rock'n'roll e bandas e baladas...

    Não lhe entendo neste presente momento.

    Estamos falando dialetos diferentes?

    ResponderExcluir
  17. Grande Maurício,

    Hobsbawm é muito massa, em suas conferências reunidas: "Globalização, democracia e terrorismo", ele aprofunda a sua visão através do desmascaramento do conceito de democracia, o maior mito contemporâneo.

    abraços

    ResponderExcluir
  18. Pois é, Poeta, creio que sim!

    Mas não deixarei em hipótese nenhuma de respeitar o seu ponto de vista.

    abraços

    ResponderExcluir
  19. Ah, agora entendi.

    É isso aí, Marcão. ~

    E viva a liberdade de expressão, só possível mesmo nos regimes democráticos.

    Bom domingo!

    ResponderExcluir